- PARTE I - Roberto e a Política

Quem são os ARAUJO de Correntina ? ARAUJO Silva, ARAÚJO Ferreira, Joaquim de ARAÚJO, ARAÚJO Guerra, ARAÚJO Costa, ARAÚJO Santos, ARAÚJO Ramos, ARAÚJO COSTA... Quantos galhos tem esta gigantesca árvore ?

Só mesmo um estudo mais aprofundado poderia nos levar a melhor conhecer as ramificações e origens desta grande prole que se tornou os ARAÚJO em Correntina e esta é uma de minhas metas futura. 

Entretanto é da família do Major Felix Joaquim de Araújo, mais especificamente, que descende os Araújo Guerra, Araújo Pinto, Araújo Matos, Araújo Costa, Araújo Santos, Araújo Neiva e neste emaranhado de galhos eu me encontro, como primo em 1o. grau de  Roberto Joaquim de Araújo, em outras épocas mais conhecido por Roberto de Flozinha e hoje, Roberto de Zizita, sua esposa.

Não podia deixar de narrar um pouco do que testemunhei, da passagem de Roberto de Flozinha pela política de Correntina, desde cabo eleitoral do Tio Dr. Lauro Joaquim de Araújo. A militante de Roberto que combateu a Arena I,  refugiada como tantos outros politcios que preferiram entrar para história como aliados da ditadura, a herois da democracia. 

A luta em Correntina foi entre Arena I e Arena II, já que os militares extinguiram os partidos políticos e só restou a oposição, lutar no mesmo terreiro, sob o mesmo rótulo.  Depois então deste pleito, o mais disputado nas eleições, na história política do municipio, ocorrida em 1966, é que veio então ser restituído aos partidos políticos, o direito de terem sua própria identidade, quando na eleição de 1970, debaixo da porrada e da perseguição, Zoroastro Campos de Magalhães, o genro de Odilio França e outros bravos políticos de nossa história, fundaram o glorioso MDB; sua história porém ficou neste passado, pois ninguém imaginaria que no futuro, o PMDB se tornaria a grande vergonha política do municipio.

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Roberto de Flozinha é filho de Aldegundes Joaquim de Araújo e Amélia de Araújo Santos e aqui tem um fato importante que faz de Roberto duas vezes neto do velho e lendário Major Felix Joaquim de Araújo.   Aldegundes Joaquim era filho natural do Major,  e  Felipe de Araújo Santos um sobrinho que o Major criou como filho e fez dele o homem de confiança a frente de seu comercio, já que tinha muitas ocupações com suas atividades política. Felipe Santos mais tarde rompe com o Major, tio e pai e se tornam inimigos políticos, mas nada impediu que a filha de Felipe Santos, Amélia Santos, tomasse por esposo Aldegundes Joaquim de Araujo, o primo, meio irmão.  Amélia de Araújo Santos, tornou-se  popularmente Flozinha, As familias se mantiveram separadas por muitos anos, mas isso não vem ao caso por se tratar de briga de familia, deixa prá lá.

Roberto eseus irmãos Hilda, Helena, Marta, e Sérgio Joaquim.  Com excessão de Marta e Roberto; partiram para Salvador onde concluiram faculdade e por lá ficaram e se casaram. Sérgio não apenas por ser o caçula, fora desde pequeno preparado pela mãe para ser médico, e o grande sonho aconteceu. Ele tornou-se médico cardiologiata e retornou para Corretina, onde assistiu a mãe e assumindo o lugar de Dr. Lauro seu tio, diante os famiiares, em Correntina permaneceu até a morte de sua mãe, Tia Flozinha e tempos mais tarde, ficar viuvo;  então mudara com os filhos para Goiânia. 

Marta casou-se com Valdomiro Cavalcanti, mas ficou viuva muito cedo. Os três filhos foi sua grande herença deixada por Vadó e de fato foi uma grande riqueza os dele gerados, que não só se colocaram bem na vida, como deram total atenção a mãe, hoje muito bem assistida. 

