Um amor e uns cigarros.

Eu não sei bem porque me interesso tanto por desconhecidas - pensou ao sair do carro naquela tarde amarelada.

Olhou para si, enquanto entrava no edifício de seu mais novo amor, admirou seu rosto magro no vidro espelhado e sua magresa adquirida recentemente.

O porteiro o comprimentou e ao chegar no elevador percebeu que havia esquecidos os cigarros e as cervejas que ela havia pedido na noite anterior. Não gostava de flores, nem jóias, prefiro coisas úteis comentava ela.

- Trouxe o que me pediu.

- Eu não pedi, sugeri.

- Que seja, eu trouxe.

Sentou no sofá, pensando na recepção que tinha imaginado - COMPLETAMENTE diferente.

- Já comeu?

- Ainda não.

- Pretende que eu te faça um jantar? Um jantar romântico?

- Por que não? - Respondi, em um tom mais irônico que o dela.

- Você é mesmo um bobão, um bobão romântico.

E gargalhou, com a boca bem aberta. Mostrando todos aqueles belos dentes. Chegou a curvar-se toda para trás para aumentar ainda mais o seu deboche.

- Qual o problema? Afinal o que você quer?

- Não te parece óbvio? Ora querido, não seja infantil.

- Infantil? Eu é que faço as pessoas gostarem de mim transando com elas?

Instalou-se um silêncio incomodo. Talvez fosse melhor não ter dito aquilo, mas agora já havia dito. Um grande dom foi-me dado: sei bem magoar as pessoas.

- Claro que não é, é ruim de de cama. Como ia conquistar alguém?

- Isso é despeito Ana, e você sabe bem.

- Sei droga alguma, há uma semana nem imaginaria que você tão repuslsivo, porque eu não ia te conhecer.

Permaneci em silêncio, vendo-a andar de um lado para o outro, gesticulando e chorando, como um animal ferido.

- Você não sabe nada sobre mim, foram só algumas noites juntos e você já inventa um romance. Você é ridículo - repetiu pausadamente, dividindo a palavra em sílabas - RI-DÍ-CU-LO.

- Claro que eu não sabia nada de você, afinal se soubesse, acha que eu teria me interessado? Você é sozinha, e ao contrário do que eu imaginava, por vários motivos.

- Vá embora, suma, desapareça, saí.

- Claro que sim, mas devolva meus cigarros.. porque você não vale nem isso.

- Seu cretino, desde o começo te disse que não gostav de romance. Agora vá, e espero que você sofra muito.

- Só não como você. Acabará sozinha, sua louca. Uma vadia louca, é o que é.

Desci pela escada, enquanto ela continuava a gritar. Passei pelo porteiro, que me investigava furtivamente pela janelinha.

- Adeus parceiro.

Recebi como resposta do porteiro um abano com a cabeça. Virei-me para o prédio e mandei um beijo para Ana, que me olhava pela janela. Apontei-lhe os cigarros e lancei-os ao lixo.

Fui embora e sofri.