Ele e Ela
Ela o quer, ele a quer. Ela o tem, ele a tem. Ela o ama, ele não sente absolutamente nada. Vivem entre flores e enchentes, cometem loucuras, se transformam. Agora ele é um homem, e ela, uma mulher. Ela precisa dizer que o ama, ele nem sequer desconfia disso.
Terminam. Ela, por nunca ter ouvido uma palavra de amor, ele, por uma besteira qualquer. Ele a procura, ela cede; os dois se amam loucamente, mas não com o amor necessário. Ela tem medo, prefere não arriscar.
Após uma semana longe, ela diz: "Estou apaixonada", e ele responde: "Você, em pleno século XXI, ainda acredita no amor?".
Ela, agora, já está formada; ele, mora sozinho e passa o dia todo dormindo. Se encontram novamente, não se falam, apenas mergulham em um beijo; ela, sem dar o amor, ele, sem recebê-lo. Ele se sente estranho, e ela entende o que vem a ser ficar só por ficar.
Mais alguns anos se passam, se encontram, conversam, e ela percebe que o amor não acabou. Voltam. Casam-se . Não têm filhos e vivem, nem felizes, nem infelizes, nem gostando e nem deixando de gostar. Ela todos os dias tenta dizer a frase que tanto quis quando menina, e ele foge disso.
Um belo dia, após acordar de uma noite maravilhosa de amor, ele encontra um bilhete: "Eu te amo". A mulher agoniza na cama.
Ele a leva para o hospital e o médico diz: "A dose foi grande demais, não podemos fazer nada." Ele sussura em seu ouvido o que ela sempre quis, ela parte em paz.
Hoje ele é um grande poeta, que após cada folha de poesia escreve a seguinte frase: "Acredito no amor, em pleno século XXI."
Sempre lhe perguntam o porquê disso, e ele, de cabeça baixa, responde com sua voz triste e fraca: "O amor não tem porquê".