As Aventuras de Dionísio: Olhando pra mim

Dionísio abre seus olhos, assustado, olha ao seu redor, percebe então que está jogado no chão, em uma poça de lama, sobre uma forte chuva, acompanhada de intensas e contínuas trovoadas. Dionísio fica confuso, não sabe exatamente onde está e nem de onde veio, com muito medo, pensa que talvez esteja morto ou tenha sido alvo de algum assalto, alguma agressão, enfim, pensa em várias possibilidades, diante de tantas incertezas daquele momento. De repente, cai um relâmpado, ele vê um forte clarão e leva um susto tremendo; seus olhos se dilatam, seu coração dispara, sente um arrepio se estender por todo o corpo, pode-se ver o medo refletido em seus olhos. Bem distante, ao ficar seu olhar, percebe alguém vindo em sua direção, mesmo estando longe, ele pode sentir na terra, os passos rápidos e firmes daquele alguém, que para ele, naquele momento, nâo aparenta ser nada hostil. Apavorado, Dionísio levanta-se rapidamente e começa a correr em direção a floresta; sob forte chuva, escorregando na lama, retirando com os braços os galhos das árvores, seu coração está a mil, o desespero circula por todo seu corpo e tudo que pensa é em escapar, fugir, se livrar daquele inimigo que deseja lhe ferir. Enquanto foge, ele se pergunta, quem é ele, porque quer me ferir, será que fiz algo de mal e não me lembro, onde estou meu Deus...

Após alguns minutos de perseguição, Dionísio avista o que parece ser uma caverna, ele corre para dentro dela, removendo alguns galhos secos e conseguindo entrar com certa dificuldade. Lá de dentro observa cautelosamente o inimigo, que para, e começa a procurá-lo bem próximo de onde está escondido. Toda vez que caí um raio, um clarão se forma e desta forma, Dionísio consegue ver a face de seu inimigo; um Homem forte e barbado, com pranto sério e armado com um enorme facão. Dionísio se apavora ainda mais, chegando no limiar de borrar suas calças, já encharcadas pela chuva.

Após alguns minutos, que para Dionísio duraram horas, o Homem parece desistir e sai caminhando pela mata, voltando pelo caminho que viera, em direção a saída da floresta. Dionísio aguarda mais alguns minutos, para certificar-se que o inimigo realmente fora embora, então passado este tempo, decidi sair, agora um pouco mais calmo. Dá alguns passos, olha ao seu redor, e sente-se ligeiramente seguro e aliviado, enfim o inimigo partira e ele podia pensar com mais calma no que fazer, porém, de repente, sente algo tocar seu ombro direito, imediatamente olha para trás e para sua surpresa, era o Homem que lhe perseguira. Amedrontado, ele pensa em fugir, mas antes que faça, o Homem lhe pergunta;

- Por que fugiste de mim?

Dionísio, com a voz embargada e tremendo mais que vara verde, responde.

- Sentí medo, pensei que o senhor quizesse me ferir, não sei onde estou e nem porque estou aqui.

O Homem olhou fixamente em seus olhos e lhe disse.

- Tenha mais medo de você, do que de mim, enquanto não vencer o medo que tem dentro de você, será um eterno escravo dele e um prisioneira de sí mesmo.. Eu sou apenas aquilo que evita em sí e, enquanto fugir de mim, irá sempre temer a escuridão e apagar a luz que existe em você.

Dionísio ficou pasmo, sentiu aquelas palavras ecoarem em sua mente com tamanha profundidade, que esqueçeu até do medo que sentira naquele momento. Aquele Homem, que tanto temeu a alguns minutos antes, parecia ser mais um sábio, do que um carrasco.

Dionísio perguntou aquele Homem o seu nome e ele respondeu:

- Eu ainda não tenho nome, mas quando tiver, desejo me chamar Dionísio.

Intrigado e supreso, Dionísio respondeu.

- Que coincidência hein, este é justamente o meu nome!

Em seguida Dionísio continua.

- Posso saber onde estou? que lugar é esse? apenas me lembro que estava em casa e de repente vim para este lugar, só não me lembro como!

O Homem com expressão séria, disse.

- Me acompanhe, por favor!

Dionísio sem dizer uma palavra sequer, fez o que o Homem disse e o acompanhou, por incrível que pareça não o temia mais, no entanto estava intrigado e curioso em saber mais sobre o estranho Homem e o lugar desconhecido onde ele estava. Eles caminharam por algumas horas, em silêncio absoluto, com o facão o Homem ia cortando os galhos a sua frente para abrir caminhos, até chegarem próximo a um riacho; este tinha uma água tão limpa, que era possível ver profundamente. Dionísio novamente se surpreendeu, podia sentir a água correndo, como fosse em suas próprias veias, podia sentir a vida se expressando no fundo do riacho.

O Homem notou o quanto Dionísio ficara encantado e pediu para que ele olha-se fixamente para o fundo do riacho, ele não hesitou e fez o que lhe foi sugerido. Enquanto mais olhava, mais se desligava daquele lugar, até enfim, cair em sono profundo e começar a ver alguns fatos de sua vida. Dionísio viu-se em um quarto, chorando compulsivamente, etão o Homem lhe perguntou:

- Lembra-se!?

E ele disse:

- Sim, claro!

- E porque chorava desta forma? perguntou o Homem.

