O Garçom                             


Francisco terminara o segundo grau. - E agora?... Desempregado, fazendo às vezes alguns “bicos” em pequenos restaurantes, como garçom, não podia aspirar freqüentar uma Universidade. Sonhava em poder fazê-lo, é claro, mas como poderia?...

 

 

Não conhecera o pai... Sua mãe, ajudante de cozinha, lutara muito para que ele conseguisse, pelo menos, chegar até aí. Depois, só Deus sabia...

 


Mas, Francisco não esmorecia... Acreditava mesmo, que assim que encontrasse um emprego estável, poderia tentar realizar esse sonho!...

 

 

Em uma noite de sábado, foi substituir um garçom, no restaurante em que sua mãe trabalhava...

 

 

Contente, porque iria ganhar alguns trocos, atendia a todas as mesas com simpatia e zelo... Na mesa nº. 8, encontrava-se um casal de meia idade e que pareciam muito unidos, porém um tanto acabrunhados. Francisco aproximou-se com toda lisura e perguntou o que eles pretendiam comer.



O senhor levantou a cabeça com semblante preocupado, e quando deparou com o garçom, olhou-o com insistência, sem responder... Sua esposa permanecia silenciosa...

 

 

Francisco sentiu-se constrangido, mas, educadamente, tornou a fazer a pergunta e o pedido foi então efetuado... Afastou-se da mesa em direção ao balcão, um tanto perturbado, também ele sentiu-se impressionado com aquele senhor...

 

 

Depois que o estranho casal retirou-se, Francisco ainda matutava sobre o ocorrido... Perguntou para um colega se os conhecia, e soube que eles freqüentavam a casa todos os sábados, e que sempre sentavam na mesma mesa e se mostravam muito calados...

 

 

Quinze dias depois, novamente, Francisco foi requisitado. Era também um sábado, mas até então, não lhe ocorreu à lembrança aquele casal...

 


Bem disposto, como era seu costume, começou a atender as mesas, quando percebeu que na mesma mesa nº. 8, encontravam-se o mesmo casal... Como não poderia deixar de atendê-los, aproximou-se e fez, como de hábito, a pergunta. Novamente o senhor o encarou, e Francisco fingiu não perceber...

 

 

Terminou o trabalho no restaurante, e no retorno ao lar, caminhando e abraçado à sua mãe, Francisco comentou a respeito daquele senhor...

 

Dona Zélia, como se chamava, mostrando interesse no assunto indagou como era essa pessoa...

 

 

Francisco, então, começou a descrevê-lo... - falando inclusive o nome, que lera no cartão, quando o mesmo pagara a conta...

 

 

Sua mãe sentiu-se mal, deixando-o preocupado... Então, começou a fazer-lhe muitas perguntas sobre o que estava se passando... Disfarçando o mal estar, Dona Zélia explicou-lhe que estava exausta, o que não o tranqüilizou...

 

 

Depois desse dia Dona Zélia tornou-se estranha... Francisco atribuiu esse comportamento, a algum problema de saúde pelo qual estava passando, e que, infelizmente, ela não tinha tempo, nem dinheiro para procurar um médico. Ficou ainda mais intranqüilo e só lhe restava pedir a Deus, que nada de mais grave ocorresse.

        

No mês seguinte, em um sábado, novamente Francisco foi chamado. Sua mãe pediu-lhe para que não fosse... Sem entender, Francisco começou a pensar que dona Zélia realmente não estava bem, pois precisavam de dinheiro e ele não podia deixar de aproveitar essa oportunidade...

 

 

Percebeu contrariedade em sua mãe, mas mesmo assim resolveu comparecer ao restaurante. Novamente não lhe ocorreu à lembrança o “dito” casal. Estava mais preocupado com a saúde da mãe...

 

 

Qual não foi seu espanto, quando ao passar pela mesma mesa deparou com o senhor, agora sozinho. Ficou confuso, mas tinha que chegar até lá...

        

Ao aproximar-se, o senhor indagou-lhe o nome. - Respondeu-lhe respeitosamente, e assustou-se quando então, o viu chorar...

 

 

Sem saber como fazer, Francisco, ainda confuso, perguntou-lhe pela esposa... E ficou sabendo que ela havia falecido na semana anterior, pois estava com uma grave doença há muito tempo. O garçom desculpou-se, e então deduziu que era esse o motivo da comoção...

 

 

Mas, outra surpresa o aguardava, quando ao pagar a conta, o Sr. Pedro, que era como se chamava, indagou também sobre o nome de sua mãe. Atrapalhado com a pergunta, Francisco disse-lhe, e não entendendo nada, percebeu perplexidade no senhor.

 


Voltou ao trabalho...  Contudo, não conseguia esquecer aquele homem... Falaria sobre isso com a sua mãe quando fossem embora...

        

Todavia, não houve tempo, pois ao saírem do restaurante depararam com o Senhor Pedro esperando-os na porta... Dona Zélia desfaleceu e, prontamente, os dois acudiram-na.

        

Sem tempo para perguntas, entraram no carro do Sr. Pedro e levaram-na para casa. Depois de tê-la colocado na cama e servido um chá para reanimá-la, chegou a vez de Francisco perguntar, àquele senhor, quem ele era e por que tanto interesse neles...

        

Antes que tivesse tempo de responder-lhe, Dona Zélia, já refeita, apressou-se em explicar–lhe, que aquele homem era o seu pai!...


Atônito, Francisco não conseguia atinar com mais nada... - Foram muitas as emoções!... Começou então a chorar com desesperação, não conseguindo mais se controlar...

        

Sem saber como agir, “os pais” de Francisco temerosos, trocaram olhares acanhados... - E agora?... O Sr. Pedro tomou a frente da situação e começou a explicar para Francisco como tudo acontecera...

 

 

Quando jovem Zélia foi trabalhar na casa de sua família. Moça muito bonita e atraente, chamou-lhe a atenção. Interessou-se por ela, que também não o repeliu. Começaram um namoro escondido e apaixonaram-se... Ao serem descobertos, Zélia teve que retirar-se e não pode mais vê-lo, indo morar em outra cidade...

 

 

Pelas suas amigas, Pedro ficou sabendo que havia tido um filho... Tentou por todos os meios encontrá-la, mas não o conseguiu, mesmo porque seus pais a tinham escondido a garota num orfanato de mães solteiras.

        

Passou-se o tempo... E mesmo não a esquecendo, Pedro casou-se com a filha de um casal, amigos de sua família... Não tiveram filhos, mas permaneceram casados até então...

        

No entanto, ele insistia no propósito de que tudo faria para encontrar Zélia e seu filho... - E agora, que os reencontrou, não queria mais perdê-los!... Queria sim, sem mais delongas, casar-se com sua mãe e registrá-lo como seu herdeiro...

        

Aos poucos, foram retomando a estabilidade emocional e abraçaram-se todos, chorando e intimamente  muito  felizes!...
 

Francisco, agora, estava convicto de que sua mãe estava bem amparada!  Finalmente, realizaria o seu grande sonho!...


© Daura Brasil 

São Paulo - 2005

Imagem: Italian Waiter by Dale Kennington