A FILOSOFIA DE SEU LECO

A FILOSOFIA DE SEU LECO

Dono de poucas e boas terras, Seu Leco era um homem feliz, suas vacas leiteiras eram produtivas, seu touro Competente era cumpridor de seus deveres de macho, pois todos os anos os bezerros nasciam lindos e saudáveis e o rebanho crescia a olhos vistos, animando os pastos e seu dono.

Na lavoura sua boa sorte continuava , era plantar, cuidar e colher com fartura: ele plantava café, arroz, feijão e milho, no tempo certo a terra retribuía com juros, ele e sua família comiam o que queriam e as sobras eram vendidas para suprir a casa daquilo que não produziam.

No pomar e na horta o resultado era o mesmo, frutas e legumes o ano todo, no galinheiro as penosas cumpriam sua missão e os ovos e frangos gordos estavam sempre a disposição da feliz família de Seu Leco, e todos podiam comer a vontade e se sentirem bem.

Dona Antonia a alegre esposa de Seu Leco, era também pontual no cumprimento de seus deveres pois de dois em dois anos ela presenteava ao marido com mais um filho, digo filho porque naquela casa só chegavam meninos, já eram oito a partir dos dezesseis anos e descendo a escadinha já havia promessa de mais.

Todas essas bênçãos enchiam o agricultor de alegria; só tinha uma coisa que o preocupava e era o excesso de dinheiro, isso ele não tolerava; Seu Leco até criou para seu uso a seguinte filosofia: o ser humano carece só do que carece o que passa é sobejo, e para sobejos ele sempre encontrava um jeito.

Como naquela manhã que seu sobrinho Dico apareceu para comprar um bezerro, o bicho foi escolhido e na hora do acerto, Seu Leco perguntou: sobrinho quanto ocê quer pagar no garrote? O rapaz respondeu: acho que vale quatrocentos reais; Seu Leco pensou, coçou a cabeça e se saiu com essa.

Oia aqui sobrinho, valer até que vale, mas eu fiz planos pra trezentos reais, o resto é sobejo e sobejo eu não recebo, pague os trezentos e fica tudo certo, Dico pagou, laçou o bezerro e se mandou feliz com a mania do tio, em todas as situações a filosofia de Seu Leco prevalecia.

Como no dia que ele estava no curral ordenhando as vacas e de repente gritou: Antonia corre cá, a mulher veio depressa atender ao chamado do marido, e ouviu essa: oia eu já enchi seis galões de leite e sobrou um balde cheio, leva e dá pros porcos, a mulher perguntou: pra que dar pros porcos?vende junto com os galões.

Do alto de sua sabedoria Seu Leco se explicou: ocê sabe que nos meus planos só preciso da renda dos seis galões, o resto é sobejo e vai me incomodar; dê logo o leite pros porcos, de todo jeito vira lucro e não confunde minhas idéias; os vizinhos se divertiam com a filosofia de Seu Leco, mas ele se considerava certo e viveu felizes noventa e dois anos, sempre acorrentando suas rendas a seus planos.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 21/09/2008
Código do texto: T1189505
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