CLIENTE DE EU MESMO

CLIENTE DE EU MESMO

As pessoas desembarcam nesse mundo com destinações diferentes, alguns são arrogantes, outros humildes, bonitos ou feios, gordos e magros e se uns são abstêmios outros são alcoólatras, mas Bileco era um pouco de cada coisa e nem ele mesmo sabia bem a que veio; o certo era que toda a comunidade da Vila do Santinho se divertia com as aprontações do divertido cidadão, era bom trabalhador e seu sitio era bem cuidado e lindo.

Suas terras eram poucas, mas de excelente qualidade e devolviam em dobro tudo que ali era plantado: junto com a família Bileco vivia em paz durante a semana toda, mas no sábado ele ia para a vila e acampava no primeiro boteco que encontrasse e passava o fim de semana flutuando em um mar de cachaça, nessas ocasiões ele não era o trabalhador diligente e bom chefe de família, era apenas mais um bebum contador de piadas.

Dona Mariinha era uma esposa paciente e calma, aceitava com bom humor as estripulias e bebedeiras de Bileco, mas os filhos do casal se sentiam incomodados com aquela situação e não achavam nenhuma graça nos destemperos semanais de seu pai e passaram a pressionar a mãe para tomar uma atitude, dona Mariinha protelou o maior tempo possível, mas terminou por ceder e foi falar com o marido para que ele mudasse de jeito.

Ele ouviu calado a reprimenda da esposa e quan do ela se calou, ele disse: pode deixar Mariinha eu vou pensar direitinho sobre o caso e prometo que vou resolver da melhor maneira esse assunto, pode deixar; passaram-se alguns dias e Bileco encontrou a solução perfeita e comunicou a esposa, ele disse: resolvi abrir um boteco, porque assim eu vou ser freguês de mim mesmo, ai eu bebo menos porque vou ficar muito ocupado cuidando das coisas.

Dona Mariinha ficou de queixo caído sem encontrar o que dizer e não disse nada, quem cala consente e Bileco começou a tomar as primeiras providencias para a instalação do estabelecimento, emm poucos dias ele alugou um cômodo , comprou mesas, cadeiras, balcão e prateleiras e comprou o estoque de bebidas, com todas as que preferia e só faltava o nome para o novo boteco, nome que ele queria escolher sozinho.

Bileco preparou uma placa de madeira e gravouo nome de seu estabelecimento em grandes letra vermelhas, cobriu com um pano grosso e anunciou a inauguração do mais novo boteco daquela vila; marcou data e hora para o evento e como era de se esperar a casa encheu com todos os amigos e companheiros de copo do alegre proprietário, mas por curiosidade os abstêmios também compareceram esperando alguma molecagem de Bileco.

A festa começou alegremente com rodadas de bebidas e tira-gostos por conta da casa, um grupo de chorinhos animava o lugar com sua flauta, pandeiros, cavaquinhos e violões e todos bebiam e cantavam o Carinhoso, Odeon e outras musicas do mesmo estilo e Bileco estava tão ocupado que não bebia quase nada para alegria de sua família, parecia que estava funcionando a previsão do feliz proprietário, trabalho duro afasta as tentações.

Até lá pela metade da noite estava tudo certo e dona Mariinha se lavava e enxaguava em felicidade, dizia aos desconfiados filhos: estão vendo, o pai de vocês criou juízo, mas alegria quando é muita tem pequena duração e a reviravolta veio quando Bileco subiu em uma mesa e anunciou: agora vou exibir o nome de meu estabelecimento, retirou o pano que cobria a tabuleta e lá estava escrito, {SE SOBRÁ NOIS VENDE};o pior foi que não sobrou e o boteco faliu em um mês, porque Bileco era o melhor freguês dele mesmo.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/11/2008
Código do texto: T1268247
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