Santo Dia

Era apenas mais um dia. Talvez não tão comum. Era um dia Santo.

Ela custou a levantar. Olhou várias vezes o relógio como se quisesse confirmar que acordar e sair da cama era realmente preciso. Era! De um salto lembrou-se que teria um convidado pro almoço daquela “sexta santa”. Pôs-se de pé e depois de um banho rápido começou a organizar o cardápio enquanto tomava um café. Queria algo diferente, um sabor exótico, talvez. Afinal, o convidado entendia de cozinha e a ideia era impressionar, por que não? Depois de pensar passou ao recrutamento dos ingredientes, alguns já separados desde o dia anterior como foi o caso bacalhau que já estava em processo pra perder o sal e logo ganharia uma roupagem de salada que diga-se de passagem, ficou uma obra prima. Um creme de camarão ao curry acompanhado por um arroz seria a estrela do evento que finalizaria com bolo de café e chocolate, sua especialidade, servido com sorvete de creme. Pois bem, delícias prontas, um banho (demorado) tomado, só restava esperar o dito convidado, de quem talvez esperasse mais do que a amizade anunciada. Bom, isso não importa! O fato é que mesmo tendo combinado e confirmado, o moço não apareceu. Quando viu que sua visita não chegaria mesmo, almoçou e não permitiu a chegada do estresse. Verdade que queria que ele estivesse ali e que a tarde acontecesse como sua imaginação programara, porém diante da frustração, deitou e descansou. E foi descansando, já quase dormindo, que ouviu seu celular tocar insistentemente e sonolenta ouviu a voz tímida de um tal poeta que lhe perguntava o que estava fazendo numa hora daquela. Meio dormindo respondeu que não estava fazendo nada e contou entre bocejos e sorrisos o acontecido, ou melhor, o não acontecido daquela tarde. Ouviu achando graça a indignação do outro lado que achava absurdo a falta a um compromisso sem nem uma satisfação. Quase ao final da conversa, ela então perguntou o que ele estaria fazendo uma hora daquelas. Nada. Foi assim, que sem pensar direito convidou ele, o poeta, pra comer bolo com sorvete. E surpresa ouviu quando ele disse do alto de sua irritante timidez que iria. Mais que isso, que não demoraria. Lembrou-se que estava deitada, quase a dormir e por um momento pensou se era mesmo preciso sair da cama. Era! Novamente lá estava a tomar um banho talvez demorado igualmente ao segundo, mesmo sem ter nenhuma expectativa, apesar da conexão interessante que se estabelecera já há certo tempo com o tímido rapaz. Que por sua vez, chegou! Não menos tímido que o esperado e punha-se ali à sua frente a derramar conversas entre taças de sorvetes. Risos muitos e infinitas e delicadas afinidades talvez não tenham sido palco pra uma deliciosa surpresa que se deixava aparecer. Em meio à ideias comuns, vieram os beijos, os abraços, os suspiros e surpreendentemente a conversa passou do sofá à cama, de uma forma linda e nada vulgar. Parecia que se pediam permissão a cada passo. Talvez em virtude do santo dia que teve seu final abençoado.

Tereza de Bezerra
Enviado por Tereza de Bezerra em 12/04/2009
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