A LINGUA DE PALMO E MEIO

A LINGUA DE PALMO E MEIO

Naquele arraial não havia rádios, jornais ou qualquer outro meio de informação, mas havia coisa muito melhor pois lá existia Constança Magra, e ela era a melhor fonte de informação que já se viu; Constança era a mais magra das criaturas, parecia um palito falante, e como falava, ela andava o dia todo e um bom pedaço da noite, em suas andanças ela ouvia e via tudo o que acontecia e depois saia de casa em casa contando as novidades; alguns moradores do lugar se divertiam com a língua comprida da magrela, mas outros não achavam graça nenhuma naqueles falatórios.

O tempo passava tudo continuava igual e Constança Magra se dando bem, pois a troco das noticias ela recebia almoços e jantares da donas de casa entediadas; mas nesse mundo tudo muda de repente e para a Magra as coisas mudaram e mudaram para pior, foi assim: enquanto ela espalhou noticias de casamentos, nascimentos e velórios tudo correu bem, mas quando o assunto mudou a vaca foi pra o brejo, porque ela passou a comentar casos de maridos traidores e esposas traídas, ai o desagrado foi geral.

Os homens do lugarejo passaram a hostilizar Constança e tentaram proibir sua presença em suas casas, mas suas esposas a defendiam porque queriam saber das novidades; começou então uma verdadeira guerra domestica pró e contra a linguaruda, as coisas se agravaram de tal maneira que o vigário da paróquia foi chamado para resolver o problema, o bom e

paciente vigário falou com os maridos e esposas que prometeram se acalmar, por ultimo aconselhou Constança Magra a conter a língua e parar de interferir na vida das pessoas.

O padre foi surpreendido com a resposta da Magra, que foi assim: sô padre eu sou a única pessoa de bem desse lugar porque só falo a verdade, as vezes eu aumento, mas inventar eu não invento, presto um serviço de utilidade publica porque os maridos safados se acomodam com medo da minha língua, as esposas ficam felizes com seus homens quietos em casa, Para completar sô vigário, eu sou uma benção; o padre achou uma certa lógica na explicação da mulher, e resolveu deixar o mundo com seu Deus, e deixou em boas mãos, porque só Ele para acabar com a encrenca.

No inverno seguinte, Constança Magra apanhou um resfriado que

a deixou afônica, como ela continuou forçando as cordas vocais em seus falatórios, o problema foi se agravando e ela acabou se calando de vez, com a mudez de Constança Magra a paz voltou a reinar naquele pequeno arraial; só o poder de Deus para calar aquela incorrigível fofoqueira, Aleluia.

Maria aparecida Felicori{Vó Fia}

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Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 19/09/2008
Código do texto: T1186729
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