De Pequeno que se Aprende

Julho havia terminado e a pescaria no rio Araguaia tão aguardada estava confirmada para o início de agosto. Na viagem iríamos eu, minha esposa Cristiane, meu sobrinho Hermann, de dez anos, minha sogra, minha cunhada e o pai do Hermann.

Na véspera, as compras: comida, bebida, gás, combustível para o motor de popa, iscas, e o que faltava para completar a tralha de pesca.

Dormimos todos na casa da minha sogra, pois, partiríamos, de madrugada. O despertador tocou, levantamos. Correria, café, leite, banheiro, escova de dente, não estamos esquecendo nada?; todo mundo dentro dos carros. Partimos.

A viagem foi tranqüila. Chegamos à fazenda onde embarcamos na canoa e descemos o rio até a praia do acampamento. Durante a descida fomos agraciados com um cardume de botos e na chegada fomos recebidos por dois jacarés que nos fariam companhia durante toda semana em que ficamos acampados. Desembarcamos e organizamos tudo. Quando terminamos de armar as barracas, o crepúsculo já se anunciava. A praia estava deserta, só estávamos nós no acampamento, pois já havia terminado a temporada do rio Araguaia.

Ansiosos, eu e o Hermann, arrumamos a tralha e saímos para pescar a uns cinqüenta metros do acampamento. Já era noite e buscávamos os peixes de couro. Paramos em um barranco na margem do rio, lugar excelente para se pescar o pintado. Usávamos como isca a tuvira, um pequeno peixe que se parece com uma enguia. Anzol com a isca, arremessamos. Alguns minutos depois, senti um puxão, a vara emborcou e fisguei com uma puxada forte; ia puxando e recolhendo com o molinete, o peixe puxava de volta carregando mais linha. A briga estava boa. Consegui traze-lo próximo ao barranco, mas estava escuro e eu apenas ouvia a batida do peixe na superfície da água. Com um último arranque o peixe arrebentou a linha e escapou.

Enquanto eu amarrava outro anzol na linha, meu sobrinho, com uma isca nova arremessava novamente; em menos de um minuto escutei: “Peguei!”, o peixe não era grande, pois o Hermann recolhia a linha com facilidade. Retirou o peixe da água. Era um pequenino pintado de uns vinte centímetros. Ele estava eufórico, pela primeira vez pegara um pintado.

Falei para soltar o peixe de volta ao rio, ele disse que queria mostrá-lo para o seu pai. Colocamos o pintado no balde com água onde estavam as iscas vivas e fomos para o acampamento.

Chegando no acampamento, Hermann gritava: “Peguei um pintado!”;todos do acampamento vieram ver o peixe. Hermann disse ao pai que soltaria o peixe, mas ele não concordava e dizia: “Pra que soltar, vamos frita-lo. Você gastou uma isca com ele e agora quer devolver para o rio”. O garoto ficou em dúvida. Logo sua tia Cristiane interveio: “Solta o peixe, Hermann, ele está muito pequeno, se você devolve-lo, no ano que vem você poderá pega-lo maior”. Hermann olhou para todos que estavam a sua volta, pegou o balde com o peixe, foi até a margem do rio e soltou o peixe. O peixe partiu, nadando como uma flecha.