DEDÉ FOGUETEIRO

DEDÉ FOGUETEIRO

Lá longe, bem longe das cidades modernas e civilizadas, as festas religiosas ou profanas para serem apreciadas dependiam de dois fatores muito importantes e indispensáveis: uma banda de música e um competente pirotécnico ou o popularmente chamado fogueteiro o que vem a dar no mesmo, sem esses artistas as festas seriam mornas e absolutamente desprovidas de graça; naqueles lugares afastados a disputa por esses profissionais era grande.

Na região do Rio Formoso existiam muitas vilas e pequenas cidades, onde viviam pessoas de hábitos simples e de boa índole que mantinham a paz e fraternidade, sempre trocando favores e gentilezas, mas quando o assunto era banda de música ou fogueteiros as boas maneiras desapareciam e as brigas começavam porque nem todas possuíam uma banda ou um fogueteiro e dependiam da boa vontade dos vizinhos.

Nem as melhores e maiores comunidades da região tinham um fogueteiro como Seu José Eleutério o conhecido e elogiado Dedé Fogueteiro da Vila de Sombreado, mas o problema era que os moradores do lugar faziam o impossível para mantê-lo ocupado o ano inteiro porque não queriam que suas obras de arte da pirotecnia levasse beleza e esplendor as festas dos povoados vizinhos; e desse modo compraram a implicância de todos.

Todas as festas dependiam de foguetes, bombas e rojões, mas no mês de junho a procura era maior porque as festas juninas exigiam muito barulho para agradar os santos festejados e Seu Dedé tinha que se virar em quatro para dar conta de todas as encomendas porque ele atendia aos pedidos do povo de Sombreado que eram muitos e variados, mas as escondidas ele aceitava trabalho de outras vilas e sempre ficava em apuros.

Era costume na noite de São João, a enorme fogueira da praça da igreja ser acesa por uma garça branca que corria por um fio vindo do alto do mastro da bandeira do santo, caia dentro da fogueira explodindo e incendiando as toras; era uma coisa linda e o povo entusiasmado aplaudia com gritos, assobios e muitas palmas enquanto o céu se enchia de foguetes de quatro tiros e grandes girândolas coloridas, no chão busca-pés corriam.

Todo aquele esplendor deixava os vizinhos injuriados, porque para eles o famoso pirotécnico fabricava sigilosamente apenas modestos foguetes, bombinhas sem graça e pouca coisa mais com medo de ser descoberto, mas certa vez os dirigentes da pequena cidade de Lonjuras, ofereceram uma grande quantia de dinheiro para Seu Dedé fazer aquela famosa garça para eles e ele aceitou a oferta, mas pediu que guardassem segredo do assunto.

Em Lonjuras o santo padroeiro era São Pedro e a garça encomendada era para acender a fogueira desse santo e como em Sombreado o santo festejado era São João ficou fácil para Seu Dedé atender aos dois pedidos, mas em comunidades pequenas segredo é coisa que não existe e Jojô o ajudante do fogueteiro contou para sua mãe o trato de Seu Dedé com o povo de Lonjuras, mas a dona não guardou o silencio pedido pelo filho.

Ao saber da traição do pirotécnico, o chefe político de Sombreado preparou a revanche bem assim: pagou Jojô para sabotar a esperada garça e na noite da festa de São Pedro em Lonjuras com todo o povo na praça ela não voou, ao ser acesa explodiu e se incendiou ali mesmo no começo do fio, foi um vexame total, Seu Dedé foi expulso com uma boa surra no lombo e sem o dinheiro que foi obrigado a devolver e isso doeu demais.

Ao chegar em Sombreado ouviu poucas e boas da comunidade e só não foi enxotado de lá porque nas redondezas não existia um fogueteiro de sua competência, mas passou a ser vigiado por todos e nunca mais conseguiu ganhar um dinheirinho extra das comunidades vizinhas; daí em diante para ver os fogos maravilhosos de Seu Dedé, o jeito era ir as festas da Vila de Sombreado, porque lá a linda garça voava e acendia a fogueira.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 27/10/2008
Código do texto: T1251683
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.