O diálogo, de tão comum, sequer entrava nos ouvidos dos garçons do Jobi. A bem da verdade, não mais do que duas pessoas pararam de conversar em suas mesas repletas de tulipas vazias e pedaços de pernil com rodelas de limão, para observar o que Diana tentava explicar a Ricardo, tudo diante de um neguinho de uns 10 anos, chinelo gasto, short azul e camiseta bege – imunda -, que tentava, ainda sem sucesso, ganhar a noite:
- Seu problema é que você é um egoísta. Só pensa em você.
- Aaah... O egoísta sou eu? Bom saber que você acha isso.
- Bom saber, por que?
- Por nada.
- Não. Agora você vai me falar. Bom saber, por que?
- Diana, quer saber? Não fode. Já to de saco cheio dessa merda toda. Não agüento mais esse nhem nhem nhem cada dia que chego em casa.
- Cada dia que chega em casa BÊBADO, né?
- E se for? Qual o problema? Melhor beber do que ficar a noite inteira no computador.
- Quem fica no computador? Eu? Ahhh. Era só o que me faltava. Você chega fedendo a álcool de segunda a segunda e vem reclamar que fico estudando no computador. Pelo amor de Deus... Cara de pau tem limite, porra.
- Estudando? Diana, na boa, quem você quer enganar?
- Estudando sim. Não quero mais depender de você pra nada. Vou passar nesse concurso, você vai ver.
- Diana, pára com esse show. O bar ta inteirinho olhando pra minha cara. Quer saber? Eu sou o Leandro.
- Que Leandro?
- Quê? Que Leandro? Que Leandro? Eu digo que Leandro: Leandro, o cara com o qual você disse que fugiria, tão logo tivesse coragem de largar seu marido. O mesmo cara que entra toda noite na internet. O Leandro, sua vagabunda, sou eu.
- Ricardo, como você pôde...
- Para com isso, porra! Não fode! Faz esse papel, não. Você acabou com a minha vida. Há três meses eu tô nessa. O que você falou pela internet, com esse cara que você pensou que te amasse, você sequer imaginou falar pra mim. Um cara da internet, Diana. Meu Deus...
- Amor... Não é isso!
- Você é uma piranha, Diana. Pra mim acabou. To fora. Um abraço.
- Pérai, porra! Ricardo, espera...
- Tia, leva um amendoim? Três por cinco reais.
Na noite seguinte, talvez na Guanabara, talvez no Diagonal - não importa - o Leblon continuaria a atropelar quem lhe desafiasse.