Coisas de Raimundo

***Prólogo

Saiu correndo por dentro do porão. A cara assustada, a pele pálida e a boca trêmula. Sua mãe preocupada gritou:

_O que foi Rai?

Mas o menino nunca mais conseguiu falar...

***I - Uma Flor Chamada Quitéria

Raimundo cresceu de qualquer jeito como qualquer criança, enpinou pipa, jogou bola e odiou meninas. Ao passo que ia crescendo ia mudando seu comportamento, namorou um bucado, arrumou um emprego e uma briga com o Pé Feio... Só não falava!

(...)

Quando conheceu Quitéria seu instinto animal, macho usurpador, se aquietou. Deu lugar há um sentimento puro e doce e, certa dose de sacanagem.

Queria dizer a ela, coisas sobre as estrelas, a lua e as flores, mas já que era mudo, resolveu fazer poesia - Acho que essa é a essência de todo poeta, por não consegui dizer verseja - Entregou flores , poemas e um cd dos "Velhas Virgens"... ela gostava.

***II - Raimundo Mudo Pelo Mundo

Casou-se, teve filhos, foi morar na cidade, viajou pra Nova York, quase não voltou, voltou... Só não falava!

***III - Bom Filho À Casa Torna

Certo dia encontrou um amigo de infância, por acaso, sentaram no Bar do Tche, tomaram a canelinha e bateram papo a tarde inteira, o amigo com as palavras e o Raimundo com a mimica...

_Rai você tem que vencer seus fantasmas. Vai na casa e vê que não tem nada demais...

O positivo quis dizer sim.

(...)

Quitéria soltou suas mãos aos poucos: _Vai com cuidado!... Ele desceu tremendo as pernas e os dentes. Cada vez que ficava longe, o ruido ficava mais perto.... Até que seu amigo Mendonça, riu...

_Esse seu trauma todo não é por causa de um radio velho ligado no gato?

***IV - Final - O Som do Silêncio

Ele pos a mão sobre os ombros da Quitéria, a beijou loucamente e disse:

_Desculpa! Por tanto tempo sem dizer "Eu te amo"...

(Quantas vezes por pequenas besteiras, deixamos de dizer que amamos alguém, que morremos por alguém... Cuidado pra não deixar de ser feliz por bobagem)