Dia da noiva


O que tem o teto, Margot? Margot! O que tem o teto? Desculpe-me pelo pragmatismo, meu amor, mas nem o pé-direito, nem os pingentes de cristal nos interessam agora. Tome, beba. É seu uísque preferido. Duas pedras de gelo. Vamos, beba.  
Vamos, Margot. Já está na hora. Os convidados! Suas amigas de escritório... Seu sobrinho! Como é mesmo o nome del... Paul! Seu sobrinho Paul já deve estar te esperando com as alianças! Vamos, levante.
Meu amor, as coisas são mesmo assim. A arte é saber esperar a calmaria. Casar, Margot! O que tem de errado nisso? Vamos, beba meu amor! Casar, Margot, é apenas um ato formal. Ninguém entrelaça almas só porque o padre fez duas ou três advertências com tons proféticos. E as assinaturas naquele livro são meras formalidades. Margot! Margot, meu amor, levanta daí. Ficar olhando pro teto não vai resolver nosso problema.
Vamos, coragem! Dê ao menos um gole. Olhe, veja o exemplo desse uísque. 12 anos, Margot. 12 anos esperando, quieto, em silêncio, dentro de um barril qualquer. E para quê? Esperando para ser saboreado, vivenciado. É disso o que estamos falando, meu amor. Dar tempo. Dar tempo ao tempo. Não é como dizem?
Vamos, meu bem. Já acabou o cigarro, já acabou nossa tarde, já acabaram nossas alternativas, lembra?
Vamos, Margot. Levante. Quantas vezes já disse que você está linda nesse vestido? Vai, meu amor! Vamos. Agora! Chega disso! Não se esqueça de que será muito pior para mim.
Os padrinhos sequer ficam sentados nos casamentos de hoje em dia.