Detalhes da vida

O dia estava lindo, com um sol radiante e o céu bem azul contemplava a pracinha do bairro.

Com o rosto contra o vento, fazendo com que seu cabelo balançasse suavemente, Júlia ia e vinha sentada no banco de madeira do balanço da pracinha. Seu amigo Miguel estava no balanço ao lado, indo cada vez mais alto até que resolveu pular.

Sentiu-se como um pássaro no ar, abriu os braços com uma sensação de liberdade e sentiu seu corpo tocando fortemente no chão.

Miguel não conseguiu levantar sozinho.

As mães que ali estavam, correram até onde o menino havia caído. Ficaram aflitas ao ver ele ali no chão e não poderem fazer nada. Dona Maria, uma senhora que tinha por costume passar todos os finais de tardes na pracinha, chamou seu filho que era médico.

Ao chegar viu um aglomerado de pessoas, pediu para que se afastassem e deixassem o menino respirar. Chamou a ambulância e foi junto com Miguel pra o hospital.

Miguel passou por uma bateria de exames e foi contatado que ele perdeu o movimento das pernas, estava paraplégico. Seu pai ficou desesperado quando recebeu a noticia e ficava cada vez mais nervoso ao ver sua mulher aos prantos no seu lado.

Quando acordou não sabia direito onde estava, olhou seus pais e duas enfermeiras na sua frente, e se lembrou de que havia pulado do balanço e caído de mau jeito. Pediu para sua mãe lhe dar um beijo e disse que queria levantar, mas Flávia fez um olhar triste e disse que era melhor ele ficar deitado.

Na manhã seguinte Júlia chegou ao hospital acompanhada de sua mãe. Ela havia comprado uma cesta de chocolate para Miguel, pois sabia que ele adorava.

Dava para ouvir o choro de Miguel a metros de distancia do quatro em que ele estava e ouviu ele falar: “Não é justo, como não...”

Ficou preocupada e apertou a mãe de sua mãe.

Após um bom tempo sentada com sua mãe na frente do quadro de Miguel, a porta se abriu e Flavia as convidou para entrar.

Júlia percebeu uma tristeza enorme nos olhos de Miguel, mas logo viu sua fisionomia mudar quando lhe deu a cesta de chocolate. Juntos comeram todos os chocolates e conversaram bastante até a hora dela ir embora.

Passou oito anos do acidente e Miguel aprendeu a viver sem o movimento das pernas em cima de uma cadeira de rodas. Seu relacionamento com Júlia estava cada vez melhor, a melhor namorada do mundo, como ele costumava dizer.

Miguel virou um excelente pianista, ganhou vários prêmios e ficou conhecido nacionalmente.

Faltavam poucas horas para o grande show que iria fazer no teatro municipal. Júlia estava ansiosa, porém sabia que Miguel iria fazer uma bela apresentação.

Ao término da apresentação, ainda com o som dos aplausos, Miguel disse: “Acontecem coisas em nossas vidas para nos mostrar o verdadeiro caminho a seguir. Todos somos detentores de sonhos, jamais desistam deles”. Foi aclamado pelo público, vários minutos de aplausos não só da platéia, mas da vida.

Carlos Chaves
Enviado por Carlos Chaves em 10/12/2008
Reeditado em 08/01/2009
Código do texto: T1327509