Momentos - A pipa (Parte III)

Depois de alguns dias confusos, o garoto ainda tentava entender a vida, ou pelo menos o que ela se mostrava ser. Tentava prever como seria o futuro próximo. Afinal, seus pais estavam se traindo, e sabia que os segredos não durariam por muitos tempo.

Era domingo. Mas não um domingo comum. Nele aconteceria algo que deixaria o garoto ainda mais confuso. O pai havia feito duas pipas: uma azul para o menino e uma rosa para sua irmã. Todos os três estavam empolgadíssimos para soltá-las. E lá foram, para o terreno baldio ao lado da casa.

O vento estava ótimo, e as pipas voavam alto. O pai ajudava, prestativo como nunca, as crianças a empiná-las. Porém a irmã não teve muita sorte, e sua pipa logo cai. Ela e o pai correm para o local, e se deparam com a pipa toda destruída. A menina se desespera e, como comum aos sete anos, chora por perder seu brinquedo.

A mãe, que fazia com todo o carinho o almoço de domingo, ouve o choro da filha. Solidária, larga por um momento os afazeres e tenta improvisar uma pipa com uma folha de papel e uma linha. A menina não se dá muito por satisfeita, pois não consegue pôr a "pipa" a voar. E seu irmão sente uma pena que nunca sentiu antes.

Decidiu então largar a sua pipa com o pai, e mostrar à irmã como brincar com a "pipa". Correndo pela rua de sua casa, fez a folha de papel dobrada planar no ar, deixando sua irmã felicíssima. E continuaram a brincar assim, até a hora do almoço, que por sinal estava ótimo. Conversaram sobre tudo, riram, se amaram.

À tarde foram passear pela beira-mar da pequena cidade, e tomar um sorvete. O menino sentia orgulho da família que tinha, mas tristeza por esse dia ser único, e nunca ter acontecido antes, e muito menos depois. No fundo tinha esperanças de que seus pais permanecessem juntos, mas sua razão lhe lembrava de que os erros mútuos já cometidos não teriam conserto.

Se sentiu feliz pelo dia memorável. Seria o único dia em que sentiria que já teve, pelo menos por um momento em sua vida, uma família de verdade.