ANGÚ DE CAROÇO

ANGÚ DE CAROÇO

Em Vila de São João, o povo cultivava o habito de dar um valente chega-pra-lá em forasteiros desavisados, que chegavam cantando de galo e com três trancos e dois solavancos descobriam que não eram nem ao menos frangos; em uma dessas ocasiões, a vitima da fúria popular foi um jovem soldado do destacamento de policia local, que recém chegado ao vilarejo , não sabia ainda de que lado batia o sino.

Aconteceu que um motorista de caminhão, encostou seu fordeco em frente ao único bar da vila para tomar um café, mas o fez com tamanho azar que entrou em um buraco cheio de água suja, espirrando boa quantidade dela na farda nova do vaidoso soldadinho que por ali passava; o soldado ofendido abriu a porta da cabine do caminhão arrastou o assustado motorista para fora e passou a agredi-lo com socos e ponta pés.

As pessoas que se encontravam no barzinho, tomaram as dores pelo motorista e partiram para cima do soldado e aconteceu o costumeiro massacre, o praça levou a maior surra da historia daquela turbulenta vila e quando o parco restante do destacamento apareceu para socorrer o colega, a rua estava deserta, só havia umas cinco pessoas que socorriam o amassado policial, com as caras mais serias desse mundo, dizendo palavras de conforto.

Pareciam mesmo desaprovar tamanha falta de respeito; o delegado Zurico abriu inquérito para apurar responsabilidades, ai aconteceu o incrível, ninguém sabia de nada e por mais que o pobre delegado se esforçasse , não conseguiu uma testemunha siquer; ninguém batera no soldado Zé Moreno, toda a população da vilazinha estava em casa aquela hora e podia provar; a autoridade já estava francamente desesperada, quando apareceu um voluntário para depor sobre o ocorrido.

A testemunha era nada menos que o Zico Turuna, o maior gozador da região e começou o depoimento, o delegado pediu a prestimosa testemunha que descrevesse o fato com suas próprias palavras, e Zico contou assim: Seu delegado, eu estava na porte do bar do Zuca, quando o angu começou, o homem do caminhão jogou a água, o soldado jogou o fubá e o angu foi mexendo.

E entra esse e aquele outro e o angu engrossando e empurra o praça e engrossa o angu e chega beltrano e entra sicrano e mexe o angu e vira o angu e o policia apanhando e o angu foi mexendo e o pau foi quebrando e o angu esquentando; ai o delegado não agüentou mais e berrou: Seu Zico Turuna e esse angu não foi comido? Zico se levantou da cadeira, deu um volteio e completou: Seu delegado, se não fico esperto comiam até eu.

Foi ai que o senhor delegado encerrou o inquérito, o soldado todo quebrado foi transferido para outro lugar e o assunto não mais foi mencionado; a paz voltou a reinar em vila de São João, até um próximo arranca rabo com algum forasteiro desavisado.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 19/09/2008
Código do texto: T1186950
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