Monólogo de Um Jardineiro.

Sou jardineiro e já cuidei de muitos jardins em muitos lugares.

Alguém me falou que havia um lindo jardim onde o amor de todas as minhas vidas, costuma aparecer por lá vez por outra. Então fui conhecê-lo.

Quando o vi, fiquei encantado.

Era um jardim com as mais lindas flores.

Havia uma grande variedade de plantas ornamentais, distribuídas de tal modo que formava lindos desenhos abstratos, e floridos nas mais diversas cores que a natureza é capaz de prover.

A terra é fértil e está sempre unida. Isso facilitava a vida das minhocas. Seres incríveis elaborados com a função de enriquecer o solo. Naquele jardim elas deviam se sentir num paraíso.

Bem ao fundo, fica uma grande tamarineira. Sua frondosa copa permite uma sombra aproveitada pelas samambaias. Ali sem receber luz direta elas crescem e se desenvolvem belas e viçosas.

Mais ao lado, bem no canto do limite daquele jardim uma iambuba secular se projetava de forma majestosa. Plantas parasitárias e cipós disputavam espaços entre seus galhos sem tirarem dela o sustento necessário para que se mantenha sempre vistosa.

Ao centro ficavam as roseiras. Rosas azuis, amarelas, vermelhas, brancas e com pétalas bicolores, estão distribuídas harmoniosamente. Não saberia dizer qual delas é a mais linda.

Gosto de rosas, orquídeas, gerânios e tantas outras flores. Mas a que mais gosto é das dálias. Tenho verdadeira adoração pelas dálias. Acho que é porque namorei uma moça de nome Dália, quando cuidava das plantas de um cemitério. Foi desde então que passei a ter este sentimento por esta flor.

Nunca esqueci Dália. Namorávamos naquele cemitério que eu cuidava, sentados nas catacumbas. Éramos felizes e nosso amor criou raízes profundas em nossas almas.

Porque esta sua cara de espanto se namorávamos num cemitério? Acho muito natural que se namore onde se queira. Um cemitério é um lugar como qualquer outro. Com Dália foi assim, e não é motivo pra que você ache isso anormal. Ela era linda e muito meiga e nunca reclamou de encontra-se comigo naquele cemitério. Seu sorriso me encantava. Quando sorria, parecia que seus olhos riam também, acompanhando seus lábios. Havia um “q” de prazer naquele seu sorriso que me tocava fundo n’alma. Mas, um dia sua mãe nos surpreendeu e ralhou muito com ela. Disse que era hora dela ir e levou-a dali Nunca mais eu a vi. Voltei ao cemitério muitas vezes, mas ela não retornou. Sentia uma saudade enorme dentro de mim, até que me acostumei, mas esquecê-la, jamais poderia a isso me permiti. Quando se ama verdadeiramente, não se permite que as lembranças sejam apagadas, por mais que elas nos façam sofrer. Não é a ausência do amor que dói, mas as lagrimas que este amor nos faz derramar pela saudade que dele sentimos.

Desde então passei a visitar jardins na esperança de encontrá-la. Este deve ser o centésimo jardim onde a procuro. Eu nem vinha até aqui, mas me falaram que ela costuma aparecer por entre as flores deste lindo jardim.

E logo hoje que o sol está escondido pelas nuvens que delicadamente deixam cair uma fina garoa, eu imagino que ela não apareça. O melhor seria eu ir deitar-me um pouco ao pé da tamarineira, e tirar um cochilo.

E você nem sabe o que aconteceu enquanto tirava meu cochilo há pouco? Tive um sonho. Alguém que veio trazer um recado de Dália pra mim. Disse que ela me espera num imenso jardim, onde é seu paraíso. Não é um jardim de uma casa, nem de um castelo, ou embrenhado nas matas, mas um jardim que fica entre as estrelas, onde as flores têm outras belezas e perfumes que encantam a alma. São flores cultivadas por almas que se amam e querem se unir na magia dos mistérios de um amor para toda a eternidade. É lá que por mim minha linda Dália aguarda.

Perdoem-me vocês, mas agora tenho que ir ao encontro do meu amor. Aqui não tem mais nada para mim a não ser a saudade que deixo entre todas as flores que plantei nos jardins por onde passei, mas minha alma não precisa mais ficar vagando por este plano. Agora tenho pra onde ir.

Agradeço todos os lindos encantos que fizeram dos meus jardins o mais Lindo dos Jardins... O Jardim do Amor Eterno.

Carlos.

Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 05/11/2008
Código do texto: T1267695
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.