Espertíssimo Cris

FlavioMPinto

Ninguém duvidava que Crismenedes era um homem diferente. Sui-generis. Não admitia ficar sem "passar a perna" em alguém. Era sua vida. Tinha de levar vantagem em tudo que fazia em detrimento de alguém. Cristiar era com ele.

" São uns babacas" era seu constante bordão. Além disso vivia em constante esquema de aparências não deixando denotar que era um " pelado", mas vivendo nos melhores clubes e ambientes da cidade. E ai de quem o confrontasse por isso. Dizia-se conhecido de alguém, sempre.

Enquanto isso, Nivaldo Flaco fugia da polícia. Ora para o Uruguai fugindo da brasileira, ora para o Brasil fugindo da uruguaia. Era sua vida de típico bandido da fronteira. A linha divisória era o seu chão, mais especificamente o território da Pracinha dos Cachorros. E andava armado, embora não matasse uma mosca. Nem sabia atirar.

Outro dia entreverou-se com um cliente ao qual desejava vender um perfume.

- Mira, Tchê, este es um legitimo Xannel Alhure. Veja só o rótulo.

- Mas é falso, Flaco, respondia o cliente.

- Não é não, o meu fornecedor , o velho Alzíbar, é caliente e la garantia soy yo!

- Mais uma vez, não. Não levo e pronto.

- Mira, pierdes un gran perfume. Y outra, aquele ali me comprou dez hoje por la mañana, a vinte pila cada. Mitad del precio dos free-shop, apontando um turista de Porto Alegre.

O Internacional, depois da reinauguração, estava cheio. Toda noite passava filme bom e Cris estava lá com a patroa.

Mas indócil reclamava " Mas como anda devagar essa " bicha. Já vou dar um jeito". E lá , não se sabe como, passava a frente de todo mundo.

Quinta-feira, Livramento, dezenove horas, trinta graus á sombra, cidade lotada de compradores(em Rivera), Cris aguardava pacientemente uma brecha para sair da fila e aboletar-se logo na poltrona para ver James Bond na tela cinemascope do Internacional, quando um alvoroço dispersa a fila. Era sua chance e aproveita para fincar-se quase na bilheteria. Estava salvo.

Logo surgem quatro policiais de arma em punho correndo atrás de um meliante vindo da Praça dos Cachorros. Era Flaco que, perseguido, acaba se escondendo detrás de uma carrocinha de cachorro-quente. Pressentindo que desta vez seria apanhado, Flaco sai do seu esconderijo atirando para todo lado.

Uma das balas acerta Crismenedes em cheio na fila do cinema. Quase na hora que ia comprar seu bilhete para a sessão do 007. Estava no lugar errado.