Roberto tem uma linda história de vida pra se contar. É um lider nato e em varios momentos da história de Correntina, seu nome é evidenciado diante de sua destreza com as artes cenicas e organização artisticas, sem falar que foi personagem atuante no cenário político, chegando assumir a Secretaria de Cultura e ser a diferença entre os titulares que passaram por esta  pasta, tão carente de pessoas capacitadas.

Ainda adolescente no anos 60, Roberto foi personagem de um dos mais comicos fatos ocorrido numa eleição em Correntina, quando nas eleições de 1966, disputada entre Euclides Moreira Alves e Dr. Lauro Joaquim de Araújo, se registrou a mais acirrada disputa eleitoral, que por 25 votos, levou a diplomar de Eucledes, um fazendeiro do Jaborandi, como prefeito da cidade. 

O que descrevemos a seguir é a visão do ponto de vista de um menino, adolescente ainda,  14 anos de idade, uma testemunha ocular e ouvinte de alguns fatos que ocorriam nas ruas ou que ouvia-se contar, entre a  parentela adulta.  Muitos fatos não estão descritos em sua forma integra ou cronológica, mas que pude mais tarde, confirmar com o excelente trabalho do amigo e jornalista Helverton Valnir, o filho de Vessinho, quando pesquisou e escreveu a mais completa obra da história de Correntina, sob o título A História de Correntina.

O fato onde pretendo chegar é de certa forma cômica, hilária, porém verdadeira, algo que não fora registrado em nenhum outro livro e que agora trazemos a público,, com as desculpas não ter sido tão claro quando a mesma história contei no livro Conto mais um Ponto, publicado em 2007, onde ocorreu uma falha muito séria, foi a publicação do arquivo errado e o livro saio sem a revisão final, o que prejudiou a possiblidade de uma melhor divulgação do mesmo.

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Viviamos o auge da ditadura militar, que tentava a todo custo, fosse suor ou sangue, calar o grito democrático das ruas. Naquele ano, também de copa do mundo, o país passava por um processo eleitoral, para um mandato tampão de dois anos, por uma questão de ajuste no calendário das eleições  no País. Os militarem, ainda sob o comando, usavam o entusiasmo brasileiro com o futebol, para fazer desaparecer as lideranças populares, que marchavam contra a ditadura, sem que o povo desse por conta do que acontecia dentro dos quateis, com nossas lideranças políticas, civis. Os militantes da Arena II, agora MDB, não tinham ainda esquecido das manobras Arenista para tirar o pleito de 66 do Dr. Lauro, embora não tivesse pensado assim o Tribunal eleitoral baniano.

Correntina sempre respirou política; entre os eleitora isso se limitada as temporadas de caça ao voto, passadas as eleições as questões menores ou maiores, ou seja as "picuinhas" fica mesmo entre os caciques e os diretórios partidários; alguns mais fanáticos não pensavam assim e não aceitavam aproximação, como comprar qualquer produto na venda ou loja do adversário, ir a festa organizada por algum adversário; mas a política tinha um quadro mais  sadio que a politicagem hoje assistida, onde a corrupção e o nepotismo são evidência cancerigenas que destruiu a sociedade correntinense.

Os eleitores das décadas de 60 a 80, viviam no período eleitoral verdadeiras batalhas cívicas, embaladas por paródias carnavalescas, ou mesmo canções inéditas, que contavam a história de seus candidatos, seus programas de governo e os defeitos dos adversários, que eram expostos sob claves musicais; com os devidos direitos de respostas e assim, em todas as casas, ruas, da cidade, principalmente na beira do rio, onde as fontes de lavar roupa, louça ou pegar águas para os fazeres domésticos; eram rotuladas como dominio desse ou daquele  partido, o que poderia evitar os bate-bocas entre seus frequentadores.

