Enigma

Entraste de camisa branca, óculos, calça escura. Foste direto ao local onde seria a cerimônia do casamento. Todos estavam em um pavilhão decorado com muitas flores brancas e amarelas. Convidados em profusão. Alaridos. Mistura de muitas vozes. Clima de festa. Expectativas. Uma pequena orquestra tocando músicas várias.

De onde eu estava, te vi chegar... cerca de 4, 5 metros, não mais que isso. A separação da peça em que me encontrava para aquele corredor por onde passavas era rústica, feita de madeira antiga. Alguns vãos entre as tábuas. Não queria que me enxergasses (nem sabias que eu estava ali) mesmo que há tanto tempo (anos e anos, sabes bem...) esperasse por esse momento. Fiquei à espreita. Naquele momento escolhi não ser vista, pelo menos até me reequilibrar do impacto tão surpreendente... eu não sabia que estarias ali.

Num jeito muito jovial, descontraído, como se nunca tivesses saído do nosso convívio, foste cumprimentando algumas pessoas. Parecia que não tinhas mais nada, que era possível andar sem quaisquer dificuldades. Teu porte exigia que te inclinasses um pouco para cumprimentos mais fraternos.

E eu segui ali... te olhando... não quis me aproximar, não sei se por medo de não ser bem recebida, se por achar que devesse esperar mais um pouco... enfim... não sei.

Mas todos aqueles a quem te dirigiste já não viviam mais neste plano... fazia tempo.

E a nitidez da cena desfez-se em nada.

Mas eu te vi... mesmo passados tantos e tantos anos. E até o mais apurado surrealista não duvidaria disso.

lilu
Enviado por lilu em 16/11/2008
Reeditado em 22/10/2009
Código do texto: T1285896