Meio metro sobre o chão de Copacabana

O de boné vermelho apenas apressou o passo.
 
A bela menina, calça jeans bem justa combinando com uma camiseta lilás, até que chegou a olhar, ainda que de soslaio.
 
O senhor de terno preto, risca de giz, três metros antes, sacou do bolso o moderno celular e o pôs no ouvido esquerdo. Queria, de fato, estar falando com alguém.
 
As duas senhoras, as mesmas que ali passavam religiosamente todos os dias a caminho da padaria, continuaram a conversar sobre a vizinha de 203 e sua feia mania de estender roupas íntimas na janela. Era o terceiro dia seguido.
 
O menino, que aparentava não mais de oito anos, não apressou o passo e nem mudou a música de seu ipod. Apenas seguiu seu caminho, naturalmente. Era menino.
 
A moça de jaqueta branca; o casal que já não mais se olhava, apesar das mãos entrelaçadas; o policial que ficava cada dia mais gordo; e o porteiro – ou seria servente? – do prédio bege da Miguel Lemos, bem na esquina com a Nossa Senhora de Copacabana. Todos passaram normalmente.
 
O dia nublado e agradável, afinal, não motivava ninguém a sair da rotina. Ainda que essa dissesse respeito ao apuro no caminhar pelas pedras portuguesas da calçada cada vez com mais camelôs.
 
Padre Ricardo fez menção de esticar um dos braços, o direito. Parou, entretanto, ao ver alguns morangos bem vermelhos na banca de frutas do outro lado da rua. No caminho, com uma leve contida no ritmo, observou com algum cuidado a belíssima bunda da capa de maio. Suzana alguma coisa. Atriz.
 
Daquela vez, só levou morangos. Deve ter achado que a atriz exagerou no fotoshop.
 
Maria chegou e sentou. Nada falou. Seguiu. Não sem antes olhar para o que eu tinha conseguido. Nada.
 
Já se passavam das oito.
 
A sirene aguda do Solar do Amapá deu o alerta. Pela hora, fatalmente seria aquele senhor de bigode. Saía sempre com um dos netos, e, é claro, com o motorista. Estava com pressa. Rapidamente partiu, a tempo de pegar aberto o sinal da esquina.
 
Finalmente alguém parou. Um grupo de turistas japoneses. Caprichei. Apenas tiraram fotos. Muitas fotos.
 
Quem viu foi a mulher de verde, que, carregando um fox paulistinha que parecia desgostoso, pareceu não ter gostado. Balançou levemente a cabeça para ambos os lados. Mas parou na amendoeira para que o Rambo fizesse xixi. De tarde eles voltariam. E antes da novela das oito também. Coitado do Rambo.
 
Finalmente avistei Irene. Estava atrasada e sem nada nas mãos. Como de costume, parou na minha frente. Deixou duas bananadas que acabara de tirar do bolso. Estavam amassadas. Prefiro quando tem pudim de leite.
 
Quase nove.
 
Foi um distinto senhor de camisa pólo - sorrindo e cantarolando algum samba antigo -, quem primeiro fez tilintar a lata de goiabada que repousava ao meu lado.
Vinte cinco.
 
Não apostaria nele.
 
Copacabana está ficando cada dia mais esquisita.
Gustaalbuquerque
Enviado por Gustaalbuquerque em 19/11/2008
Código do texto: T1291809
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