Ser cabo eleitoral naquela ocasião era um orgulho; embora sem remuneração ou promessa de ser incluído na partilha do bolo!   Os partidos tinham seus compositores clássicos e isso vinha desde as velha UDN, PSD e outros partidos que antecederam o período da ditadura. Os compositores e artistas plásticos, trabalhavam especificamente na divulgação da plataforma política do partido; desde a decoração dos palanques, carros e praças para comícios, como as canções que animaram o evento.
 
Havia-se ensaios, que entupiam as casas de homens e mulheres de todas as idades, para aprender as canções do próximo comício. Tudo era feito com muito entusiasmo; as canções sempre relatavam os últimos capítulos ocorridos nos tribunais ou mesmo no municipio, algum erro do adversário e os acertos da situação... não tinhamos camisetas coloridas, adesivos plásticos, industrializados e tudo era mesmo artesanal: faixas pintadas com tinta para pano, enfeites com papel alumínio, “crepon, ou celofane... e nada a prova d´água, bastava uma chuva e tudo tinha-se que ser feito de novo. Camiseta era produto de luxo e somente algumas dos deputados costumava aparecer por lá.  

As irmãs Bezerras, Guerra, as filhas de Oswaldo França, Profa. Ena, Clarice, Iôzinho, Dona Vanda, Claudionor (Canô) Tonho de Rafael, Odeilde, Hilda e Seo Hélio, As filhas de Seo Zeferino, Liozirio Ferreira e muitos outros se destacaram como compositores políticos das decadas de 60 e 70, ou seja Arena e MDB, que mais parte passara  a ser PMDB.

Infelizmente, os exemplo dos homens públicos, tem transformado a concepção do que seja governar, ser político, e a cada dia, nos distanciamos mais e mais da possibilidade de reverter isso. Todo político é ladrão ! Todo político é safado, é corrupto !
 
Não seria bem isso, mas é nisso que a população acredita e já é raro, as raras exceções, pois o próprio povo, já foi corrompido em seu espírito. Alguns aceitam a corrupção outros lutam para fazer parte dela.
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Para alguns, Roberto não passava de um jovem rebelde e irreverente; mas de uma criatividade e imaginação inquestionáveis. Exercia uma grande influência entre os jovens de sua época, que o acompanhavam em tudo que fazia ou viesse a dizer. Era e ainda é, um gerador de opiniões e multiplicador de idéias; sempre atento aos movimentos da juventude e aos talentos que dela emergiam. Sua visão política e social o fazia privilegiado, mantendo-o a frente de seu próprio tempo, o que mais tarde o levaria a disputar uma vaga no Legislativo e a ocupar o cargo de Secretário de Cultura, mas até isso aconteceu, muita água passou por baixo da ponte do padre. Por vezes ele era admirado, noutras odiado; era um jovem polêmico, mas autêntico.

Depois da amarga experiência vivida a frente da Secretaria de Cultura e Turismo, onde nada pode fazer para colocar em prática seus projetos sociais e culturais, Roberto pela segunda vez busca a capital, já que tinha se exilado, na década de 70, para não ser desmoralizado pela policia da Arena, que a partir dos anos 70, fez e fez acontecer; desceu o cassetete em todos que eram lideranças do MDB.

Não fora apenas dele, a decepção sofrida com o autoritário e corrupto Governo da Mudança (1996/2004), mas o bravo guerreiro que tanto lutou contra a arrogância e a violência da Arena, pagou com a mesma moeda, mas não contra os arenistas, já extintos desde 1996, mas contra seus velhos companheiros.

