O ENCONTRO

O ENCONTRO

Flavio MPinto

A população, atormentada com os imprevisíveis assaltos a bancos, assassinatos e seqüestros, se amedrontava gerando um clima de medo e revolta.

O delegado Domitílio era o chefe da seção paulista de Inteligência das forças do governo. Com intenso trabalho de Inteligência, seus homens estavam levando os insurgentes ao desespero.

Não acreditava que seria um alvo fácil, no entanto, não sabia que uma célula terrorista o perseguia procurando conhecer seus hábitos familiares e de trabalho. Já tinha sido alertado por Douglas, outro policial, seu fiel amigo desde a infância. Protegia-se.

Quem mais sofria era a família. Tereza, sua mulher e filho e ainda o que estava sendo gerado por ela e motivo de intensa preocupação.

Terça-feira, 25 de setembro de 1972, tarde quente para os padrões paulistanos.

Chegam determinações para que as operações sejam transferidas para o Rio de Janeiro onde a ação terrorista continuava a preocupar. O deslocamento da equipe foi rápido e logo estavam no combate.

De repente, Domitílio recebe uma noticia que o desconcerta: Tereza fora seqüestrada juntamente com o filho na saída da escola. A escolta tinha sido atacada, fugindo os sediciosos na direção de Registro após distribuírem alguns panfletos contra o governo. Eram duas mulheres as atiradoras, cujas armas falharam ao serem apontadas na direção de Tereza e do filho. Ouviram-se apenas os tec-tec dos percussores batendo nos cartuchos denunciando o estrago que fariam. No entanto, levaram mãe e filho numa perua Veraneio escura.

Como por instinto, a reação do delegado foi embarcar imediatamente para São Paulo e juntar-se as equipes de investigação .

O major Tobino, experiente policial, o recebe e o conduz para a área onde os seqüestradores estavam supostamente homiziados.

Com experiência em ações desse tipo, a equipe do investigador Douglas rapidamente localiza um grupo, que se deslocava levando uma mulher e uma criança amordaçados, na região junto do Fornão e montam um bem sucedido cerco.

São localizados e presos alguns homens resgatando-se os reféns, já muito maltratados, mas nada de Domitílio.

Dois dias se passaram e mais nada se soube.

Acreditava-se que fora atrás dos outros sediciosos que se evadiram.

Douglas sentia o cheiro da morte no ar úmido da mata.

A vegetação lhe era companheira, no entanto, naquele dia estava diferente. Quieta. Silenciosa, como a espera de uma descoberta. Algo lhe dizia.

Sentia a falta de um amigo. Tinha de encontrá-lo. Iria até o fim do mundo, e o traria ao acampamento, custe o custar. Tinham de retornar a comer “um feliz bife a parmegiana com uma Caracu gelada”, toda sexta-feira no bar Outono, bem próximo da delegacia.

A perseguição aos fugitivos era trabalhosa, pois esses, sem escrúpulos, pressionavam e seviciavam a população inocente e ordeira de toda região, calando-a pelo medo.

Conhecendo bem a área, os terroristas não tinham uma linha certa de rumo e a toda hora mudavam de direção dificultando a perseguição.

A mata os protegia impedindo a visualização. Não mais do que 15-20 metros e nada mais se via. Á noite, então, era impossível.

O investigador já cansado, mas ainda com a esperança batendo forte no seu rosto, depara-se com um corpo inerte junto de um poço. Braços para trás e punhos amarrados com uma corda de náilon.

Era seu amigo com a cabeça esfacelada por golpes.

1. Terrorismo- definição pela União Européia- "todo ato cometido com o objetivo de intimidar gravemente uma população, obrigar os poderes públicos ou uma organização internacional a realizar ou a abster-se de realizar uma determinada ação, desestabilizar gravemente ou destruir as estruturas fundamentais políticas, constitucionais, econômicas ou sociais de um país ou de uma organização internacional". São atividades terroristas, entre outras, os ataques à vida de uma pessoa que possam levar à morte, os ataques à integridade física de uma pessoa, seqüestros ou tomada de reféns, destruição de uma instalação governamental ou pública, de sistemas de transporte, de infra-estruturas, assim como o seqüestro de aviões ou outros meios de transporte, a fabricação ou posse de todo tipo de armas, e a ameaça de realizar todos esses atos.

2. Homiziar(homiziado)- ato de acobertar, dar asilo, esconder da Justiça, fugir á ação da Justiça. Dicionário Larrousse Cultural da Língua Portuguesa-Ed Universo