Baladeira (ou de como ela fez as pazes com a alegria)

Na juventude ia ao cinema vez em quando. Quando começou a namorar com B.... saíam todo final de semana. Cinema, teatro, shows, festas, mostras culturais, jantares, museus. Menos dançar, afinal, ele não gostava (ou não sabia) e ela não quis se indispôr.

Quando tinham um jantar ou uma formatura, dançavam uma música lenta ou duas e ela ia para a pista sob o olhar condescentente do marido, que a via sambar e dançar rock, tudo solto, pois ela não se atrevia a olhar ao lado para conquistar um parceiro para a dança.

Naquela crise do casal na virada do século, ela passou a ter o pensamento insistente de que gostava sim senhor de dançar e de sair para dançar. Sempre assistia aos musicais e se emocionava ao ver os casais dançando.

E contou para ele, que para agradá-la e pode ser que também tentasse reatar o casamento fazendo alguns gostos da esposa, aceitou fazer aulas de dança. Todo mundo os achava um belo casal, e tal. Mas ele não tinha disponibilidade, dizia que de tempo, mas ela sabia que ele se incomodava com muita coisa que a dança e a proximidade dos dois nas aulas, trariam à tona. E nas aulas havia a troca de pares, afinal, o par não pode ficar viciado no/a parceiro/a.

As aulas não vingaram depois de três meses. Eles saíram para dançar, escolheram vários lugares e ela parecia que se enamorara dele de novo. Mas passou. E tudo foi virando rotina. E ela ficando sem graça, até envergonhada por ter pedido tudo isso a ele, exigente que sempre fôra.

Os meses foram passando e o casamento dava indícios claros de que não se manteria. Ela tinha a certeza de que não se amavam mais. Pelo menos que ele não a amava. E foi contando para si mesma, e provando por a + b que ela também sentia o mesmo. E idéias foram surgindo, e ela procurou sua turma, que não existia mais.

Foi buscar companhia para sair. E saiu. Foi uma festa anos 70, depois, uma baladinha num barzinho ( e dançou...). Depois uma saída para dançar, e assim foi acontecendo. Finalmente descobriu uma amiga com gostos afins e saíram bastante para dançar. E ela dançava a noite toda, mas não gostava dos parceiros, em geral. Vez por outra encontrava alguém afinado.

O casamento já tinha acabado e ela saía sem culpa. Os filhos, sempre a apoiaram a não ficar enfiada em casa. Voltou a fazer aulas de dança, tango inclusive. Mas agora, dançar era uma possibilidade a mais, e ela transformara-se em uma parceira exigente. Preferia parceiros ágeis e experientes, que a levavam a rodopiar pelos salões amplos.

Ela precisava de espaço. De ar. Coisa boa pensar no vestido, separar a meia de seda e o sapato de saltos altos e finos. Elegante, passou cada vez mais a se sentir bonita e se arrumar. Perfumes do gosto dela, jóias. Pensava em si.

E aí descobriu mais uma opção na noite. Cantar. Ah, que prazer foi quando botou a voz de veludo pra fora e a canção agradou não apenas a si, mas às pessoas. E passou a saber escolher bem o que cantar, pois as palavras que ecoaram no ar diziam tanto de sua alma!

Sônia Casalotti
Enviado por Sônia Casalotti em 13/12/2008
Reeditado em 13/12/2008
Código do texto: T1332992
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