Roberto tem uma lista interminável de serviços prestados a Correntina, e ainda hoje, promove o teatro de rua, pois infelizmente, Correntina uma terra que vivia de cultura, teatro, bailes... teve sua casa de espetáculo demolida e transformada numa agencia bancária ! Nunca se esqueçam que foi o ex-Prefeito Almir Bispo quem vendeu ou cedeu, o Cine Teatro da Cidade para o Banco do Nordeste e hoje, Roberto é um sobrevivente da ditadura, da época de ouro da cultura correntinense, sobrevive as suas custas, promovendo musicais, danças, esportes; arrebanha jovens de várias faixas etárias, que se apresentam em suas temporadas, com um mínimo, ou as vezes nenhum, patrocínio, do comercio ou prefeitura local. Roberto consegue finalmente, sem nenhum vínculo político, formar grupos de jovens talentos para apresentações voluntárias e gratuitas, na rua. Alguns desses jovens surpreendem e são por ele, levado para capital; alguns como futura promessa de jogadores de bola, apresentados a clubes de Salvador, Brasília e Goiânia, com o intuito de seguir carreira.


Campanhas Eleitorais Arena X MDB

A derrota de Dr Lauro fora questionada de todas as formas; alguns cidadãos, testemunhas ainda vivas daquela pleito, asseguram que os boatos de irregularidades foram verdadeiros. Claudionor Ferreira da Rocha, assegurou e enfatizou:

- Pode escrever Tonho eu tava lá na apuração, era  um tal de comer cédula de votação... enfiar pelas calças ih! ah! Dr. Lauro foi roubado e feio!.

Canô nos descreveu, ali na presença de Josa, Tota, Napu e do próprio Arquiteto Veríssimo Araújo, filho de Dr. Lauro, tudo que assistira, na apuração daquele pleito; no entanto, não é o nosso propósito apurar o que aconteceu... já faz tanto tempo! O certo é que tais ocorrências mudou o destino desta terra. Se o Tribunal Eleitoral nada apurou, não sou eu quem vai dizer quem fez o que fez, ou quem deixou de fazer o que não fez.

Sei que já naquela década de 60, Dr. Lauro já falava na criação do parque ecológico do cerrado; em seu segundo mandato, por certo, seria criado um grande parque ecológico que protegeria a bioma do cerrado, com seus milhares de espécies de vida, animais e vegetal, o que jamais impediria que o desenvolvimento do município fosse um fato, responsável; o que certamente, hoje, estaria projetando Correntina para o mundo, por ter o maior parque ecológico no oeste da Bahia, fazendo fronteira com o planalto central. Foram planos que a Arena nos tirou; naquela época, na região do oeste baiano, havia um ou Federal, mas o deputado santamariense Adão Souza, aliado da Arena militar na região, não media esforços para fazer o que fosse preciso ser feito, para que a Arena colhesse resultados favoráveis a seus interesses; o nobre Deputado perdeu a oportunidade de entrar para história como herói do povo; preferiu nela estar como aliado da ditadura; pois não era fácil ser herói, diante de um regime duro e impiedoso, que assassinou tantos brasileiros, homens e mulheres que se levantaram contra a falta de liberdade de expressão e pensamento e nos deram por herança o País que hoje desfiguramos a cada pleito eleitoral.

Em Correntina a ditadura, através da Policia Militar, sob o comando da Arena e o governo local, amedrontava e desmoralizava os cidadãos oposicionistas, levando muitos a se refugiarem no canteiro de obras da Comissão do Vale do São Francisco, empresa federal responsável pela construção da segunda usina hidrelétrica na cidade. Por ser um território de uma empresa ligada ao governo federal, a policia tinha que ter autorização do Chefe local, ou do governo federal, para adentrar o espaço, o que não seria difícil de conseguir, mas até lá, o cidadão ou o Dr. Raul Arantes Costa, então chefe do canteiro de obras; tinha tempo para preparar a rota de fuga do cidadão político ou comerciante, perseguido pelo ditadura. Homens como os irmãos Ferreira, Pedro, Arnaldo, Liozío, Joélio de Araujo Ramos, João e Zezinho Binga, Joaquim Brotinho (Rocha) Clóvis Palmeiras, Zoroastro Campos de Magalhães, Argemiro, Deodomiro Silva, Lauro Joaquim de Araújo, o coletor Vanderlino Fagundes, Valdemar Rocha, Claudionor Rocha, e tantos outros, eram perseguidos.

