UMA CARTA DE RIEN PARA VOCÊ

Uma carta de Rien para você

17 de outubro de 2000

Eu tenho uma coisa pútrida que me corrói há cinco anos.Minha cínica-feliz existência não soube resistir a esta coisa. O meu cinismo de ser feliz, de enganar as pessoas e a mim mesmo dizendo que sou feliz, que há felicidade, foi embora.

Acho que todos nós chegamos ao ridículo ponto de dizer "eu te amo" a uma pessoa simplesmente por não mais suportarmos nossa tediosa existência sozinhos e então, para que não peguemos um faca afiada e coloquemos no pescoço, nós preferimos compartilhar nossos tédios e atormentos existenciais com outra pessoa. No final, todo nós somos umas putas mascaradas por uma moral ainda mais puta e sem vergonha.

Tenho raiva, asco de mim mesmo, pois esta que me dilacera a cada segundo foi contraída de um mera puta fogosa e, o pior, feia. Até hoje eu não me lembro como eu fui pra cama com esta mulher. Após sete anos dessa maldita foda, eu decidir escrever esta carta. Eu nem ao menos tive prazer com aquela vagabunda de esquina que meus amigos me ofereceram no meu aniversário.Que presente! Uma desgraça de presente1

Minha vida sempre foi uma fossa a qual eu,antes de começar a escrever esta carta, nem ao menos sabia de onde vinha a merda que a torna assim.

Não sou nenhum idiota ou fraco para pegar um revolver e estourar meus privilegiados miolos. Decidir buscar o verdadeiro motivo, a origem da fossa. Após dezoito meses,descobri que a origem não era a puta feia que nem ao menos soube me dar prazer.A verdadeira culpada é esta culpa que agora está estirada sob um tapete feito pelo seu próprio sangue.Ela sim é culpada de ter me cuspido nesta monótona e absurda existência. O meu ser cínico, hipócrita e hedonista veio de uma foda bem dada no caminhão de um qualquer que passava pela nossa cidade.Faz uns dois anos que descobrir isso.A minha cidade fica perto de uma estrada bem barrenta e cheia de buracos que eu nem sei como ainda suporta passar carros e ,principalmente, caminhões.

É bizarro saber que esta fossa existencial , esta monotonia ontológica advém de segundo de prazer.Como pode ser tão contraditória a nossa vida.

Mas agora não importa, seu sangue já está percorrendo pela sal.É fantástico como um mero machucado de carnes pode fazer conosco, como nossos orgulhos, com nossa moral, com nossas crenças(se é que alguém verdadeiramente as têm). Ele simplesmente reduz a nada.

Não tenho mais tempo, talvez quando encontrarem esta carta o corpo deste já esteja fedendo.Não me importa, sairei por aquela porta e a partir deli vou procurar alguma pessoa e daí poderemos compartilhar nossas pusilânimes e asfixiantes vidas.

Rien

Trovador Solitário
Enviado por Trovador Solitário em 25/03/2006
Código do texto: T128488