NO CÉU

NO CÉU

Zeferino Bastos tinha tudo para ser feliz e era de uma certa forma, porque era alegre de nascença, cantador de modinhas e exímio tocador de rabeca, ele era a alma das festas de Santa Efigênia da Serra; com sua rabeca e seu vozeirão retumbante ele se alegrava e alegrava Deus e o mundo, porque sua arte servia nas festas profanas e também nas celebrações religiosas, onde ele louvava ao Senhor com lindos hinos.

Nas festas profanas ninguém como Zeferino para animar uma função; em bailes, casamentos, batizados ou em animadas serestas ele era o primeiro a chegar e o ultimo a sair, sempre aplaudido e paparicado, mas tudo isso acontecia porque ele era solteiro, livre, leve e solto e as moças da cidade disputavam o privilegia de fazer um dueto ou dançar uma valsa com o alegre rapaz e a vida passava envolta em nuvens cor de rosa.

Além dessas apreciadas qualidades artísticas, o Zeferino era honesto, um ótimo trabalhador e ao lado de sua mãe cuidava de um sitio muito bonito que se não era grande em alqueires era enorme em rentabilidade, porque a boa terra de cultura devolve em dobro os cuidados que recebe e o que era plantado lá florescia em beleza e abundancia, a sua criação de galinhas, suínos e algumas cabeças de gado , rendia muito por causa do bom trato.

Todas essas qualidades faziam do feliz Zeferino um bom partido, ele era o sonho das jovens solteiras do lugar e as mães das moças casadoiras se desdobravam em elogios e agrados ao disputado candidato a marido, eram convites para almoços de domingos, jantares de sábado e lanches da tarde, tudo isso para exibir as grandes cozinheiras que suas filhas eram, mas ele não se decidia por ninguém e a vida passando e ele tocando sua rabeca.

Nesse eterno convescote, os dias passavam e Zeferino chegou aos quarenta anos ainda solteiro para desgosto de mães e filhas, mas de repente ele se encantou por uma jovem morena e gordinha que se chamava Clemência, ela devia ter uns vinte e cinco anos e já era considerada passada da idade, mas ele se apaixonou , noivou e se casou em menos de seis meses, deixando suas fieis admiradoras totalmente frustradas e inconsoláveis.

Como o que está feito não está por fazer, o jeito foi deixar o assunto morrer e partir para outra e foi o que fizeram todas elas, mas o casamento do alegre músico foi um desastre porque a tal Clemência era osso duro de roer, tinha um péssimo temperamento e logo no inicio implicou seriamente com a mãe de Zeferino, tornando a vida dentro daquele sitio um tormento, até que a senhora se cansou e foi morar na cidade longe daquela nora .

Depois de se livrar da coitada da sogra ela foi obrigada a trabalhar no sitio, onde os afazeres eram muitos e variados, mas ela era um poço de preguiça e resolveu se livrar do sitio também, passando a atormentar o marido para vender as amadas terras e irem morar na cidade e tanto fez que ele se rendeu e vendeu tudo, terras, gado, porcos, galinhas e foram para a cidade, onde ele montou um pequeno comercio de artigos variados que deu errado.

A culpada do insucesso do negocio foi a peste da Clemência que ficava o dia todo atrás do balcão implicando com as pessoas, fazendo fofocas e maltratando o marido diante dos clientes; encerrado o pequeno comercio metade do dinheiro da venda do sitio se perdeu; desanimado com tantos desgostos, Zeferino perdeu a alegria, aposentou a rabeca, parou de cantar suas modinhas e a cada dia a depressão tomava conta de sua vida.

O esporte preferido de Clemência era atormentar o marido, com pouco dinheiro ela jogava a culpa desses desastres sobre ele e o coitado foi afundando e perdendo a saúde, com menos de um ano daquele terrível casamento, Zeferino morreu; seu corpo ficou na terra e sua alma foi bater na porta do céu, São Pedro abriu examinou um livro enorme e disse: seu nome não está aqui amigo, desça lá para baixo que é seu lugar e fechou a porta.

Zeferino gritou até ser novamente atendido e insistiu em falar com Nosso Senhor, foi atendido e explicou que era o Zeferino e que queria muito ficar ali em paz, porque na terra sua vida era um inferno ao lado de Clemência sua esposa, só de dizer que era o marido daquela mulher terrível as portas do Céu se abriram e ele foi recebido com honras de mártir, porque nada martiriza mais um ser humano, que um casamento mal feito.

Maria aparecida Felicori{vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 09/11/2008
Código do texto: T1274921
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.