Não fora Euclides Moreira Alves e Joaquim José da Silva os homens mais violentos a passarem pela administração municipal, isso viria acontecer mais tarde no Governo da Mudança do PMDB; Euclides e Joaquim foram governos no período, o que já era passado no governo emedebista. Embora   nesse período alguns tivessem suas casas invadidas pela política da Aarena, como o coletor Vanderlino Fagundes; sob alegação de busca e apreensão de arma de fogo. Óbvio que o coletou tinha arma de fogo e tinha também porte para seu uso e outros regugiados na Barragem, nunca houvera um assassinato, como ocorrera com o vereados Heitor Vieira de Alcantara, um dos ferrenhos adversário do então PMDB e que até hoje não se sabe quem mandou executar o vereador dentro de sua casa, na presença de seus filhos.

Dr. Raul Arantes Costa teve um papel fundamental, neste período, de perseguições políticas, acolhendo a oposição e não permitindo o acesso da polícia estadual, sem uma ordem federal ou judicial de busca e apreensão, ninguém tinha provas de que alguém estava escondido no canteiro de obras da Comissão do Vale do São Francisco e pela imensa área que era é o local, hoje sob a administração da Coelba, podia-se dizer que era quase impossível para quatro policiais encontrar um ou dois homens ali escondidos.


A Arena 1 e seus compositores genuínos, já conhecidos, nem de longe, aproximavam-se do competente grupo de músicos, poetas emedebistas, mas também registraram sua história.

Mas apartir daquele mandato tampão, em 1970, quando foi indicado Arsénio de Souza Ramos, (Maninho) uma das forças políticas do povoado do São Manoel, foi o primeiro candidato apresentado pelo MDB para concorrer as eleições pelo MDB. Estava selado o fim das disputas entre Arena I e Arena II e despe período de arenas, não tenho registro das canções e nem recorri aos velhos compositores em busca de tais registro, pois havia começado este livro como um passatempo e não um propósito, retirando da memória tudo que nela havia guardado e não sabia que tinha tanto assim pra contar. Enfim o MDB não precisava mais da “burca” arenista; o partido agora tinha liberdade, tinha identidade, nome, endereço e lideranças declaradas.

Do período ARENA e MDB resgatei as composições abaixo, com seus devidos autores.

O velho poeta e locutor da difusora A Voz da Esperança, Raimundo Martins da Costa – Iôzinho, assim convocou os militantes do partido para a grande marcha democrática.


AVANTE EMEDEBISTAS

Avante emedebistas é hora de votar
a luta nos conclama a nossa terra salvar
queremos um bom prefeito que possa bem governar
Arsénio Ramos na prefeitura nossa erra haverá de mudar.

Por um estado de direito Luta o MDB
Implantando a democracia, paz e justiça nós vamos ter.
Queremos um bom prefeito que possa bem governar
Arsénio Ramos na prefeitura nossa erra haverá de mudar.

Liozírio Ferreira, o mais consagrado compositor político daquelas campanhas, assim se expressou:


MANDA BRASA

Nós do ManDa Brasa
não temos medo de perder a eleição
porque a vitória já não é problema
o nosso lema é botar pra valera
vitória desta vez é do MDB


Eles tem mágoa tem por isso falam de alguém
e chegam até chorar fingindo sempre que ri
mas é mentira eu lhes posso garantir
corre corre desta gente não me deixa mais dormir...

A professora Éna Rocha; que mais tarde seria candidata a vice-prefeita no município, na chapa encabeçada por Almir Bispo, naquele momento era uma militante de peso; Dava-se as causas do partido de corpo e alma, compondo canções e ensaiando grupos de jovens para saírem em passeata pela cidade e município.

