AS COSTELAS DO FALECIDO

AS COSTELAS DO FALECIDO

Certa madrugada, Zurico o delegado acordou com o galope de um cavalo e logo em seguida fortes batidas na porta., era um camarada do fazendeiro Vilela , que o mandara chamar as pressas porque haviam encontrado um morto em suas terras, bem na beira do Rio Grande; o delegado acordou o escrivão Isidoro e partiram para lá , depois de horas seguidas no lombo dos cavalos, avistaram o rio e o morto.

Tina sido assassinado há dias, pois o corpo estava todo comido pelos urubus que ainda rodeavam o lugar em bandos e foram espantados a tiros de carabina pelo delegado Zurico, foi possível então lavrar o auto de corpo de delito; o escrivão de estomago fraco não estava gostando nada da macabra tarefa, mas intimidado pela carranca do delegado, agüentou só Deus sabe como até o fim.

Terminado tudo, o morto foi enterrado ali mesmo na barranca do Rio Grande; o fazendeiro convidou as autoridades para almoçar na fazenda, pois o dia ia alto e a fome devia ser grande; durante a viagem até a fazenda, o escrivão Izidoro se esforçava para esquecer a visão horrível do homem descarnado com as costelas a mostra.

Olhava os campos verdes e os ipês floridos, o rio enorme de águas claras, mas nada adiantava, para todos os lados que olhava, ele via as costelas secas e escuras do falecido e cada vez se sentia pior; por fim chegaram a fazenda e dona Ernestina a esposa do fazendeiro, mandou servir o almoço, era um almoço bem sul mineiro, composto de arroz, feijão, angu , couve rasgada e costelas de porco bem tostadinhas.

Isidoro cerrou os olhos, contou até dez, respirou fundo e conseguiu conter a náusea que o invadia; para não fazer feio, serviu-se dos outros pratos , respeitando as costelas, comia calado sem apetite nenhum, só para não fazer desfeita a dona da casa, mas por azar olhou para o lado do delegado e este segurava um enorme pedaço de costela, que comia com gosto, como se tocasse uma gaita, se deliciando.

O pobre escrivão ficou verde, tudo rodou a sua volta e ali mesmo na mesa ele devolveu o pouco que tinha comido, caindo desmaiado em seguida; quando se sentiu melhor, foi severamente repreendido pelo delegado Zurico, que não entendia tanto escândalo e vexame, por causa de umas inofensivas costelas de porco; na verdade estomago forte não é para quem quer e sim para quem pode.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 21/09/2008
Código do texto: T1189714
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