A entrevista


Certeza. Poucas. Convicção. Com sinceridade? Atualmente, não muitas. Vício. Refrigerante. Nunca fumei nem usei drogas. Mágoa? Tenho. Tenho sim. De mim. Estranho, não é? Sou uma pessoa ruim. Mania. Roer as unhas? Acho que essa é uma mania publicável, não? Culpa? Se tenho culpas? Muitas. Absurdas algumas, desculpáveis a maioria, mas todas, sem exceção, culpas. Reflexões. Cada vez menos. Venho perdendo, com os anos, a capacidade de pensar. Deveria ser ao contrário, não é? Orgulho. Não pergunte isso para mim! Felicidade. Refrigerante. Nunca fumei nem usei drogas. Desilusão. O conjunto da obra. Difícil apontar esse ou aquele momento, essa ou aquela época. Frustração. É mesmo necessário responder a tudo isso? Frustração? Sim. Não ter usado drogas. Virtudes. As sexuais. Dizem também que sou bom ao contar piadas. Tristeza. O medo é um motor funcionando no reverso. Tive muito medo. Ainda tenho. É claro que isso é triste. Sonho. Sonho? Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto. Queria poder fazê-lo, gostaria muito de recomeçar. Arrependimento. Pouca literatura, muito jornal. Pouco critério, muito empirismo. Foi o arrependimento que me matou. Perguntas? Se tenho perguntas? Tenho. Tenho sim. Tenho uma pergunta, sim. Quero saber se poderei voltar algum dia. Ah! Tem outra coisa: com sinceridade, Ele existe mesmo?