Em uma de suas tantas composições, nesta abaixo, ela apresentava os candidatos do partido, em sua maioria membros fundadores; numa alegre paródia carnavalesca, de um frevo pernambucano. As Vassourinhas; se não tiver cometido algum engano, assim cantava:




OS CANDIDATOS DO MDB

Arsênio e Roberto, Ivani, Argemiro, Clóvis e Seo Manoel
Reinaldo, Josias, Antônio, Joélio,

Zezinho e Ezequiel
São nossos candidatos respeitados e honrados
com eles vamos votar nessas eleições
com fé na Providência o MDB vai ganhar

Há 15 de novembro as urnas vão mostrar
que o MDB é forte trabalha com honra e sorte
e nossa terra há de melhorar.

Neste festival inédito de euforia, não poderia faltar o eterno Seresteiro, Claudionor Ferreira da Rocha, um ex-membro do legislativo local; um historiador de memórias descritas em canções e causos. Correntina não existiria sem esta brilhante figura, ou no mínimo, não seria a que foi e certamente deixaria de ser tudo que ainda é; se não existisse em seu seio, ele, que sem duvida tornou-se um mito popular, que atende pelo apelido simples de Canô.

Na política é uma testemunha ocular de tantos fatos ocorridos e como poeta, é o autor de canções de protestos e críticas aos adversários, como:


ARENA VAI PERDER

Arena você vai perder, porque você deve saber
chega de tanta promessa,
de tanto alicercei no chão
o eleitor já conhece isso acontece
em quadras de eleição.

Você mentiu ao eleitor desiludiu lhe enganou.
o MDB ressurgiu o povo então aderiu
MDB, MDB meu voto agora é prá você


Todo este entusiasmo não surtiu efeito positivo. O MDB perdeu sua primeira eleição por uma diferença de 325 votos. Joaquim José da Silva, ou Quinca de Santa, candidato pela Arena, foi o vencedor. Em 1972 o MDB volta ao cenário de mais uma eleição e ao que parece com força e maturidade para vencê-la. O poeta e ex-estudante de teologia Teófilo Guerra, retorna ao cenário político; tudo lhe era favorável no grupo arenista. Mesmo enfraquecida a Arena de Elias França, não tinha mais o grupo coeso em torno de si e sem opção de um candidato a altura para enfrentar o crescente entusiasmo do MDB no interior do município, antes foco de resistência arenista.

Teófilo Guerra voltara na hora certa e estava no lugar certo. Mesmo a contragosto, Elias Franca, aceitar a candidatura de Teófilo, entendendo de uma vez que seu período de liderança política havia chegado ao fim. Grande parte da família já residia em Goiânia e foi onde se refugiou o Sr. Elias, quando Guerra surpreendentemente ganhou as eleições e começou promover as mudanças que o levaria ao podium, na liderança do grupo, em muito renovado. 


Guerra surpreende até mesmo seus aliados, numa campanha em que somente ele ou talvez nem ele, acreditava em uma vitória. Foi eleito prefeito de Correntina, em seu primeiro mandato, (1972). Porém nessas eleições o MDB voltava com força total e com uma nova estratégia que lhe parecia imbatível. Plagiando o tempo da velha arena 1 e arena 2. O partido se dividiu em MDB 1 MDB2. Confiando na soma de votos de legenda e assim desmontar a imbatível estrutura herdada por Teófilo Guerra. Parecia certo que aquela estratégia iria surpreender os adversários, que de imediato partem para ofensiva, tentando anular o plano do MDB e caçar a candidatura de Joaquim Rocha, conhecido como Joaquim Brotim, que representava o MDB 2. O partido já cantava nas ruas a canção composta por Claudionor Rocha, entusiasmados:


QUEM TEM DOIS, TEM UM

Quem tem dois tem um
quem tem um não tem nenhum
Quem tem dois tem um
quem tem um não tem nenhum.

Vamos votar minha gente
vamos com o Manda Brasa
com os candidatos do MDB
Joaquim ou Zoroastro é quem vai vencerr
você vai vê!


