NATAL PERTO DO CÉU

NATAL PERTO DO CÉU

Lá bem no alto do Morro do Cruzeiro, tem uma capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, onde os devotos da Santa rezam todas as tardes contritamente o terço; são pessoas humildes que moram em modestas casinhas ali mesmo no morro em volta da pequena capela, são pobres e são felizes porque aceitam sua condição de vida conformados com a vontade de Deus.

Lá não existe preconceito e ninguém quer saber se o vizinho é branco, negro ou amarelo, porque a pobreza com suas dificuldades os tornam amigos e irmãos e o pouco que conseguem é repartido com muita boa vontade com os amigos em hora de necessidade; esse é o estilo de vida naquele pedaço de periferia, esquecido pelos mais abonados que vivem lá em baixo.

O ano todo essas pessoas trabalham e vivem dentro de suas possibilidades e nunca se queixam da total falta de conforto, da pouca e simples comida, nunca invejam os bem situados na vida e de um modo ou de outro conservam sua dignidade e honradez; suas crianças são criadas dentro desses costumes e sabem que são pobres, mas também são filhos de Deus e se alegram por isso.

O ano todo essas crianças brincam com muita alegria e sem nenhum brinquedo bonito, tudo que elas têm é feito em casa, bonecas de retalhos e bolas feitas de meias velhas, mas são saudáveis e felizes apesar das circunstancias adversas e por terem saúde tem bom apetite e um simples prato de arroz com feijão os satisfaz plenamente, carne só come raramente.

Quando chega o fim do ano, ao ver na parte rica da cidade de Ouro Verde os preparativos para o Natal, elas são confrontada com as diferenças financeiras e se ressentem, porque para eles festas não existem, mas naquele ano Mariinha perguntou a sua mãe porque eles não festejavam o nascimento do Menino Jesus como os ricos lá de baixo e a pobre mãe não teve resposta.

Mas depois de pensar muito, ela chamou a filha e disse: sabe Mariinha nós podemos festejar o Natal sim, não como os ricos, mas como o Menino Jesus porque ele era pobre como nós e não vai reparar a simplicidade de nossa festa; e convidou os vizinhos para ajudar nos preparativos e todos se animaram com a idéia, cortaram ramos de arvores e colheram flores.

Dentro da capela preparam um presépio, com figuras feitas de cabaçinhas pintadas e vestidas com retalhos coloridos, fizeram a armação com tabuas de caixotes enroladas em tiras de papel e a cobertura da modesta manjedoura foi feita com ramos de alecrim silvestre, que embelezou e perfumou toda a capela; com as flores colhidas no campo alegraram tudo.

Rezaram muito pedindo um milagre, que alguém conseguisse pelo menos alguns doces para aquelas crianças, mas sabiam que seria difícil porque ninguém tinha dinheiro para isso e se conformaram, mas na noite de Natal o milagre aconteceu, com a chegada em procissão dos moradores da parte baixa da cidade, trazendo uma imagem do Menino Jesus para o presépio.

Comandados pelo padre Antonio da paróquia de Ouro Verde, além da imagem trouxeram suas ceias, doces, frutas e presentes para compartilhar com todos; foi uma grande alegria, o padre celebrou a Missa do Galo na modesta capela, o Menino Jesus foi colocado no presépio pelas crianças ricas e pobres de mãos dadas cantando hinos, irmanadas pela mesma fé e alegria.

Terminada a missa a comida foi distribuída e comeram juntos alegremente, violões e pandeiros apareceram e cantaram louvores ao Deus que naquela noite os tornou amigos e irmãos; os presentes trazidos foram suficientes para todas as crianças e uma alegria mesclada de paz e fraternidade tomou conta de todos; o dia já amanhecia quando desceram o morro felizes e dizendo: essa foi nossa melhor e mais linda festa de Natal, Gloria a Deus Nosso Pai, Aleluia.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 23/12/2008
Código do texto: T1349243
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