Diabólicos Anjos - Amor Que Transforma

Ele disse, "Por você eu iria até o inferno e voltava alegre". E na mesma tarde, desafiou tempo e espaço e iniciou sua jornada rumo à terra quente do diabo. Ao pé de uma assustadora montanha, encontrou uma gruta que de tão macabra, fedia e se ouviam gritos do seu interior. Caminhou firme até um lago que dividia o inferno da terra, e um guardião que fora designado pelo próprio diabo lá estava, empunhando um cajado mortal.

- Que fazes aqui, nas profundezas desta gruta? Sabes o que o espera do outro lado? Vejo na sua alma um desejo muito forte de atravessar, no entando, não sinto medo, nem nenhum grande pecado para que você mereça ir para o outro lado... além do mais, a vida exala de você. Não! Não poderás passar, não tenho permissão para levar almas assim para o outro lado.

- Mas que tolo, nobre guardião. Estou só de passagem, deixe minha alma dentro de meu corpo e atravesse-me até o outro lado. Fica sob minha responsabilidade qualquer coisa que acontecer comigo. Além do mais, nem vou demorar.. apenas peço alguns minutos, tempo para conseguir alguma lembrança e levar para a minha pequena amada que me espera de braços abertos longe daqui.

- Em séculos nunca houve nada assim.

- Venho motivado pelo amor!

- Amor, esta palavra não entra no inferno.. o que dirá o sentimento..

- Quem sabe as coisas mudem por lá, depois de mim.

- Que desejo insano é este, meu rapaz? Queres atravessar o inferno e voltar ileso? Ainda fala em mudar, transformar o inferno?

- Evolução meu caro, evolução!

- Só existe evolução a partir da DESTRUIÇÃO, no inferno, "meu caro"!

- Vai continuar com esta conversa ultrapassada nobre guardião? Terei então que tomar uma providencia e encontrar algum outro caminho. Por acaso, este rio é fundo demais?

- Neste rio repousa todo o mal, a agua dele jamais foi tocada por alguém senão infermos da alma. Apenas as criaturas mais odiadas da história da humanidade se banharam neste rio. Imagine a 'profundidade'.

- Pois não vejo problemas - Disse ele tirando os sapatos, preparando-se para nadar - Serei o primeiro!

- Você está ficando maluco? Como ousa fazer uma coisa dessas? Ouça bem, ninguém jamais entrou no inferno por estes meios.

- Já falei, se não me levares.. irei por conta própria..

E então, o guardião levou o rapaz até a entrada principal. Mas ainda perguntou, quando ele estava indo embora:

- É por 'amor' que fazes isso?

- Sim!

- Eu gostaria de entender, ou sentir isso.

Talvez ele já começara a mudar o inferno. Fato é que sua jornada recém estava no começo, e o inferno era realmente hostil.

Sentiu seus pés inundados de sangue, e nas paredes mais sangue. Gritos assustadores e gemidos que ele jamais ouvira. Agonia naquele lugar triste. Era como se fosse uma gruta escura e sem vida, porém ela estava ali, se esvaindo a cada grito que ouvia... se esgotando em cada um que naquele lugar caia. E caminou até um lago muito estranho, sentiu a temperatura esquentar. Era um lago de sangue que fervia na sua frente, e mergulhado nele, inúmeros corpos se dissolvendo. Pilhas de ossos no outro lado, cabeças penduradas na parede, facas enferrujadas pelo chão, dentes espalhados ao redor.. realmente, nada lhe chamava atenção naquele lugar. Sentiu seu corpo cansado, e sentou sobre uma rocha envelhecida pelo tempo. Notou que acima de sua cabeça, não havia teto, apenas algo escuro.. muito escuro. E olhos desafiadores o cuidando, dêmonios prontos para saciar sua sede de interminavel de sangue. Ele riu, "dêmonios fúteis, nunca provaram o sabor de uma boa refeição, como as que minha amada prepara para mim.. sangue.. onde já se viu se alimentar disso?!".

E assim que foi chegaram perto os dêmonios se sentiram inseguros.

- Não sentes medo? Sua alma não esta atormentada.. ? Porque caminhas tão tranquilo?! Irá sofrer eternamente, sabe disso?

- Não irei sofrer não, desculpe-me! Mas você é muito bom observador, minha alma não esta nenhum pouco atormentada.. e sim completa de amor.

- De qualquer jeito irá s... falaste "amor"?

- É, vim em busca de um presente único para minha querida..

- Ah, nunca vi algo parecido! Você é uma presa fácil aqui..

- Nem tanto..

- Que brilho estranho nos seus olhos. Não é medo.

- É virtude.

- Não existe esta palavra aqui.. Você fala coisas que eu desconheço, vieste daonde? - O Dêmonio parecia amolecido.

- De um lugar bem mais calmo e tranquilo que esse, sem desmerecer vocês, é claro. Não nos alimentamos de sangue também, obviamente.

- Eu sempre torturei vocês sem nunca perguntar, meu instinto que ordena, porém, desta vez ele não se pronunciou...

- Pronunciou-se sim, não da mesma maneira.

- Acho que entendo. Posso sentir as mesmas coisas que você sente?

- Qualquer ser pode, isto é obvio... mas me desculpe, tenho pressa de sair deste lugar. Sabes onde posso encontrar alguma preciosidade?

- Bom, existe uma gruta passando este lago.. lá existe uma bebida feita do sangue de todos que ja passaram aqui, é uma espécie de vinho, feito com uma gota apenas de cada homem, ou mulher. A melhor gota destas pessoas. Você sabe.. mas existe um preço.

- Humm.. já esperava isso..