Os nossos candidato nunca foram cassados
enquanto os arenistas foram e vivem ameaçado
Arena conversa é papo furado
não vá em conversa fiada
Arena aqui já era MDB agora é quem lidera.

Eram constantes viagens a Salvador, das lideranças partidárias, da Arena apresentando recursos para impugnação e do MDB 2, com as contra-provas pela legalidade de sua segunda legenda.

Foi assim que surgiu outra canção; quando o tribunal definitivamente confirma a legalidade da chapa encabeçada por Joaquim Brotim por uma votação de 7 x 0.

SETE A ZERO

O tribunal decidiu assim
sete a zero, sete a zero prá Joaquim.

O MDB agora está tranquilo
não vê mais o cantar do grilo
e agente pra desabafar
canta canta pra ele escutar

Quem canta desabafa falando de uma vez
quem ouve não se cansa
achando que é freguês
o grito do apelo era pra valer
mas o tribunal fez Arena padecer
vou dizer:

O tribunal decidiu assim
sete a zero, sete a zero prá Joaquim .

As ruas encheram-se em risos e fogos. Joaquim Rocha foi carregado pela multidão de sua residência até a residência de Dr. Lauro Joaquim de Araújo, junto com Zoroastro Magalhães. Pela primeira, o maestro Liozírio apresentava uma canção que não era inédita, no seu vasto repertório. Era uma paródia de uma marcha de carnaval chamada LERO, LERO, já que era comum as paródias que aproveitavam as canções e nelas vestiam novas letras.

BOMBEIROS APAGANDO FOGO!

Arena agenda um comício para o povoado do São Manoel, reduto do MDB e antes de sair para o São Manoel, desfila pela cidade em uma carreata com seu bloco de cantores, soltando fogos e cantando entusiasmadamente, exibindo em suas faixas uma que se dizia apagar o foto dos bombeiro. O ManDa Brasa, por sua vez realiza convoca a militância para um comício histórico na sede, naquela mesma a noite, que aconteceu na rua da fusaca, ou Goes Calmon.

Aconteceu que na volta para casa, uma chuva surpreendeu os bombeiros arenistas na subida do São Manoel, que dá acesso a rodovia principal. Carros atolados, mulheres e meninos na chuva e o corre, corre na cidade em busca de socorro. Os bombeiros estavam afogando na chuva. Liozírio Ferreira, além de maestro, compositor, também está em nossa história como primeiro motorista diplomado do município, junto com seu irmão Arnaldo Ferreira. Ao tomar conhecimento do ocorrido e numa inspiração instantânea compõe, uma canção fenomenal.

BOMBEIROS

Bombeiro apagando fogo
ao subir a ladeira a caminho de casa
a mangeira furou lá no meio da estrada
enquanto isso se passava
o MDB mandava brasa.

Agora já é tempo
já não tem o que fazer
só resta o desespero minha gente
e o respeito ao famoso MDB.

Não era o bastante, aquelas canções, enquanto pelas ruas e becos a temperatura sobe. O famoso MDB que nunca havia ganhado uma eleição, não pensava em outra coisa. As apostas entre os jogadores também garantiam a vitória do partido e um boato sinistro toma força nas ruas, assegurando que a Arena jamais perderia uma eleição em Correntina, enquanto eles tivessem vivo um bote preto, com o qual faziam suas “mandingas eleitorais”. Em outras palavras, o bote preto da arena era quem dava a grande certeza da vitórias do partido.

QUEM NÃO PODE VIRA BODE

Verdade ou mentira, não interessa a época e a origem dos boatos, o fato é que desta vez surge no cenário uma nova compositora e quem diria ! a filha de Seo Zeferino França, irmão de Elias França, o grande líder da Arena. Casada com o filho de Seo Ismael Alves, aliado do MDB desde a UDN do Major, provou que estava ao lado do marido, como prometera no altar. “Na saúde, na doença, na tristeza ou alegria” completa-se, “na política também”. Dona Hilda Alves, esposa de Seo Hélio, um músico apaixonado, que junto com Marquinhos Arantes criaram o primeiro trio elétrico em Correntina e que a idade, até hoje, ainda não conseguiu aposentar despontam no cenário musical com sucesso absoluto.


