Ao Telefone

AO TELEFONE

- Oi, amiga, que noite nós tivemos.

- Pois é, tu viste o homaço que encontrei lá no Clube?

- Claro. Se me apresentaste. E me pareces muito feliz com o achado.

- E não? É bonito, parece o capitão Rodrigo Cambará!

- Ih, lá vens tu de novo com personagens de romance. Já deves estar com caraminholas, cabeça-de-vento que és.

- Negativo. Agora não vou dar moleza. Nada de cheque para comprar passagens e preparar casamento em Aruba! E pensar que entreguei R$ 20.000,00 para aquele safado, que nem vou dizer o nome. Nunquinha mais, podes crer!

- Sei não. Tu mal conheces um porqueira e lá vem sonho atrás de sonho, encarerradinhos feito fila do desemprego.

- Credo, como és pessimista! Deste jeito, sem acreditar em alguém vais ficar assim como estás. Sozinha.

- E tu, que ficas do mesmo jeito, menos vinte mil?

- Aprendi a lição, já falei. No máximo um presentinho da Masson para o Dia dos Namorados.

- Não brinca que já abriste a carteira! Mal conheces o dito cujo. És uma boba mesmo, não tens jeito.

- Ora, ele é um sujeito legal, gaúcho de São Leopoldo, até já concorreu a vereador, só que perdeu, coitado! E é tão guapo e bem trajado. Fala com discrição e até escreve no jornal da cidade dele!

- Já sei. Deve ter ficado com um monte de dívidas da tal campanha.

- Bah tchê! Tu pareces adivinhar as coisas. Ele até falou nisto, mas disse que não é do seu feitio envolver mulher nestes problemas. Eu até ofereci, mas ele garantiu que nunca aceitou dinheiro de mulher! Sujeito honesto esta aí!

- Amiga, quanto tu gastaste na Masson? Conta p´ra nós quanto vale aquela pulseira de ouro?

- Não foi bem assim! Ele está de representante de uma joalheria e eu comprei umas coisinhas para mim. A pulseira eu vou ficar, mas é para ajudar o coitado com a comissão. Com esta crise ele não tem vendido quase nada. Logo, logo vai estar, me garantiu.

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- Oi, amiga, faz semanas que não nos falamos, como anda a tua vidinha?

- Bem, cada vez melhor. Andava mesmo querendo conversar contigo para contar as novidades aqui do pedaço.

- Ah, é? Conta logo, estou louca para ouvir!

- Lembra do sujeito que eu chamei de Rodrigo Cambará, aquele do baile?

- Sim, o quase vereador de São Leopoldo?

- Este mesmo. Pois vamos casar. Ele recebeu ajuda do partido para quitar as dívidas e tendo cumprido a promessa, se sentiu à vontade para me pedir em casamento. Estou muito feliz, vais ser convidada para a festa e se aceitares, será nossa madrinha.

- Meu Deus, mas tu mal conheces esse sujeito! E já vais te amarrar de novo?

- Sujeito não, é meu noivo, quero que o respeites.

- Eu mal posso acreditar no que estou ouvindo. Ele tem profissão? Trabalha com vendas, não é?

- Bem, ele já está empresa da família.. Estávamos mesmo precisando de um gerente para uma das filiais. Ele não tem experiência, mas é tão jeitoso, vai se dar bem. A gente tem que dar uma força para quem merece, não é bem assim?

- É, ele deve ter feito por merecer mesmo, acredito.

- Estás é com inveja, amiga, mas espera eu te apresentar um amigo dele.

- Não, aceito ser madrinha, mas...

- O quê?

- Quando vais te endireitar, mulher?

Marluiza
Enviado por Marluiza em 22/04/2006
Código do texto: T143312