Desenlaces

Nina tinha 18 anos, numa época em que ter essa idade era ser uma menina ainda. Enquanto os braços enlaçavam livros didáticos, pela cabeça desfilavam romances quixotescos.

Nina tinha um namorado, Mário, mas já não participava desse namoro, sua cabeça voava em busca de outros sonhos, percebera que não seria ali seu porto, seu ninho, e numa manhã, junto aos amigos, com um lápis em punho, escrevera num pedacinho da mureta do colégio: ’let me try again”,um pedido melancólico, um desabafo ao destino.

E de repente ela percebera um rapaz que ali em frente à escola todos os dias passava a fim de vê-la, ele parecia pertencer a um mundo diferente, cheio de encanto e sutilezas, e seu coração abraçou o mistério que seus olhos viram....

Sim, dissera ao destino, essa é a resposta a todos os meus desatinos...

E embarcou num romance intenso, em que cada dia havia um deslumbre, um véu a ser suspenso...

Nina sentia-se a mais bela, de toda a campina, a flor escolhida, sua vida parecia como que confeccionada por fadas, para então eternizar-se num livro de capa vermelha com letras douradas...

Pelos jardins da cidade conversavam a respeito de filosofia e amenidades, Beethoven, Epicúrio e Voltaire misturavam-se a risadas, confidências e bobagens...

E assim passaram 22 dias sem nunca deixarem de se ver, até que num final de semana Alberto viajou, e sua ausência propiciou o avanço de negras nuvens.

Era uma tarde de sábado, quando uma antiga namorada apresentou-se a Nina como noiva de Alberto, um noivado ainda não terminado, algo mal resolvido.

E naquele instante Nina sentiu a mais linda fábula tornar-se uma farsa de péssima qualidade...

A tempestade impedira a volta de seu amado, fazendo com que as palavras que havia ouvido, como um remédio que jazia curtindo, tornassem-se mais e mais amarga a cada minuto que passava.

Quando no nadir de sua dor resolvera conversar com seu antigo afeto, marcara um encontro que seria decisivo, trancara assim o cadeado que a ataria aos grilhões da culpa de um sonho não realizado.

Alberto chegara de viagem e ao invés de encontrar uma namorada encontrara Nina noiva de outro.

Suas tentativas de encontrar-se com Nina tornaram-se inúteis, e o que ouvia eram apenas seus planos de casamento e filhos que teriam. O fim estava selado.

Alberto silenciou. Nina levou adiante seu plano pueril de revanche, não queria casar-se com Mário, porém precisava saber se Alberto a impediria de casar-se com outro, queria a certeza solar de seu amor, e deixou-se levar pelos preparativos do casamento sempre desejando a intervenção de Alberto...

Numa noite, sonhara que ele a havia seqüestrado da igreja antes do sim.Quando acordada preparava tudo pensando nessa cena, escolhendo até as músicas que seriam a trilha sonora da cena mais bela de amor.

Nina fizera toda a liturgia, escrevera o script, porém, esquecera-se de dar as falas certas a Alberto.

E quando ela deu por si, havia levado seus atavios amorosos longe demais, acovardada com a situação em que se metera, não vira outra saída por hora a não ser casar-se.

Restara a Alberto, sozinho, olhar a foto dos noivos nos jornais, foto essa que impressionava tal era a tristeza da noiva. Nina, logo separou-se de Mário, e o casamento fora anulado, depois disso nunca mais o viu. A suposta noiva de Alberto casara-se com outro, e nos poucos momentos em que Nina a encontrara pelas ruas podia ver em seus lábios um leve sorriso, enigmático sorriso. Nina nunca souber o que aconteceu de verdade, e Alberto nunca soubera o filme que passou pela cabeça de Nina, não fora mais possível haver a comunhão de sonhos.

Transcorreram décadas, de vez em quando Nina passa perto daquele muro e olha com um sorriso agridoce para a mureta, pois ali ficara debaixo daquelas camadas de tinta, perdida para sempre, a frase que havia escrito há tanto tempo: “Let me try again”.

Katia Silene Ceregatto Venturoli
Enviado por Katia Silene Ceregatto Venturoli em 07/04/2006
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