NÃO QUEREMOS GUERRA

Desta vez a coisa é diferente
o próprio povo é quem está prá frente
quando o povo quer ninguém mais pode
e quem não pode tem que virar bode! bis

Nem que chora nem que berra
só não queremos é Guerra

pois nos somos da paz
não podemos dá prá trás
Água mole em pedra dura
tanto bate até que fura
fura agora sim com Zoroastro ou Joaquim


Naquela época havia-se ideais, amor a causa e a terra. As canções eram obras de artes, inteligentes, que ganhavam os corações, embora nunca tivessem rendido votos para o velho MDB. O partido estava sempre no primeiro lugar nos corações do eleitorado da sede, mas desde aquela época, que o interior do município é quem, ainda, define uma eleição em Correntina.

A Arena continuava invencível e o povoado do Jaborandi, o grande colégio eleitoral do município, território arenista, disputado entre os Fogaças (MDB) e Moreira Alves, tendo a frente Euclides, pela Arena. Ali o MDB perdia todas as eleições.
Mais uma vez o MDB deixa escapar uma disputa eleitoral e assim foi em 70; 72; 76; 82; 88; 92; ufa!!! Enfim 1996 o PMDB, beneficiado por um racha ocorrido no PFL, chega enfim ao poder, com uma lavada de votos. Vários fatores concorreram para a vitória do já PMDB, porém a principal foi a neutralidade do então prefeito José Maria, eleito pelo PFL. O prefeito sentiu-se traído por seus aliados, responsabilizando-os pela campanha difamatória de que fora vítima, no que se referia as suas preferências sexuais.

Tudo isso tinha um sentido, uma razão obvia. O prefeito, muito amigo de seu secretário, em razões de serem funcionário da área de saúde; deixou clara sua intenção de apoiar José França, seu amigo secretário, como seu sucessor. O fato não representava nenhum risco para o município, afinal, Elias França foi levado a política pelo velho Major Felix, com quem se desentendeu por razões políticas e a indicação de seu sobrinho não era, de forma alguma, desaconselhável. Porém não afinava com as pretensões do PFL, que cuidou de queimar o candidato a candidato do prefeito. Não se sabe o boato sobre a homossexualidade do prefeito fora encomendada pelo PFL, mas sabe-se que o partido fez bom uso da campanha difamatória, onde matou dois coelhos com uma só cajadada.

O prefeito Dr. José Maria, em represália a situação ao que fora vitima, afastou-se do processo sucessório, José França perdeu todo o apoio que esperava e o fato deu ao PMDB a oportunidade sonhada, depois de tantas e tantas derrotas, ganhava sua primeira eleição. Certamente isso não ocorreria, SE a atitude do PFL, hoje Democratas, tivesse saído em defesa da honra de seu prefeito. Porém outras eram as conveniências políticas da liderança do diretório do PFL; José Maria não era mais bem visto no grupo e muito menos o seu amigo e secretário pessoal, José França, indicado para sucessão, logo o que se entendeu, é que o PFL tratou de queimar o Prefeito José Maria, diante da opinão publica e com ele, na mesma fogueira, ateava-se fogo no sonho de José França em um dia chegar ao Executivo do município correntinenseo. Seria e não seria um retorno dos Franças ao Governo, já que Oswaldo França, ex-vereador pelo grupo de Major Felix e irmão de Elias França, não rompeu com o Major, quando Elias dividiu o grupo, mas qual seria a tendência de Zé França? O consenso do Pai ou o autoritarismo do Tio?...

continua: A POSSE APIMENTADA  DE EUCLIDES.
Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 02/07/2009
Reeditado em 25/04/2013
Código do texto: T1679377
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