CIUME TURCO

CIUME TURCO

Nos arredores da Vila de São João vivia um vendeiro turco, mal encarado personagem de enormes bigodes e vasta barba negra; era um homem estranho, mas não aborrecia ninguém, vendia fiado cobrando o dobro do valor ao receber, mas era até boa pessoa; o turco Salim era casado com uma bonita italiana de seios enormes e natureza fogosa que se chamava Bianca.

Foram vivendo em paz até o dia que Salim desconfiou que sua Bianca o estava traindo, enfurecido e louco de ciúmes o vendeiro acabou enforcando a esposa, com o florido lenço de seda que ela sempre usava na cabeça e as coisas correriam dentro dos costumes em tais acontecimentos, se a família de Bianca não tomasse a decisão de linchar o turco.

Era uma família numerosa e fortemente armada, cercaram a cadeia exigindo que o turco lhes fosse entregue, deixando lá dentro em apuros o preso, o delegado Zurico, dois soldados e dona Marica a esposa do delegado que só estava de passagem; não havendo outro jeito o Zurico armou e municiou até sua esposa, colocando sua pouca gente em pontos estratégicos.

Pretendia defender a cadeia e a vida do preso, mas as horas foram passando e o delegado falando com os enfurecidos italianos ia ganhando tempo, até que anoiteceu, noite escura, muito escura mesmo porque não tinha lua e como a vila não era servida por luz elétrica, era um breu total, mas para sorte do preso e do delegado,

estava hospedado no único hotel do lugar, um viajante.

Esse caixeiro viajante era muito amigo de Salim e resolveu tentar ajudar, se aproximou cautelosamente dos italianos e pediu para falar com o chefe da família e atendido disse que era muito amigo do delegado e que se eles o deixassem entrar na cadeia, ele convenceria Zurico a lhes entregar o preso; os italianos confabularam, gesticularam e resolveram concordar.

Armado de uma bandeira branca, o cometa se aproximou da cadeia e pediu ao delegado que o deixasse entrar, já de dentro ele explicou seu plano, que não havendo no momento nada melhor, foi logo aceito; algum tempo depois o viajante saiu da cadeia e foi visto pelos italianos, porque seu terno de linho branco e seu chapéu panamá caído na testa se destacavam no escuro.

Mas o sabido combinara com eles que se o delegado concordasse em entregar o preso, ele passaria calado e era só esperar um pouco que o turco seria entregue, então deixaram que ele passasse em paz; a verdade porem era que o caixeiro viajante estava escondido no forro da cadeia e o preso de barba e bigode raspados, com suas roupas brancas passara entre eles.

O delegado foi obrigado a se arriscar a perder o preso para evitar muitas mortes, mas não o perdeu, a palavra empenhada foi honrada por Salim que se entregou em Santana, distante sete léguas da Vila de São João; o cometa deixou um bom cavalo preparado perto do Açude Velho, para Salim viajar as sete léguas que separavam a Vila de São João da cidade de Santana.

Zurico deu um bom prazo para o ex preso tomar distancia e abriu a porta da cadeia que foi invadida aos berros pela italianada que não encontraram ninguém e o jeito foi se afastarem curtindo a raiva e o desapontamento; na noite seguinte Zurico e seus soldados conduziram o caixeiro viajante para fora da Vila de São João, onde ele nunca mais voltou.

Os italianos terminaram por desconfiar do que realmente aconteceu e juraram uma vendetta contra o inteligente cometa, mas nunca conseguiram encontra-lo, porque ele sumiu para sempre da região; o turco Salim foi condenado a dezesseis anos de prisão quando foi julgado em Santana e tudo voltou à normalidade na pacata Vila de São João.

Maria Aparecida Felicori{ Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 15/12/2008
Código do texto: T1336460
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