Real Enganador. -17 / 03 / 2006 - NORMANDA (Lia de Sá Leitão)

Há alegrias e tristezas espalhadas pelo ar, situações que o homem não pode evitar por saber, nem por querer, mas situação de vida que impele a própria vida a simplesmente chorar ou sorrir.

Que delícia falar, escrever, sonhar com borboletas azuis, pássaros canoros, brisas de mar assanhando os cabelos, o barquinho ao longe no profundo verde esmeralda do mar, tudo se torna poesia, tudo tem cheiro de jasmim, tudo vibra numa sintonia suave de quem não se preocupa com o sinal vermelho. De tão brilhantes, os olhos faíscam uma alegria que esborça um sorriso sem malícia, um segredo de desejo nas roupas, no perfume, engraçado, o perfume usado nunca é o de costume, mas, aquele que agrada outrem.

Qualquer gesto de esperança é A ESPERANÇA do que há de acontecer, é o relógio do corpo que marca o compasso dos momentos, dos deleites, dos devaneios.

É cruel quando as lágrimas chegam antes da boa nova, a espera de um ser que existe e está do outro lado do mundo, e diz num tom de meia voz, amo-te mas não posso ficar contigo nesse momento.

Ouvi recentemente uma amiga nessa situação, risos de chegada, foros de partidas e o coração partido por não concretizar a sensação consolidade do ter, sim do ter, não do possuir, o possuir o outro fica a critério da imaginação.

Ouvir essa amiga é ter certeza da dicotomia os sentimentos se apontam na vida de quem quer que seja.

Chorar de amor por uma voz que soa ao telefone do outro lado do mundo, chorar pela esperança de possuir o dono da voz do outro lado do mundo, chorar por não saber dizer não e esperar por um sim que nunca chega de forma direta. Como pode subentender o sentimento de amor? Como se faz entender um eu amo aquele homem como nunca amei ninguém! O que é amar sem ver, como é amar sem ter? Estou maluca em minhas observações pessoais e materialistas?

Vou ao supermercado e compro um congelado no horário dos descasados, entre às 19:00h e 21:00h, com a finalidade de encontrar alguém interessante, trocar telefone, um eventual encontro num barzinho, algo que possa manter um contato pessoal. Já ouvi alguém dizer, é caça, e se não for caça ou caçada, o que faz um ser depois dos quarenta, solitário fugir ao padrão dos amigos de vinte anos? Posso até citar daqueles casos que nem amigos mais próximos se tem depois de um fim de casamento. Presenteio alguém porque existe um bem querer, com ou sem interesse, está ali latente a lembrança real daquele ser que conhecemos, voz, cabelos, óculos ( depois dos 40 quase todos n´so usamos óculos), tipo de roupa, sapatos, ora, é tudo muito real, desde o boa noite ao topas ser namorante hoje? Vai quem quer, quem não quer vai na rua dos congelados procurar um ser vivente mais interessante para um papo. Mas e o bate papo virtual, o que se emprega na linguagem virtual que se deixa o outro com a sensação de saber, conhecer, imaginar, ter sensações sexuais como se o outro pudesse se transportar do outro lado do mundo e penetrar espiritualmente a parceira que o ama sem ser correspoondida?

A quantas andam o processo da imaginação e como se estabelecer o limite entre o que existe em toques reais e a lâmina que fere. Não quero usar a lâmina dá idéia de extirpar algo, o coração, os olhos, os instintos, os sonhos, quero usar algo mais suave, o limiar, a bruma, a idéia de que o outro é dependente dos seus toques de teclado, do sentimento de olhar uma tela de micro, ou mesmo do fruto das carências pessoais.

Tenho percebido junto a algumas pessoas sérias, idôneas, mas que dizem reservadamente, tenho um marido que foi o sonho da minha vida até um determinado tempo, mas acabou, vivemos como irmãos, vivemos como amigos, vivemos como o tudo de bom que existe entre um casal, mas não existe sexo, ele me respeita porque nunca estou disposta. Mas tenho um amor, um desejo latente, meu corpo queima pelo meu namorado virtual, pelo poder do sonho, pelo poder de gozo.

Um dia perguntei a cada uma das que me explicavam as suas car~encias reais em detrimento do suprimento dessas palavras de amor, desse carinho , dessa atenção virtual, a felicidade como se constiuti na sua afetividade? a pessoa não entendeu a pergunta e nem eu entendi porque perguntei; e a resposta foi a seguinte, no amor virtual está a realidade dos meus sonhos(paradoxal) mas no meu marido real as lágrimas do que jamais poderá ser real, a não ser as contas e os luxos que tenho financiado pelo homem que ganha meu corpo sem menor interesse, goza e dorme, ronca e dá bom dia quando levanta pela manhã para trabalhar e mija sujando a bacia do sanitário que a mais de 20 anos limpo com água sanitária todo esse tempo.

O meu amor virtual, sei quando quer se servir do sanitário, posso até seguir seus passos, ouço até o último jato, mas não me deixa os respingos, e quando volta ao micro, ainda diz que me ama, diz que ficou com pau duro pensando em mim.

Eu fiquei assustada, preferia ainda assim meu brochante real ao potente e irresistível amor do outro lado do mundo.