O PRESÉPIO DE GINO

O PRESÉPIO DE GINO

Gino era uma pessoa estranha, metido em uma eterna roupa preta que realçava ainda mais a sua altura, pois ele media mais de dois metros e ainda por cima era bem magro; usava um surrado chapéu de feltro e botinas de atanado nos pés enormes, falava pouco e aos arrancos e como era um homem rude, jamais dizia uma palavra amena a alguém, era curto e grosso.

Com seus modos bruscos, ele assustava as pessoas que chegavam a pensar que ele era maluco, mas estavam totalmente enganadas porque Gino era inteligente e criativo, e a prova disso era um enorme presépio que ele montava em sua sala todos os anos, durante os festejos natalinos e que encantava crianças e até mesmo os adultos.

O presépio era mesmo uma beleza, suas figuras se moviam de acordo com suas funções, a Sagrada Família movia as mãos como se distribuísse bênçãos e os jumentos, boizinhos e carneirinhos pareciam comer a palha colocada na manjedoura; além dos enfeites tradicionais, Gino colocava novos personagens, que não tinham nada a ver com o assunto, mas tornavam o visual mais bonito e interessante.

Havia um homem com um serrote nas mãos, que serrava sem parar uma pequena tora de madeira, outro vestido de boiadeiro conduzia um boi pelo laço, e de vez em quando dava um puxão e derrubava o boi; lindo era o monjolo que recebia água de uma telha e socava um pouco de milho no cocho, além dessas maravilhas tinha camponesas e camponeses com suas roupas de festa, dançando uma interminável valsa.

Tudo isso era coberto por um céu azul de papel crepom, marchetado de estrelas que piscavam o tempo todo, e a claridade maior era fornecida por uma lua cheia, que permanecia acesa e iluminava o presépio todo; Gino plantava arroz em tabuleiros úmidos, e quando germinavam eram usados para forrar o piso do presépio, intercalados com pequenas ilhas de cascalho branco.

Por cima de tudo vinha uma cobertura de folhas de bananeira, que era trocada a cada dois dias para manter o verde e o frescor, havia ainda uma cascata movida por engenhoso sistema hidráulico, que jorrava água sobre uma bacia onde nadavam peixinhos coloridos e pequenos girinos, em volta da bacia flores variadas coloriam o ambiente.

As pessoas vinham de longe para visitar o famoso presépio de Gino, e eram recebidas na porta pelo dono da casa, com suas roupas esquisitas e seu eterno mau humor; ele não ria nunca e exigia que as crianças mantivessem as mãos nas costas durante a visita, que era policiada com olhos de águia, se alguém se atrevesse a tocar em alguma de suas obras de arte, era empurrado bruscamente porta afora.

O presépio era realmente lindo, mas era uma visita difícil de ser feita, porque além dos mau modos do temperamental artista, ainda havia as guardiãs do lugar, que eram as centenas de pulgas existentes, porque Gino acumulava trastes e jornais velhos pela casa toda, e jamais fazia uma faxina; os visitantes entravam,olhavam o maravilhoso presépio e saiam aos pulos, batendo nas roupas com as mãos para afastar os agressivos insetos.

Durante mais de cinqüenta anos, aquele homem estranho preparou seu presépio, e de ano para ano ele aumentava seu acervo, com novas e engenhosas peças, mas nunca mudou suas maneiras bruscas e nem perdeu suas manias; mas lá no fundo ele era uma boa pessoa, porque quem cultua com tamanha fidelidade o Menino Jesus, é porque também ama as demais criancinhas desse mundo.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 23/12/2008
Código do texto: T1350540
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