Sejam bem-vindos

Em meados de março tivemos aqui, em Araras, um grande evento de confraternização esportiva e festiva, abrangendo estudantes de muitas cidades da região, todos universitários das diversas faculdades de medicina dos arredores, que durou vários dias de movimentação e festividades.

Por todos os cantos da cidade, muito trânsito e manifestações de alegria, de companheirismo, de solidariedade estudantil e, por que não, de muita beleza jovem e muita energia contagiante. Sejam bem-vindos a Araras, município este que me recebeu de braços abertos, há mais de dez anos, quando, já aposentado, resolvi firmar domicílio no interior do Estado, continuando até hoje. Diariamente agradeço a Deus por me encaminhar, juntamente com minha esposa, até este recanto de alto astral, de beleza pura e de muita hospitalidade e de calor humano, embora alguns ararenses, pratas da casa, dizerem que por aqui o pessoal é muito frio e bairrista, porém me julgo com o direito de discordar, sinceramente, porque senão eu estaria entrando no rol dos mal-agradecidos, o que não é meu feitio, ainda mais que estou sempre seguindo os passos do Mestre Mokiti Okada, que, em meio a seus inúmeros ensinamentos, deixou-nos as seguintes palavras: “(. . .) gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria. Isto acontece porque o coração agradecido comunica-se com Deus (. . .) quem vive agradecendo torna-se feliz; quem vive se lamuriando, caminha para a infelicidade (. . .)”.

No decorrer dos dias em que esses jovens se alojaram pela cidade, aconteceram fatos lamentáveis, divulgados pelas rádios locais, que chegaram a criar sentimentos de revolta em muitos moradores – coisas como: arruaças nas praças, com pessoal nu e embriagado, com cenas deprimentes e vexatórias; também com demonstrações de uso de direção perigosa, pelas madrugadas, efetuando “cavalos de pau” e “rachas”, totalmente irresponsáveis; usando rádios potentes, no último volume e ainda no meio de gritarias, e até com a soltura de fogos e bombas, numa demonstração de total desrespeito para com os anfitriões; e ainda mais, com atos de selvageria, através de depredações do patrimônio público local.

_E agora, o que fazer? Vamos expulsá-los da cidade? Mandar prendê-los? Processá-los? Ou então não seria melhor linchá-los? Posso apostar que muitos tiveram esses pensamentos negativos, havendo até aqueles que chegaram a ímpetos de dar tiros!

Vamos devagar com o andor, porque para tudo existe uma causa, e se nos pusermos a agir intempestivamente, só iremos colocar mais lenha na fogueira – nada acontece por acaso, portanto seria interessante fazermos uma análise da situação, antes de sairmos por aí cometendo desatinos iguais ou piores do que os dos nossos desafetos. Quero chamar a atenção sobre o que está acontecendo com o Planeta Terra, bastando poucos minutos da nossa observação – ninguém pode negar que, ao continuar na rota de autodestruição que o homem está impondo à vida terrena, nem o Todo-Poderoso poderá interferir diretamente na nossa salvação, a não ser que Ele usasse de seus infinitos poderes para burlar as leis de Sua própria criação, o que é irremediavelmente impossível, pois fora da Lei não existe Verdade.

Ora, convenhamos, estamos há milhares de anos (nós e nossos antepassados) esculhambando com o ambiente terreno, através de atitudes egoístas, interesseiras, gananciosas, desrespeitosas, desonestas e até violentas, então como é que poderemos exigir dos jovens e de nossos descendentes atitudes diferentes, se o nosso exemplo de conduta está podre, totalmente deteriorada pelas nossas conveniências pessoais, com cada um querendo “se dar bem”, não se importando a que preço para os semelhantes?

Só a nossa mudança interior, de forma radical e definitiva, poderá nos dar força, prestígio e respeito de sermos ouvidos à altura do bom senso, à altura do espírito de cidadania, à altura da transformação do planeta. Só assim mudaremos os nossos jovens, transformando-os em verdadeiros cidadãos, sempre bem-vindos ao nosso convívio, pelo que eles têm de vitalidade, beleza e brilho, o que dará sempre razão para cultivarmos nossos sentimentos de gratidão.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 02/07/2009
Reeditado em 12/11/2010
Código do texto: T1677884