Uma estória de taverna

- Era uma festa, uma grande festa na verdade, em um salão de tamanho que eu não conseguiria lhe dizer. Muitas pessoas, todas entre seus vinte e trinta e cinco anos, de modo que ninguém se mostrava nem tão maduro nem tão jovem. Eram todas pessoas felizes, cada um com um sorriso nos lábios e gargalhadas que saiam de todos os pontos do salão. E eu também me sentia bem, como a muito tempo não me sinto. Cumprimentava a todos que conhecia e não eram poucos, todas as pessoas de minha terra natal, de minhas viagens e daqui, pois vocês também se encontravam presentes. Algo que me chamou muita atenção era que todos os meus amores também se encontravam presentes e eu as cumprimentei, feliz, com aquele sorriso que poucos já viram, abracei e beijei no rosto cada uma delas. E era muito bom, parecia que eu revivia que tinha todas as histórias de amor num só lugar ao meu alcance. Mas... - Fez uma pausa, baixou a cabeça suspirando e em seguida tomou três longos goles de vinho antes de retomar sua história. - Mas isso tudo quer dizer que ela também estava lá, tão bela, feliz, sorrindo e fazendo gestos, como gostava de fazer ao conversar. Foi a primeira a quem vi na festa, foi a primeira a deixar-me beijar-lhe o rosto e por isso, após abraçar a ruiva de cabelos anelados, aquela que você também admirava, lembra? Pois então, após ter me lembrado de meu último amor retornei para perto da única mulher que já me fez diferença.

- Essa mulher que me conta, é ela, a dançarina?

- Sim, ela mesma, mas não fale desta maneira, pois é digna e se gosta de dança isso não a faz ser como qualquer uma.

- Me desculpe, não era dessa forma que gostaria de me expressar, também a conheci e sei que é direita. Mas continue sua história.

- Obrigado. Pois bem, me recebeu junto a ela e seus amigos como recebemos alguém que nos é muito caro, contou-me algumas histórias engraçadas envolvendo-os e que eu me esforçava para rir junto, mesmo achando que não tinha muito a ver comigo e que nem mesmo era muito engraçado. todos achavam divertido e eu somente queria fazer parte. Mas duas estavam presentes em mim: em meu coração todo o amor que ainda sinto por ela e em minha cabeça e questão de se havia, ou não, outra pessoa em sua vida. E a segunda se tornou mais forte e se respondeu quando um jovem apareceu e a levou para fora do salão por um longo tempo, voltando os dois com um sorriso diferente nos lábios. O odiei, senti vontade de estrangulá-lo, mas o que poderia fazer? Se ele era a felicidade dela somente me restava ficar quieto e suportar como um cavalheiro. Nesse momento várias pessoas se dirigiam para outro salão e nós os seguimos. Era um salão de danças, ainda maior do que o em que nos encontrávamos anteriormente, mas não tão bem iluminado, deixando os casais mais soltos para dançarem. Senti-me um inútil naquele momento, pois não sei dar um passo sequer em rítmo e me recusei a olhá-los, ficando a conversar com uma das pessoas que nos acompanhavam. Após toda a dança e de me acostumar com a situação nos chamaram para a refeição que era servida no salão inicial e em grandes mesas. Escolhemos uma ao centro e eu, por educação, deixei que todos se sentassem, mas, creio eu que por pretenderem algo, deixaram vago um único lugar e este era ao lado dela. Ficando assim eu a seu lado direito e o jovem a seu lado esquerdo.

- E como é que ficou o clima à mesa?

- Ah, perfeito, tanto que não o descreverei, pois senão poderei acrescentar muito mel e torná-lo enjoativo.

- Você está certo, mas e após?

- Essa é uma parte que me ficou meio confusa, não me lembro muito bem o que aconteceu após a refeição até a parte em que me encontrava de volta ao salão de danças sentado no último lugar, no final de uma arquibancada que havia ao lado da pista de dança.

- Como sempre, em todas as festas, se isola por alguns momentos até que alguém o chame.

- Exatamente, é uma mania que tenho e que gostaria de perder, mas me é cômodo, por isso ainda insisto em me isolar em algum momento tedioso ou não muito agradável.

- Bem, deveria realmente pensar na situação, parece que algo o chateia quando o faz e por esse motivo se isola. Muitos me perguntam o que tens e nunca sei responder.

- Conte-lhes a verdade!

- É o que faço, mas parece deixá-los chocados. Quando ao resto da história?

- Oh sim! Estava eu sentado, pensativo, quando sentaram ao meu lado. Os dois, ela e o jovem, permaneceram calados, pareciam interessados em somente me fazer companhia. Na pista novos casais dançavam uma música lenta e romântica, outros se abraçavam pelos cantos do salão e ela colocou a cabeça em meu ombro. Não sabia o motivo que a levou a fazê-lo, por isso resolvi por mim mesmo achar que estava cansada. Relaxei os músculos para que sentisse mais confortável e iniciei um carinho em seus cabelos que pareceu gostar, mas ao invés de relaxar pareceu pareceu agitar-se e logo começamos uma brincadeira com nossas cabeças e mãos que eu não saberia lhe explicar. Era estranho, mas interessante e natural para nós. - Parou para beber o restante de uma cerveja que se encontrava sobre o balcão e pensou como contaria o restante. - E foi ai que senti seus lábios nos meus. Foi tudo muito rápido, nos olhamos e nos beijamos. Foi bom, como posso dizer o quanto? Ainda a amo e a ter em meus braços de novo é como ter algo que desejamos imensamente, mas sabemos ser impossível. O problema desta parte é que não pude aproveitar o momento, pois nesse mesmo instante acordei tentando abraçar o nada, sentindo em meu peito uma saudade que a muito não sentia e também um idiota por não conseguir esquecê-la.

- Não mandamos em nossos corações e sonhos.

- Verdade... - Debruçou-se sobre o balcão e abaixou a cabeça como se dormindo ou em prantos.