NOIVADO DO QUELÉ

NOIVADO DO QUELÊ

Falou em festas falou com Tereza, ela comparecia a todas com convite e as vezes de penetra, mas não perdia nada que acontecesse em Barra Bonita ou mesmo em vilas ou cidades vizinhas porque era como uma doença essa sua mania por festas; Tereza ocupava seu tempo livre em investigações para que nada lhe escapasse sobre os eventos programados na região; ela era costureira e naquele entra e sai de clientes, colhia informações valiosas sobre as festas vindouras.

A comunidade se acostumou com a fixação dela e todos a convidavam para todos os acontecimentos, mesmo porque com convite ou sem convite ela aparecia; nada escapava de Tereza porque nem velório ela perdia, no seu modo de pensar velório também era festa pois ajuntava gente, tinha comida, bebida e boa prosa e o único presente que não se divertia era o falecido, os festejos eram sempre de ótima qualidade para ela e ninguém se divertia com tamanha alegria.

Quando não estava numa festa ela se divertia comentando os acontecimentos da ultima enquanto esperava pela próxima, sua mãe dizia: Tereza é festeira assim porque nasceu durante um animado baile de carnaval, errei nas contas e mal sai do salão ela nasceu e nasceu doida por festas e isso explicava tudo; o tempo passando e ela festejando cada vez mais feliz e animada, não recusava convites e se divertia em qualquer circunstancia, gostava de tudo era só felicidade.

Mas nada como um dia depois do outro com uma noite no meio para atrapalhar, essa noite chegou também para Tereza e aconteceu no noivado de sô Juca Quelê com a Vitoriana, ele um viúvo já entrado em anos e ela uma solteirona gorducha e mal falada, mas a incorrigível festeira aceitou o convite para o evento e convenceu alguns primos a acompanhá-la e lá foram a bordo de uma decrépita kombi, o bairro ficava muito distante e a viagem foi um horror.

O barracão da festa era pequeno, escuro e cheirava a mofo, as cadeiras eram poucos e desconfortáveis e quando Nana conseguiu se assentar foi empurrada por uma mulherzinha metida a macho que estava com ciúmes da namorada, ela se levantou dizendo: calma criatura minha praia é outra; depois de horas chacoalhando naquela kombi cheirando a ovos, a fome da turma era grande e nada de aparecer alguma comida, o tempo passando e a fome aumentando.

A prosa que no começo estava animada, foi parando e os convidados se calavam para sonhar com salgados, doces e bebidas geladas; depois de horas de espera apareceu uma bandeja com copos de plástico cheios de k-suco sem gelo e uma outra cheia de pasteis engordurados, muxibentos e recheados com vento em quantidade insuficiente para todos os presentes, foi um choque e um vexame porque as pessoas presentes começaram a rir para não chorar.

Até para a festeira Tereza aquilo foi demais, ela juntou sua turma de primos e disse : gente vamos embora antes que alguém

morra de sede e fome; ninguém se despediu dos anfitriões, a debandada foi geral em meio a muito riso nervoso, mas o sofrimento não terminou por ai porque na viagem de volta a velha kombi não rodava só rastejava, foram horas de viagem sacolejante; quando afinal conseguiram chegar em casa estavam quase mortos de sede e fome.

Tereza correu para a cozinha e colocou numa grande panela todas as sobras de comida que encontrou na geladeira e enquanto aquela gororoba esquentava ela torrou uma dúzia de pães velhos no forno, besuntou com manteiga e fizeram uma festa com aquele mexidão, pães e litros de água gelada; assassinada a fome e a secura ela encerrou o assunto dizendo: meu povo, de hoje em diante parei com essas festas no fim do mundo, só compareço se me mostrarem o

cardápio antes, porque de repente me tornei uma festeira seletiva.

Maria Aparecida Felicori{vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 14/10/2008
Código do texto: T1227224
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