Ansiosa, eu?


Abriu sua caixa de correspondência e viu o convite inusitado. Gostaria de participar de uma seletiva para a publicação de uma antologia de crônicas e poesias? Continuou lendo admirada e o fato de prometerem enviar críticas sobre todos os textos, levou-a à decisão. Vivia brincando que um dia escreveria um livro. Por que não realizar a brincadeira junto com outras pessoas, todas com o mesmo pensamento seu? Teve dificuldade em selecionar os textos, já que poderia enviar três. Pediu opiniões. Descartou uma montanha de palpites e acabou se deixando levar pelo coração. E lá se foi a colocar os seus sonhos no correio. Procurou esquecer para não viver contando os dias. Dizia, para quem estivesse disposto a ouvir, que só fazia questão das críticas, afinal iriam dizer se valia a pena continuar martelando a paciência de seus amigos leitores.

Um belo dia, lá estava o grande envelope pardo esperando pacientemente sobre a mesa. Sentou no sofá , rasgou o papel e foi puxando lentamente as folhas de dentro. A primeira coisa que viu foi um diploma pomposo com o nome do texto selecionado. Com o coração aos pulos devorou as críticas e depois, abraçada às folhas preciosas, ficou dando pulinhos e rodopiando infantilmente pela sala.

Depois vieram as burocracias da publicação e a gestação sobre a data do lançamento. Voltou ao processo do esquecimento. Desta vez funcionou. Sua vida profissional andava muito complicada e não havia tempo para outros pensamentos. Finalmente estava lá, em sua caixa, em letras vermelhas “Notícias! Notícias! Notícias!”

Pronto, já sabia dia, mês e hora e, a partir daí começou sua agonia. Será que seu texto era à altura dos outros? Será que não destoava? Será que alguém não diria: “Este não precisava estar aqui.” Será que não se sentiria pequena em meio a tantos intelectuais? Será... será... será? Mas não exteriorizou. Fervilhava sozinha. Criou um monte de dificuldades para ir. Mas viu cada uma delas ser quebrada por aqueles que a amavam e acreditavam em seu sonho. Por aqueles que viabilizaram sua realização. E, de repente, lá estava ela sentada no ônibus, um dia antes da data marcada, tendo pensamentos loucos de que o motorista ficaria perdido na estrada, em meio à cerração e ao frio 


Ly Sabas
Enviado por Ly Sabas em 22/04/2006
Reeditado em 13/07/2009
Código do texto: T143525
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