Correndo pela vida

- Psiu. Psiu. O que você faz aí? Pergunta para seu colega, que está quieto.

- Estou a pensar – responde ele com um jeito tristonho, desestimulado.

- Pensar em que? Insiste.

- Na vida. Você já pensou? É que corremos tanto. Lutamos entre nós mesmos para sobreviver. O que sobrevive enfrenta tantos obstáculos. Cresce. Vira um doutor, ou não, depende das oportunidades que irá encontrar. Depende até do berço que a gente nasce! Casa. Tem filhos. Depois, morre. Eu estou aqui, pensando, vale a pena?

- Claro que vale. Tem tanta coisa bonita no mundo. Existem coisas boas. Vale a pena sim. Explica, na tentativa de fazer o colega levantar-se e correr.

- Eu não sei se quero isso não. Estou em dúvida se vou ou se fico. Sei que tem coisa bonita, mas também, tem tanto sofrimento.

- Sofrimento a gente enfrenta. A vida é uma luta. Vamos. Eu quero viver – insiste com o colega.

- Meu amigo, quem me garante, que depois de vencer outros milhões de espermatozóides, vão me deixar viver. Quem me garante que não vou ser vítima de um aborto? Quem me garante que a minha vida será longa ou curta? Quem me garante que minha vida vai valer à pena, tendo que vencer você, meu melhor amigo?

- Pelo menos você tentou, eu vou entender.