Dedo de Agulha

até o fim

bem longe

do mundo...

chegando perto,

sujo ou limpo

tô indo prá lá,

decerto!

aqui não fica nada,

aqui é água

doce

é ponte sem destino.

conta uma história

sem véu,

parecida com a cor

do céu!

que eu outra

eu conto,

bem clarabóia.

mas aqui não

fico mais

por questão

que mistura em fel

até a aurora !

e não sou

visionário,

sou simples,

igual

aos missionários.

fali!

decerto

que fali!

sem desacertos,

com direito

a enterro

de flores,

e coroas

de azul,

até bem

feitas!

fali!

cai de

um pedaço

do mundo

pra outro.

fui enlace

dos pobres

e sem rumo,

só aos pássaros

faço encantos!

pobres!

que choram

cântaros de

mágoa

redimida!

aqui não

tem vez, não!

aqui,só chegam

os vândalos

sem canto!

agora,

tá todo mundo

perto,

mas depois,

fica

todo mundo

bem longe,

nesta estrada

longa

decerto!

tô andando

prá frente,

mas,sei,

estou

indo mesmo

é pros

bentes.

aqui ninguém

gosta de ninguém

nem o próprio

capataz.

azar!

batida de mel,

não dói nem

ao sincero rapaz!

gosto dela

até o fim

do mundo,

mas cheguei lá,

e nove foras,

metade de tudo,

ela também fugiu,

prás araras

de casas

imundas,

de casebres

sem fundo!

to caminhando,

há um tempão,

na sombra

e no sol

lá fainando!

lá penando!

decerto!

não consigo

ir mais

longe;

porque verso

não tem

mais

e a prosa

morreu

de velha

e sem

inspiração!

nem a fonte,

bem iluminada,

desperta mais

amor,

pra quem vai

sem cor,

depressa,

correndo,

prô

dia

de ontem.

cansei!

penei e

fanei!

regra

não tem!

a prosa voa

e a poesia

é alegre.

decerto!

no final dá

tudo certo!

tem muito vinho

e taças

mortas de

tanta alegria.

passo ao largo,

sou torto,

sou caça

e dízimo dos

pobres,

sem ao menos

saber cantar

a fúria

desmedida,

com tamanho

beleza de verso

que me enlaça.

fui todo,

fui devagar,

de cântaro

na mão,

e o verso

na outra.

decerto!

por partes,

e por feridas,

ninguém é,

pelo menos

não

mostram

o vão

ferino!

fui de adeus,

sem beijos,

ou próximos

abraços,

fui triste,

pois os homens

de ásper

só cantam

a mesma toada

sem enlace!

sou pobre,

sem

nascença,

poeta

já sem

crença.

desfiz o encanto

sem pranto.

desfiz a mágoa

sem canto!

de um lado

os melhoranças,

de festa rápida,

de bebida

curta,

mas de

frases

belas,

cheias de

almejos

com amêndoas

de amor.

fui chegando

sem sair,

fui olhando

antes,

sem parar,

mas sabia

que por traz

do moinho

havia uma multidão

de ranço,

portando bandeiras

de avante!

fui grego

e troiano

paz e guerra

e hoje não tenho

como forjar

a espada.

que inimigos?

que me enfrentem!

sem pedir

uns centes

sem se humilhar

no cadafalso

sem lenha!

fui embora

sem vez.

de certo!

é sua vez.

e digo

sem

chorar,

uma vez

fui eu,

na outra

errei

e passei

da lei!

tô preso

aqui e lá;

me fazem

falta

ternos amigos.

mais

é

onde

de ferinos,

recebo

presentes

de falsos

peregrinos,

da larga vida,

de altos

passos!

juras!

não mais

são

fulminantes,

são remendos

de amor

de turras!

nem a entrada,

nem a

ruminante

saída,

tem

sobras de

luz,

só restos

de amantes.

juras

agora só de

longe.

decerto!

não sou

monge!

e vou sem mala,

e vou sem cuia.

são ainda

de belos,

mas sem

violas,

sem ela,

pobres seixos,

sem a prosa

e o verso.

vou sozinho

procurando

um novo elo.

decerto!

o rei morreu!

de perto,

bem de perto..

lá vou eu!

entrar de vez,

no Dedo de Agulha,

que a tenra avô

me fez!

mas para jamais

tudo

esquecer!

José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/04/2006
Reeditado em 07/04/2006
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