O PERIGO VIAJA NA BR

O PERIGO VIAJA NA BR

A Fazenda dos Prazeres era linda e a paz morava lá, durante o dia o vozerio dos colonos cumprindo suas tarefas, o chiado alegre do carro de boi e o cantar dos pássaros nas arvores do pomar era tudo que se ouvia; na casa grande a fazendeira com seu séqüito de ajudantes, cuidava do bom andamento dos afazeres domésticos e do preparo de deliciosas refeições para todos os agregados.

Quando a tarde caia, patrões e empregados se reuniam para rezar devotamente o terço diante da antiga ermida, cantavam hinos religiosos e depois de um reforçado café com quitandas todos se recolhiam para o merecido descanso; no dia seguinte recomeçava tudo nos mesmos moldes da véspera e a vida corria mansamente como o lento correr das águas puras do Rio do Cervo.

O rio era uma das atrações daquelas terras, cortava a fazenda ao meio e era piscoso, nas tardes de domingo o divertimento garantido era a pescaria em suas águas e ali mesmo nas barrancas era preparado e frito os peixes obtidos, que eram comidos alegremente com a companhia de alguns goles da pura aguardente produzida no alambique da fazenda , farofa de milho e pão caseiro.

Mas essa época de paz, alegria e felicidade passou e deixou saudades, porque tudo mudou com os hábitos modernos, as fazendas já não tem colonos e nem colônias e os fazendeiros em sua maioria moram nas cidades e são visitantes em suas própria s terras, mas na Fazenda dos Prazeres ainda existe alguém que conservou os velhos costumes: é dona Santinha que ainda mora na casa grande.

Ela cresceu entre oito irmãos, mas com a morte do velho Araújo e de sua esposa, esses irmãos saíram da fazenda um a um e no final só sobraram dona Santinha e uma morena chamada Leonor criada pelos já falecidos fazendeiros, mas ela não se deixou convencer a se mudar para a cidade e lá continuou agarrada as tradições; como Santinha e Leonor nunca se casaram, ficaram sozinhas.

As duas gostam de seu jeito de viver, cuidam de seus afazeres e tudo deu certo até a construção de uma rodovia que passou a poucos metros da fazenda dos Prazeres, trazendo preocupação para os familiares de dona Santinha, porque junto com o progresso vem os perigos e a insegurança para quem vive perto demais de uma estrada de grande movimento como aquela.

A fazendeira não se importou com as advertências de que o perigo estava a seu lado, mas certo dia apareceu um andarilho assassinado a pauladas na beira da rodovia, a pouca distancia da Fazenda dos Prazeres e quando o delegado da cidade vizinha prendeu um fulano com manchas de sangue nas roupas, ele confessou o crime e contou que a dona da fazenda lhe dera comida e café.

O bandido disse que pensou em matar a fazendeira para roubar, mas como ela foi caridosa tinha mudado de idéia e matou o companheiro de viagem logo adiante porque ele queria voltar e matar a dona; ao saber disso dona Santinha se assustou e quase se mudou para a cidade, mas achou melhor continuar onde sempre viveu, confiando na sua caridade e proteção de Deus.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 12/11/2008
Código do texto: T1278775
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