ESSE BOI É BONITO E É MEU

ESSE BOI É BONITO E É MEU

Nas pastagens mineiras é comum a presença de bois, as pessoas nem prestam atenção neles, são tantos que se tornaram quase invisíveis em sua rotina, pastam, engordam e vão para o abate e se transformam em filés, picanhas e demais cortes nobres ou não e são comidos com muito prazer pelo povo todo; ninguém resiste a um bom churrasco ou bifes acebolados e tantas delicias mais que um boi pode fornecer, até o modesto boi ralado é bem vindo, só os vegetarianos recusam um bom pedaço de boi.

As pessoas comem carne e adoram, mas morar com um bovino é coisa considerada impossível porque boi é boi e gente é gente, pior ainda é ter um enorme e chifrudo animal como vizinho; por mais corteses que sejam as pessoas tolerar um vizinho desses leva qualquer um ao desespero total; e acreditem ou não essa coisa absurda aconteceu em um bairro de classe média em Belo Horizonte e a confusão armada foi tão grande que até a policia foi chamada.

Nicinha Barroso adorava bichos de estimação, mas seus estimados bichinhos eram bem diferentes porque não eram cães ou gatos e sim uma cobra jibóia, uma jaguatirica e um macaco aranha; seus vizinhos não gostavam nada de ter por perto animais estranhos e bastante perigosos, mas em nome da boa vizinhança foram tolerando as esquisitices da mulher e também porque ela era boa vizinha sempre pronta para emprestar coisas e prestar outros favores.

Mas até a tolerância de bons e agradecidos vizinhos tem seu limite e quando Nicinha resolveu aumentar seu mini zoológico a paciência de todos se acabou porque o novo morador do lote era um enorme boi guserá ; assustados com o boi e incomodados com o mau cheiro de seus excrementos e com a nuvem de moscas que apareceu em seguida, a vizinhança reclamou e ela não se tocou, enfrentou o desagrado dos vizinhos e conservou o enorme e bonito bovino.

O grande boi não estava nem ai para nada, com seu cocho cheio de comida e uma enorme vasilha cheia de água ele viveu muito bem por algum tempo, mas a guerra estava declarada entre Nicinha e seus ex amigos e como ninguém conseguia convencer a mulher daquele absurdo o jeito foi procurar a vigilância sanitária e fazer uma denuncia; um fiscal foi mandado para averiguar os fatos e avisou a proprietária do boi que ela tinha uma semana para retira-lo dali.

Ela não se importou com o aviso e o boi continuou na sua vidinha mansa porque até banho ele recebia de sua dona; nova denuncia foi feita e dessa vez o fiscal chegou acompanhado de uma viatura policial e de um caminhão próprio para o transporte de gado, ao ver o aparato policial a mulher ficou muito zangada e disse: ninguém leva meu boi daqui, ele é meu e tem o nome de meu falecido pai que se chamava Zeca Barroso, e vai ficar aqui mesmo no meu lote.

Começou um bate boca violento, a mulher desacatava as autoridades com uma chuva de palavrões e era rebatida no mesmo tom e a briga foi engrossando chegando ao apice quando o amado Zéca bovino foi laçado e colocado no caminhão, Nicinha pulou em cima de um policial e os dois rolaram aos tapas para debaixo do caminhão boiadeiro e o boi lá do alto evacuou em cima deles, com o nauseante banho esverdeado a luta acabou e a enfurecida criatura foi algemada.

Mas durante o trajeto para a delegacia o cocô do danado do boi secou e sua dona ficou com o cabelo engomado; com as pálpebras endurecidas ela não conseguia abrir os olhos ficando cada vez mais zangada e atrevida pela falta da visão, desbocada como era enchia os ouvidos dos ocupantes da viatura com todos os palavrões conhecidos e desconhecidos e mais alguns inventados por ela na hora; vez por outra alguém lhe dava um tranco que ela retribuía com tapas a esmo.

Chegando a delegacia ninguém se entendia e a briga recomeçou, fazia um calor infernal e com os brigões imundos e fedorentos, o delegado perdeu a paciência e gritou: retirem essa maluca daqui e metam numa cela para que se acalme e levem esse boi encrenqueiro para o curral da prefeitura, estão presos os dois, a ordem foi cumprida e a paz voltou a reinar, mas logo depois chegou o marido da prisioneira acompanhado de um bom advogado.

O advogado começou um falatório legal e tanto falou que o delegado resolveu relaxar a prisão de Nicinha até posteriores resoluções; dias depois o boi foi entregue a sua dona com a ordem de ser conduzido a um local apropriado a sua segurança e segurança dos assustados vizinhos, mas na visita á casa do boi as autoridades viram os demais bichos de estimação e confiscaram todos porque eram animais silvestre e sua criação em cativeiro era proibida.

Ao perder seus bichinhos, a belicosa mulher reconheceu que foi uma péssima idéia comprar o boi Zeca Barroso pois agora não tinha nem boi e nem nada, mas logo depois comprou uma cabra e um lagarto que os coitados dos vizinhos resolveram tolerar, porque cabra berra pouco e lagarto é surdo mudo; com o gesto de boa vontade dos sofridos vizinhos a desavença terminou e a antiga amizade voltou a prosperar com lucro para todos, porque Nicinha voltou a prestar seus favores e a vizinhança se conformou com o os berros da cabra Maria.

Maria aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 16/10/2008
Código do texto: T1232444
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