Série: "Coisas de Mulher" - "Agora, mãe"

Ainda eram 3 da tarde, e seu coração estava aos pulos. Faltava menos de duas horas para decidir de uma vez o destino de um ato impulsivo, frio, pouco provável para um momento sem uma dose de tequila.

O dia estava chuvoso, feio, como deveria estar! Chorando...

Olhou-se no espelho mais uma vez como vinha fazendo com maior frequência nas última semanas e seu rosto já denunciava traços de um estado anormal, acima ou abaixo de que deveria estar. O corpo já apresentava mudanças. Os seios, o quadril...a barriga! As lágrimas desciam inconscientemente pelo seu rosto e aquele gosto salgado agora estava amargo...como veneno! Seus olhos vermelhos deninciavam o choro, o desespero... Sem vontade de viver, sem saber o que fazer! Nada estava certo em sua cabeça. Agora, até sua maior certeza era incerta. Seus valores não mais existiam, as evidências eram claras, o racional a obrigava a fazer mais do que o emocional.

Levantou da cama ainda meio tonta pelo efeito dos calmantes. Já eram quase 4 horas. Estava na hora. Seu corpo não precisava levantar...Mas forçou...Entrou no chuveiro a fim de tirar o gosto das lágrimas, o sentimento de culpa, a incerteza e minutos depois lá estava. Em frente ao pequeno espelho redondo, esperando o silêncio do quarto contrastar com o barulho da rua.

A visão da rua parecia embaçada. Carros, buzinas, pessoas apressadas que iam e vinham e mesmo em meio a lentos passos, não tardou a avistar aquele casarão lilás, estilo anos 40, todos cheio de detalhes.Exatamente pra ser lembrado durante a vida toda.

Subiu as escadas lentamente e pouco depois estava dentro de uma sala branca cheia de mulheres. Brancas, negras, altas, baixas...Algumas acompanhadas de uns poucos homens alí presentes, mas todas com a mesma expressão de horror estampada na face. Enfermeiras que iam e vinham. Chamavam uma, outra e aos poucos a sala ia se esvaziando e enchendo outra vez...Seu coração saltava, seus olhos refletiam o horror daquelas paredes "brancas escuras", o cheiro de formol e um relógio grande a sua frente! Todos os detalhes naquele momento parecia maior...e então...Seu nome!! Era ela! Ela tinha que entrar na sala...Seu estômago embrulhou nesse momento, sua cabeça virou...A vontade de fugir era maior do que o medo do que aconteceria a seguir e pelo resto da vida...Olhou na expressão fria do médico á sua frente e saiu correndo. Por uma fração de segundo já estava na rua, fugindo de tudo e de todos! Dessa vez seus pés estavam firmes. Passos rápidos que a conduziam pra longe dalí.

A partir daquele momento e pro resto da vida, ela era mãe!!!

Deia Tumenas
Enviado por Deia Tumenas em 10/04/2009
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T1532263
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