Um conto de terror

 
 
          Aquela noite de domingo estava estranha. Um chuvisco irritante perdurava havia horas e, pertinaz, insinuava que não cessaria tão logo. Depois de um dia quente e abafado, o clima resfriou-se me obrigando a vasculhar tudo por aquele agasalho esquecido no fundo de uma gaveta qualquer. 

          Eu estava agitado, porque lançado na triste lida de enfrentar questões mal resolvidas. Teclava de maneira frenética. Letras e números que se amontoavam meio sem nexo na tela do computador onde, inexorável, o tempo se anunciava, avançando, segundo a segundo, no relógio digital. Ah! Corrida desigual e injusta! Os tipos que eu inseria, cada vez mais rápido, cada vez em maior quantidade, não conseguiam fazer frente àquele maldito relógio digital progredindo de forma implacável. 


          Os olhos ardiam - a esta altura vermelhos, é certo - e os ombros pinçavam agulhas que brotaram da posição já mantida por horas a fio sobre o teclado. Os dedos já não obedeciam com a destreza necessária os parcos raciocínios que, por inércia, continuavam a brotar em minha mente. 


          De repente, vislumbrei pela janela aquela figura sádica, crescendo e crescendo diante de meus olhos, de forma lenta mas incessante. Surgiu tímida por trás dos prédios em frente. Foi se avolumando aos poucos e, amorfa que é, agigantou-se rapidamente expandindo-se com vigor por todos os lados. 


          Meu coração disparou e o suor começou a escorrer por minha fronte. Aquele frio na barriga e uma dormência nas pernas. Que sensação horrível de impotência a de querer fugir e não haver para onde. 


          Quando dei por mim, ela já havia tomado conta da situação e me imobilizado com seus tentáculos invisíveis. Agora já era irreversível: a segunda-feira chegou e colheu-me em cheio, absolutamente despreparado para a resistência. Sufocou-me com uma dose cavalar de culpa e, por fim, aniquilou-me com seu veneno fatal: o prazo. 


          Ainda procurei resistir, prendendo a respiração e me debatendo continuamente, como se fosse possível desvencilhar-me das garras do tempo. Quando já esgotavam-se minhas forças, restou um fio de energia em mim suficiente, ao menos, para lançar ao vento meu epitáfio:  "Desculpe, oh! vida. Não houve tempo para terminar minha tarefa. Nada de heróico me resta, mas os covardes retardatários também merecem viver." 


          Em outras palavras, tudo se esvaía na esperança de que a terça-feira sobreviesse, caso a segunda-feira fosse misericordiosa. Porém, ela nunca é e, ali, também não foi. Esforço vão foi o meu e o prazo, enfim, venceu!