ZÉ ALEGRIA

ZÉ ALEGRIA

Seu nome no registro civil era José Cosme Dos Santos, mas nem ele próprio se lembrava disso porque sempre fora chamado de Zé Alegria, ele era uma figura tão conhecida em Vila dos Anjos que parecia fazer parte da paisagem; ninguém se lembrava de onde ele viera, e não se sabia onde estava sua família ou se existia uma, simplesmente ele estava lá morando de favor em um quartinho nos fundos da casa do Brechó.

Sua figura era estranha porque era baixo mais para gordo, cabeça redonda com pouco cabelo e o queixo caído parecendo a barbela de um peru: seu problema maior eram as pernas pois ele sofria de elefantíase, dos joelhos para baixo suas pernas eram enormes, grossas e cascudas formando dobras e mais dobras como é normal nesse tipo de doença.

Com tudo isso e mais a extrema pobreza Zé só tinha motivos para chorar, mas ao contrario ele ria, ria o tempo todo feliz da vida; ele quase não andava ficava a maior parte do tempo assentado em um caixote na porta de seu quarto pedindo esmolas as pessoas que passavam, sempre rindo e sempre alegre, daí veio seu segundo batismo e se tornou para sempre Zé Alegria.

Sua alma inocente desconhecia a maldade e o medo, ele confiava em tudo e em todos por isso sempre aconteciam curiosas historias com ele, como essa que vou contar: a casinha de Brechó tinha três cômodos: o quarto dele, o do Zé e uma pequena cozinha, para as necessidades fisiológicas dos dois havia ali pertinho um capão de mato fechado que servia muito bem de banheiro.

Noca a nora de Brechó, ia lá uma vez por semana limpar a casa e lavar as poucas roupas dos dois, mas em uma dessas idas o Zé disse que ia ficar deitado por causa do frio e ela não conseguiu limpar o quartinho, outra vez ele fora com Brechó esmolar pela zona rural e assim um mês se passou sem Noca conseguir entrar no quartinho.

Certo dia Zé estava assentado em seu caixote fora do quarto quando Noca chegou, apesar de seus protestos ela entrou e começou a pegar as roupas sujas espalhadas pelo chão, quando ela se abaixou para olhar debaixo da cama quase morreu de susto, uma enorme cobra cascavel estava lá, se enroscava e tocava seu chocalho furiosamente.

Noca saiu correndo gritando por quanto santo havia no céu, um lavrador que passava matou a cobra com um golpe de sua enxada enquanto uma vizinha socorria a mulher com um pouco de água com açúcar; Zé Alegria no entanto assistia a confusão rindo e torcendo as mãos como era seu costume.

Quando alguém perguntou a ele se não vira a perigosa visitante entrar, ele surpreendeu a todos com a seguinte resposta: ela morava comigo a mais de um méis coitadinha, tocava sua musquinha pra eu dormir e agora oceis mataro ela e eu tô sozinho de novo e ria e ria, mas todos entenderam que ele queria era chorar pela sua amiga, mas isso ele não sabia fazer; ficou a lição: atrás de cada inocente fica um Anjo da Guarda e o mal não prevalece.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

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Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 20/09/2008
Código do texto: T1187959
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