Foto de mulher ao telefone


MonoDiálogo(EC)
 
Juro. Fiz tudo o que podia. Desde o começo foi assim. Eu tentando. Casa bem arrumada, crianças limpas e educadas. Comida na mesa, roupa lavada. E eu, bonita e cheirosa. Mas sempre esperando. Esperando ele chegar, ansiosa, sem dormir. Fingindo que dormia assim que ouvia o barulhinho da chave na porta. Nunca perguntando. Nada. Era como se fosse o marido perfeito. Lágrimas, só as bem escondidas ou salgando a comida esfriando no fogão, maquiagem derretendo no rosto. Tudo vinha em primeiro plano. Trabalho (É pra você e as crianças que ele trabalha tanto!), Amigos (um homem precisa se distrair, afinal ele trabalha tanto!), viagens sozinho (sempre a trabalho), os telefonas mudos quando eu atendia (você é uma neurótica, foi engano, só isso). Não era só isso, eu sabia. Mas fingia. Afinal, quem era eu? A mulher dele. A mãe dos filhos dele. A sua nora. Até que ele se foi. Um belo dia se foi e nem teve coragem de vir se despedir. Mandou a senhora. A mãe protetora. E mais uma vez eu fui a culpada. Sem ele fiquei sem dinheiro. Sem dinheiro, fiquei sem os filhos. Mas não morri. Ninguém morre de véspera. Mas pra não morrer tive que me virar. Ninguém acreditava, não é. Ele. A senhora. Meus filhos que preferiram seu dinheiro ao meu amor. Beberam de seu veneno. Mas eu me virei. Sozinha. Aprendi a viver. Vê essa casa? É minha. Comprei com meu trabalho. Na garagem, tenho um carro. E afinal, onde foi que encontrou meu telefone? Pensa que eu não sei? – o dinheiro acabou, a mulher o deixou e o filho pródigo voltou para casa.A sua.  E agora vem me dizer que ele sempre me amou. Que me abandonou por minha culpa. Que tirou meus filhos porque eu não era uma boa mãe. Que precisa de mim. Está doente, triste e sem dinheiro também, embora não queira confessar. Responda-me, ex-sogra: - Eo que é que eu tenho a ver com isso?  

Este texto faz parte do Exercício Criativo O Que eu Tenho a Ver com Isso?
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