BRIGA BRAVA

BRIGA BRAVA

Meu amigo Paulo era pessoa de respeito, era alegre e feliz e sabia tornar felizes as pessoas a sua volta e o principal era um homem bom e justo; quase nunca se zangava, mas quando acontecia era para valer e praticava atos impensados que na maior parte das vezes se tornavam muito engraçados; de suas explosões de violência, a mais divertida foi sua briga com seu velho jipe excedente da segunda guerra mundial, e que vou contar aqui e agora.

O coitado do jipe era uma peça de museu com mais de trinta anos de serviços prestados, ainda rodando valentemente pelas estradas poeirentas e esburacadas que levavam da cidade para a fazenda de nosso amigo Paulo; se aquele jipe fosse um cavalo, seria o pobre Rocinante do esquálido e mal arranjado dom Quixote, pois era feio, sujo, enferrujado e como o falado Rocinante ir ele ia , mas nem sempre chegava,

Vivia encrencando e irritando profundamente seu proprietário, vezes sem conta Paulo saiu montado e chegou a pé danado de raiva e quando isso acontecia ele esbravejava e ameaçava: Qualquer hora dessas eu mato esse jipe desgraçado, ai se lembrava que jipe não morre e corrigia: matar não dá, mas acabo com ele de algum jeito; esse briga de condutor e condução ia se agravando a medida que o tempo passava e o jipe virava sucata.

Desistir de seu meio de transporte Paulo não desistia, trocar por outro ele não queria porque na verdade ele amava aquele seu velho companheiro de viagens, mas como tudo nesse mundo chega ao fim, também chegou a hora final para essa briga; naquela manhã gelada de inverno Paulo acordou atrasado, engoliu um café e já saiu bem irritado, entrou no jipe deu a partida e nada, pelejou, deu gasolina e batalhou e foi ficando cada vez mais zangado.

De repente o velho jipe se resolveu, pegou no tranco e desceu rua abaixo chacoalhando a lataria e foi, mas só até a metade do caminho ai morreu de vez e Paulo enlouqueceu de raiva, olhou para os lados procurando um jeito de matar o coitado e achou: cercando um lado da estrada havia uma cerca de arame farpado que protegia os passantes de uma vala profunda, espécie de depressão no terreno.

Ele empurrou a avariada condução de encontro a cerca, soltou o freio de uma só vez e o velho e guerreiro jipe rolou até o fundo vala, soltando pedaços da lataria pela descida afora; em cima do barranco ficou Paulo sem saber se ria ou chorava, porque na verdade ele nunca se esqueceria do velho companheiro de tantas idas e vindas e assim terminou o velho jipe e a briga de todos os dias.

REQUIEM PACE...

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 20/09/2008
Código do texto: T1188611
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