BOLSA DE MULHER

Entre outras muitas, uma coisa que desperta a curiosidade dos homens é bolsa de mulher. Se estiver exagerando, pelo menos por mim posso afirmar que vejo nas bolsas que as mulheres usam um certo quê de mistério. Não na bolsa propriamente dita, mas no seu conteúdo. Especialmente quando são daquelas bolsas enormes que, fico pensando, poderiam até comportar os meus apetrechos em uma curta viagem.

São bolsas dos mais variados tipos, formatos e cores, com adornos que também podem ser dos mais discretos aos mais chamativos. Não estou nem um pouco tecendo críticas sobre esse acessório feminino, porquanto sei que é uma questão de moda e para isso existem os especialistas de criação, que merecem todo o meu respeito.

Feitas essas considerações preliminares, dia desses presenciei uma cena que, se foi constrangedora para a pessoa, foi para mim motivo para justificar a minha curiosidade sobre aquele acessório, que reconheço indispensável ao universo feminino.

Ao dirigir-me àquelas portas rotativas, de segurança, hoje existentes nas agências bancárias, na minha frente estava uma senhora aguardando a sua vez de entrar. Já havia ela colocado dois telefones celulares naqueles escaninhos situados próximos às portas rotativas.

Quando a senhora foi passar pela tal porta, esta travou. Ela teve que voltar e o segurança do banco aproximou-se para, naturalmente, tentar resolver o problema. Ouvi quando ele, notoriamente de bom humor, perguntou à senhora se ela tinha uma tesoura na bolsa. -"Tesoura na bolsa?", retrucou a mulher, com espanto. O guarda sorriu e solicitou gentilmente que a bolsa fosse aberta, para que ele pudesse examiná-la.

A mulher abriu a bolsa, que tinha mais de um compartimento, todos dotados de ziper. O vigilante examinou detalhadamente o seu interior sem, contudo, tocá-la. De forma discreta, com os olhos, verificou o que continha. Nada encontrando que pudesse, em princípio, impedir a passagem da senhora pela porta de segurança, pediu a ela que tentasse novamente. Os celulares continuavam no escaninho.

A mulher não conseguiu, de novo, passar pela porta. Demonstrando já uma certa irritação, dirigiu-se ao guarda para que ele, afinal, solucionasse o problema, pois ela precisava entrar no banco. Tendo a bolsa sido novamente vistoriada, o guarda não teve alternativa senão solicitar à mulher que esvasiasse a bolsa, colocando tudo o que continha dentro de uma sacola de plástico, que foi fechada com dois nós. Antes de fechar a sacola, o vigilante teve o cuidado de colocar nela os dois celulares que recolheu do escaninho.

Como a sacola de plástico era transparente, podia-se ver a quantidade e variedade de objetos que estavam na bolsa. Tinha de tudo, pode-se dizer, ou quase de tudo. Menos tesoura. O segurança encarregou-se de tomar conta da sacola. E eu, intrigado com o que havia naquela sacola, só observando.

Agora, com a bolsa vazia, a senhora dirigiu-se novamente à porta rotativa. Para espanto dela, do guarda e de algumas poucas pessoas que presenciavam a cena, inclusive eu, pela terceira vez a porta travou. A mulher voltou, já demonstrando visível constrangimento e nervosismo, pois percebeu que outras pessoas estavam acompanhando a sua desdita.

Não tendo mais o que fazer, o vigilante, numa atitude certamente desconfortável para ele, pediu à mulher que lhe confiasse a bolsa, juntamente com a sacola de plástico e se dirigisse mais uma vez à porta rotativa, levando consigo apenas o necessário para resolver sua questão no banco. Aleluia. A mulher finalmente passou pela porta. Do lado de dentro disse ao guarda que não iria demorar na agência e que voltaria logo para pegar os seus pertences. O guarda, educadamente, disse a ela que ficasse à vontade. Eu continuava observando os acontecimentos.

Em poucos minutos a senhora saiu pela mesma porta que havia entrado. Visivelmente aborrecida, a mulher recebeu do guarda sua bolsa e a sacola com seus objetos, mas insistiu em ter uma explicação para o acontecido. O vigilante, demonstrando paciência, disse a ela que ele próprio, segurando a bolsa da mulher, iria tentar passar pela porta. Ela consentiu. Não é que o prestativo vigilante também não conseguiu escapar dos detetores de segurança, tendo a porta rotativa bloqueado a sua entrada.

Aonde estava o problema? na bolsa, evidentemente. Melhor dizendo, nos adornos metálicos que o fabricante achou por bem ornamentar abundantemente a sua obra. Era uma bolsa recém comprada e estava sendo usada pela primeira vez, revelou a senhora. A mulher, ruborizada e sentindo-se vítima de um episódio que beirava o ridículo, disse ao guarda, após colocar na bolsa todos os objetos que estavam na sacola, que iria imediatamente à loja onde comprou a bolsa, devolvê-la e exigir a restituição do dinheiro que havia pago na sua compra. Incontinente, saiu.

Eu, que já tinha essa curiosidade sobre bolsa de mulher, fiquei pensando com os meus botões: como as mulheres padecem. Além de carregarem um acessório daquele tamanho, pesado, cheio de trecos, ainda passam por situações como aquela. E quando precisam encontrar algum objeto dentro da bolsa e a reviram toda, para consegui-lo? é, acho eu, quanto maior a bolsa, mais objetos as mulheres sentem necessidade de carregar consigo. Enfim ...

Só depois de presenciar a cena e tudo terminado é que me lembrei que também tinha coisas a fazer no banco. Felizmente, não portava uma bolsa para me dificultar a entrada. Que alívio, pensei.

Após sair do banco meu pensamento voltou a fixar-se no que aconteceu naqueles 15 ou 20 minutos, com a mulher e sua bolsa. Não tive como evitar tentar descrever tudo o que presenciei, o que estou fazendo neste momento. Agora, mais aguçada ainda ficou a minha curiosidade sobre o que pode estar contido em uma bolsa de mulher. Será que algumas podem levar até tesoura?

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 29/11/2008
Reeditado em 01/12/2008
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