- Vai lhe custar a alma!

- Não seja tolo! Preciso voltar ileso para onde vim..

- Entendo.. bom! Posso lhe fazer uma proposta, se me ensinares a amar.. eu lhe consigo esta bebida, é um lindo presente!

- Fechado!

E seguiu sua trajetória acompanhado de um dêmonio em busca de amor. Enfrentaram os mais pesados perigos, e escolheram os mais leves caminhos. Mesmo assim, era torturante estar no inferno. Quando uma imensa cortina de fogo surgiu na sua frente, ele pensou ser o fim de tudo. Não fosse pelo seu mais novo amigo, estaria morto e sua alma, seria mais uma naquele inferno peculiar. Deixando um pedaço de seu chifre, e junto dele seu orgulho, puderam passar.. a cortina se baixou e foram firmes para o mais profundo inferno. A fome começara a atacar o pobre rapaz que viajava tão convicto de provar seu amor à sua pequena, o dêmonio lhe ofereceu sangue, pensando agradar colocou a unha no seu pulso e antes que fizesse o corte ele o avisou que não precisava! O Demônio providenciou então comida se desfazendo de seu sangrento punhal. E a refeição foi farta! Passado alguns minutos voltaram a estrada e mais perigos o aguardavam. Um bando de demônios famintos o esperavam na entrada de um dos inúmeros campos de mortificação, ao se deparar com o rapaz e um demônio, ficaram confusos.

- Que fazem andando juntos? Um demônio e um mortal? Atravessando o inferno de lado a lado.

- Estamos numa busca - falou o garoto sem medo dos demônios -, eu pela tal bebida, e este demônio, pelo amor.

- "AMOR"? Ouvi boatos ainda hoje de que alguém estava falando disso aqui pelo inferno...

- É o que procuro, você devia se jun.. - foi interrompido pelo outro demônio.

- Cale essa boca! Ingrato, você sabe qual é o castigo para quem se vende não é?

- O amor é mais importante..

- Não os deixaremos passar.. vivos!

- Espere! - falou o demônio já emocionado - E se eu lhe desse este meu outro chifre? Posso também, lhe dar as minhas garras e até minhas asas!

- Mas, o que será de um demônio sem suas armas?! Melhor lutar e morrer!

- Não, não vê que não quero mais isto?

- Pois então o azar é seu, me dê aqui.. - e com todas as armas do demônio nas suas mãos, concluiu - Sigam por onde quiserem, mais cedo ou mais tarde morreram mesmo!

- Obrigado! - Agradeceram os dois juntos.

Estavam perto, o demônio podia sentir o cheiro da bebida. Subiram uma escada com ossos, e lá estavam.. frente a gruta onde a bebida repousava. O demônio perguntou:

- Bom, a minha parte esta feita.. quanto a sua? Confiei em você! Quando que irei começar a sentir o amor?

-Você não notou ainda?

- Notei o que?!

- Todas as coisas que você fez, abriu mão. Tudo isso se resume ao amor. Isso que é amar, abrir mão de algo, abrir mão de nosso orgulho para o bem de um outro. Você me ama.

- Eu amo.. amo você? - Falou o demônio quase chorando.

- Sim! As coisas que você fez.. você aprendeu a amar!

-Não sabia que era tão fácil, mas agora que você falou.. não sinto vontade de fazer algum mal à ti. Talvez a nenhum outro.. - E o demônio que sentiu o amor, estava chorando.

- Esta é a magia do amor! Mesmo no inferno, ele existe!

- Tenho certeza disso! Mas me diga, como viverei aqui? Irei amar à quem? Não posso viver no inferno sentindo amor! Preciso dar um jeito nisso..

- Você não pode sair daqui, vai passar a eternidade neste local.

- Tantos séculos e agora, vejo que não possuí nada nesta "vida"! Só agora me sinto completo, e mesmo assim, estou triste! Não tenho à quem amar!

- Ame á si mesmo!

- Mas veja quem eu sou! Um demônio, apenas fiz o mal em tantos séculos! Fui amaldiçoado pelo próprio diabo, dono destas terras!

- Sinto que não posso fazer nada por você, amigo..

- Chamamos à quem amamos de 'amigo'?

- Sim, é isto!

- Então ok amigo, irei pegar o seu presente, como combinado..

Partiu o demônio inconpreendido para dentro de uma gruta escura. Após alguns minutos, um velho que mais parecia o próprio demônio vem lhe entregar uma garrafa escura, com aproximadamente um litro e sem rótulo algum.

- Aquele velho demônio era meu filho, me contou coisas absurdar de você. Você o fez amar, não é isso? Pois tome seu pagamento, a bebida de mais qualidade em todo universo. Meu filho sacrificou sua vida para mim poder lhe dar este presente. Não existe amor no inferno, você entendeu? Antes que eu mate você, suma daqui!

Antes que pudesse falar alguma coisa, seus olhos se fecharam e ao abrir novamente, estava na frente da casa de sua amada, com o presente tão valioso quanto seu amor. Fechou os olhos e atravessou a porta com muito mais que uma garrafa em suas mãos. Então, explicou a sua amada que muito mais que uma prova de amor, sua aventura fora um aprendizado. Ela comovida o garantiu, "vossos esforços não serão em vão, irei até o Jardim do Edén, meu querido! e trarei algo do tamanho do nosso amor"

E o romance diferente destes dois seguiu assim, por muitos e muitos séculos, até a eternidade os santificar como, "Diabólicos Anjos".

Para Ana Cláudia.

Reny Moriarty
Enviado por Reny Moriarty em 23/06/2009
Código do texto: T1663238
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