De dentro dos olhos

O dia estava chuvoso, o crepúsculo recém iniciava e um vento frio corria pela janela. Estava sentado balançando dados, seu chinelo devia ter uns cinco anos de uso, havia ganhado de sua avó no natal. Sua coluna estava mal posta na cadeira (como sempre), mas naquele momento isso não importava mais, na verdade naquele glorioso momento nada importava mais.

No relógio da Catedral, perto de sua casa, batia 6h00min, a aula já havia acabado fazia tempo, ou melhor, seu tormento já havia acabado. Parado naquele momento refletia sobre o tormento, olhares menosprezantes, deboches, ironias e risos, já faziam parte de sua vida.

Ah se alguém soubesse, que aquele garoto de olhar baixo, tímido, amargurado, cabelos revoltos que nem sua mente, sentado ali naquele momento se tornaria a Quimera da Humanidade.

Nunca foi de fazer muitas perguntas, notas medianas o suficiente para passar, apenas se relacionava com sua classe rabiscada e seu velho mp3. Não havia perspectiva em sua vida até então, queria ser apenas mais um. Tinha uma raiva profunda guardada em si contra todos os seres humanos a sua volta.

Um belo dia fazendo seu café teve uma idéia sombria, que não conseguia explicar de onde saiu. Veio a imagem daquele rosto loiro, esbelto de seu colega Mike, o pegador, seu querido colega desde a quarta série.

Raiva, simplesmente raiva foi o que impulsionou suas idéias. Botou a xícara no balcão, e seus olhos só visavam aquele objeto laminoso, grande, afiado, que parecia estar retribuindo o olhar, mas era o reflexo que fazia observar a fúria de seus olhos.

Passou o dedo sobre ele e sentiu o prazer em ver o sangue escorrendo, o sangue, que a partir daquele momento seria seu melhor amigo.

Resolveu sair para da uma volta, contemplar uma das únicas coisas que ele gostava: a natureza. Ela não o rejeitava, aceitava ele do jeito que ele era, e estava sempre disposta a recebê-lo, ao contrario das outras pessoas.

Após um bom tempo sentado, extremamente calmo, escutando as coisas que o silencio tinha a dizer, colocou a mão no bolso de seu casaco, mas tirou rapidamente, algo afiado estava ali, então colocou com cuidado a mão novamente no bolso e retirou o objeto.

Contemplou, analisou seus mínimos detalhes e resolveu agir. Guardou o objeto e saiu em disparada, só ele sabia o caminho que tinha que seguir.

Parou diante daquele aglomerado de pessoas, das quais nem perceberam sua presença, observou quem há muitos anos havia despertado um sentimento que nele estava adormecido.

Aproximou-se, porém quando tomou coragem e ia à direção que seu coração mandava alguém cortou seu caminho, e fez o que há anos ele ansiava em fazer.

Mike beijou Louise diante de seus olhos, ele perdeu o chão e o controle, empurrou Mike e falou o que sempre quis falar:

- Louise eu te amo, te amo desde o primeiro dia em que olhei nos seus olhos.

Carlos Chaves
Enviado por Carlos Chaves em 09/12/2008
Reeditado em 16/05/2009
Código do texto: T1327304
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