O JOELHO DO BICÃO

O JOELHO DO BICÃO

Lá bem longe no passado, as escolas estaduais eram chamadas de Grupos Escolares e eram escolas risonhas e francas, mas em termos, porque as professoras se dividiam entre más e menos más, isso no modo de entender dos alunos; porque na verdade quem eram maus e menos maus eram os alunos, que como agora eram crianças e danadas.

No Grupo Escolar Doutor Silvério Louzada, as professoras eram classificadas por diminutivos e aumentativos e assim todos sabiam que os diminutivos se referiam as mestras menos más e o aumentativo as muito más, por exemplo: dona Anitinha era quase boazinha e dona Anitona era muito má e assim todas eram classificadas.

Eram donas e senhoras, porque ninguém se atrevia a chama-las de tias, porque elas eram professoras e não parentes de ninguém; mas os alunos nas suas travessuras temiam as de nomes aumentados e botavam as manguinhas de fora com as de nomes diminuídos, mas um dos alunos apelidado de Bicão se deu mal com dona Anitinha.

Sebastião José da Fonseca, vulgo Bicão era um aluno diferente dos outros, era mais inteligente que todos, mais feio e o pior aluno da classe; sua enorme inteligência o dispensava de estudar, preparar deveres e trabalhos escolares nem pensar, porque sem fazer nada ele sabia todas as respostas; para ele uns poucos minutos com uma matéria era suficiente.

Com essa vantagem sobre os demais alunos ele sempre se saia bem, mas as professoras sabiam que ele não estudava seriamente os textos e que sua sorte era sua prodigiosa memória, que gravava tudo rapidamente e elas não gostavam nada disso, outra coisa que desagradava as mestras era a aparência desmazelada de Bicão, ele era sujo e cheirava mal.

Era um tormento tolerar aquele aluno e alem de tudo isso, era malcriado e respondão, suas duas professoras naquele semestre eram dona Anitona e dona Anitinha, mas com seus modos gentis a que mais sofria com ele era a dona Anitinha, que tentava todos os meios para civilizar o tosco Bicão; dona Anitona o dominava com seus gritos e beliscões.

Enquanto isso dona Anitinha tentava amansa-lo com sua voz suave e palavras doces, mas chegou o dia que ela aprendeu que doçura as vezes não funciona, foi desse jeito: Bicão estava em um de seus piores dias, imundo grosseiro e ao mesmo tempo brilhante nas respostas a todas as questões, a casa caiu já no final da aula e ele se deu muito mal.

Dona Anitinha fez uma pergunta sobre historia e ele não deu atenção, ela repetiu a pergunta e ele disse: cansei, vou embora e você dona Anitinha pare de perder seu tempo comigo e vá arranjar um marido, porque sua hora já passou e faz tempo, sua solteirona passada da hora, foi ai que a professora perdeu a calma e partiu com tudo para a grosseria.

Pegou o assustado Bicão pelo pescoço e lhe deu uns bons tapas na cara e para finalizar o massacre, deu uma pancada com uma vara de marmeleiro no joelho que estalou e ele foi ao chão, foi um espanto, justamente ela se descontrolar e dona Anitona disse; eu levo a fama de brava e ela deita na cama e rola; Bicão nunca se esqueceu do joelho quebrado, virou gente.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 02/01/2009
Código do texto: T1363037
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