- Eu tinha 16 anos, tinha acabado de chegar em casa, estava chorando porque os garotos de minha sala disseram que eu era uma aberração.

E o que fez foi chorar? disse o Homem. Olhe dentro de você, se considera uma aberração? fez algo para ser chamado assim?

- Não. Disse Dionísio

E o Homem lhe disse.

- Então não chore pela maldade e incompreensão dos outros, porque o que eles julgam ser a sua fraqueza é sua maior força, e a maldade com que se comprazem agora, irá mostrá-los o quanto são fracos e ignorantes.

Um flash, estavam agora em outro lugar e em outra situação, Dionísio estava com seus amigos na rua, quando passou um menino, que se comportava com gestos efeminados, todos começaram a rir e humilhar o menino, inclusive Dionísio, que insistia em ser o mais exaltado, zombando daquele menino.

O Homem olhou seriamente nos olhos de Dionísio e disse:

- Qual caminho prefere seguir? Aceitar quem você é, e mostrar que ser diferente não o torna menos humano? ou, viver uma mentira, para agradar os outros, sustentar o preconceito e ser infeliz?

Antes que pudesse responder, o Homem lhe disse:

- Não responda pra mim, responda pra você e eu saberei.

Passado alguns instantes...

Era dia de aniversário de Dionísio, seus pais haviam enviado convites para todos os seus "amiguinhos", porém, nenhum deles apareceu e ele foi para o quintal decepcionado. Apareceu então aquele menino efeminado, o mesmo que fora ridicularizado por Dionísio e seus amigos e percebendo sua tristeza, lhe desejou feliz aniversário. Dionísio lhe perguntou como sabia e ele lhe disse que sabia, porque tinha visto um convite jogado no chão da rua. Dionísio se levantou rapidamente, desferiu um soco no rosto do menino e foi correndo para seu quarto.

Então, o Homem lhe perguntou:

- O que é mais fácil, encarar as suas fraquezas e seus medos, ou atacar seus semelhantes, humilhando-os e tentando rebaixá-los, para que possa se sentir superior e esconder o que é? Não responda... apenas reflita consigo mesmo.

Estavam agora muito distantes da Terra, o Homem então olhou para Dionísio, apontou para um ponto azul na imensidão do Universo e disse:

- Alí é onde você mora, é seu lar, é o lugar que você pode construir seu paraíso ou seu inferno. Enquanto não encontrar a felicidade naquele lugar, não poderá conhecer os infinitos mundos que se distribuem pelo Universo, a sua missão deverá ser cumprida neste ponto azul e enquanto não cumpri-la, irá se sentir perdido.

Em frações de segundos, viajaram novamente para a Terra, O Homem o levou para o alto de uma montanha. Então o Homem começou a lhe mostrar os detalhes da vida.

- Está vendo aquelas flores, cada uma tem um cor, algumas tem várias cores, cada qual tem um formato distinto e um número diferente de pétalas. Cada uma delas demonstra uma beleza diferente, algumas se tornam belas aos nossos olhos pela sua resistência e peculiaridade, outras por suas cores e formas. Algumas gostam do Sol, outras preferem as sombras, mas, independente destas diferenças, todas elas são flores, todas são belas de algum modo e todas certamente existem por algum motivo.

Dionísio, comovido, diz:

- É verdade, nunca tinha percebido todos esses detalhes, com tamanha naturalidade e profundidade que você vê.

E o Homem continuou:

- Está vendo aqueles animais, sabia que cada um é diferente do outro? eles não são iguais, cada um é adaptado a suas necessidades, e quando o ambiente muda, o tempo prepara seus ascendentes, para que no futuro estejam adaptados a uma nova realidade. Está vendo aquelas árvores, algumas tem dezenas de metros e folhas pequenas, outras tem apenas alguns centímetros e folhas bem maiores, tudo isso tem um motivo, esta diversidade e extende por vastas expressões, que poderíamos contemplar inifinitamente. Como tudo pode ser tão diferente, e diante de toda essa diversidade, tudo funcionar perfeitamente sincronizado? como pode?

Emocionado, Dionísio começa a se dar conta do quanto a vida é bela e importante e o quando ele a havia desperdiçado, escondido atrás de uma máscara, que só o fazia sofrer.

O Homem continuou a falar:

- Dionísio, tudo que tem visto está dentro de você, tudo que precisa para ser feliz também está dentro de você, lembra-se quando viu a Terra, como um pequeno ponto azul na imensidão do Cosmos? Então , toda essa grandeza é uma pesquena fração do mundo que habita em sua mente e este é o mundo que você precisa conhecer primeiro, antes de sair deste pequeno ponto na imensidão e viajar pelo desconhecido.

Após estas palavras, o silêncio tomou conta de ambos, Dionísio aprendera coisas maravilhosas, que aquele " estranho conhecido", lhe ensinara. Por fim, por fim o Homem disse suas últimas palavras, antes de partir:

- Dionísio, a chave está em suas mãos. Agora lhe pergunto, como o amor pode se expressar da mesma forma para todos, se tudo no universo é formado pela diversidade? O amor não escolhe sexos, porque ele em sí, não os tem, quem escolhe são os homens, por isso, siga os teus sentimentos e seja feliz a seu modo, não estará fazendo mal a ninguém, quando simplesmente, amar!